Professor de Física 2
Com um pouco de tom vermelho
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Recebi do dono da Mercedes uma
indenização que me permitiu viajar para Amsterdam em classe executiva e passear
pelas ruas de luz vermelha.
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Com o seguro de vida de Leonilda me
mudei para uma cobertura no Leblon. Continuei com as minhas aulas, só que agora
tinha carro com motorista. A pensão da falecida me propiciava esse luxo.
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Três meses se passaram até que me
fossem entregues, já no novo apartamento, os pertences de Leonilda, deixados
por ela em sua sala de trabalho: muitos livros de administração, diplomas de
cursos por ela realizados e seu computador pessoal. Uma carta esclarecia a
demora da entrega.
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O micro ficou muito tempo no meu
escritório junto ao terraço onde eu tinha a minha rede, e escutava bem cedo
pela manhã os bem-te-vis formando sua orquestra. Tentei acessá-lo, tinha senha
que eu ignorava, dominado pela curiosidade, providenciei um técnico. A rapidez
com que ele descobriu o código me espantou, apesar de eu não ser leigo no
assunto.
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Antes não tivesse aberto o PC.
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Lá estava uma Leonilda que eu
desconhecia.
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Um label chamado Red Lights além de
muitos filmes pornográficos de várias nacionalidades, mostrava a minha mulher
em transas cinematográficas com rapazes e até moças, onde Leonilda usava as
mesmas fantasias quando comigo, mas nesses vídeos ela ainda se travestia na
parte masculina.
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Outra pasta com o nome Boss, a
mostrava no gabinete do Diretor do departamento a praticar strip-tease e a
dança do pole na luminária vertical que decorava o ambiente. Era um homem bem
mais velho que Leonilda, já falecido.
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Vi, então, que seu curso de
especialização tinha sido realizado com aulas práticas que ela frequentava com
regularidade.
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Um número e letras apareciam em um
título com o nome Suíça, deduzi que fosse de uma conta, as letras, as iniciais
do nome do banco. Não foi difícil verificar o montante da dinheirama em euros
lá existente. Na outra semana, me licenciei dos colégios e viajei para Zurique.
De três em três meses, passei a fazer saques no quantitativo permitido por lei.
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Não sei qual a razão, o fato é que
uma sensação angustiante que jazia invisível começou a se apoderar de mim. No
inicio, eram devaneios sensuais com Leonilda. Acordava sobressaltado tal o
sentimento de sua presença. Passei a tomar pílulas para dormir com medo dos
sonhos recorrentes.
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Receoso de consultar um psicanalista
e de revelar o meu segredo de culpa da morte de Leonilda, me refugiava em
comprimidos. Consegui me acalmar com doses mínimas nos primeiros meses, logo
elas já não eram efetivas. Dormia pouco, tornei-me irritadiço, os alunos
detestavam minhas aulas, terminei por ser afastado dos colégios.
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As férias forçadas agravaram o
quadro, mais tempo para pensar e recordar a cena de Leonilda despencando do
quinto andar do estacionamento.
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Nunca tive remorso dos acontecimentos
daquele dia. Com mais razão agora, sabendo ter sido traído praticamente durante
todo o meu casamento.
Talvez a terapia pudesse resolver
minha questão existencial, mas minha lógica de professor me fazia crer que eu
próprio iria encontrar a solução.
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Logo que nos casamos queríamos um
lugar perto do Rio para passar férias, encontramos uma casinha na praia de
Maricá, bem ao lado de outra enorme, abandonada no meio da construção. .
Pagamos um preço bem abaixo do
mercado, depois ficamos sabendo que o casarão pertencia a um jovem casal de
noivos que brigaram por ciúmes e a jovem assassinara o namorado. O povo de lá
acreditava que o local era assombrado.
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Leonilda era uma excelente nadadora
desde os tempos do Colégio Vera Cruz. Somente ela e mais dois rapazes
mergulhavam na piscina, pulando do prédio ao lado no quarto andar. Uma vez
tomei coragem e fui até lá, ao ver do alto o pequenino retângulo azul, fugi
correndo. Hoje sei a razão de ela não ter sentido medo ao ficar tão perto do
parapeito da garagem do Shopping e me questiono se ela não quis dar um último
mergulho.
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Minha mulher praticava pesca
submarina, eu a acompanhava nas idas a Ponta Negra, bem próxima de nossa casa,
de longe a admirava ao vê-la mergulhar no mar bravo em busca de sua presa
apesar da água escura.
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Peguei o automóvel, fui a Maricá
resolvido a ficar lá por uns dias.
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Consegui um sono tranquilo na
primeira noite. Pela manhã de costas para o sol, caminhei na direção de Ponta
Negra, os pesadelos voltaram fortes mesmo eu desperto. O que eu sentia,
descobri: não era arrependimento e sim um tremendo ódio pela mulher que tinha
amado por tanto tempo, e este sentimento retornava para mim cruelmente.
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A manhã estava linda em Maricá, o mar
azul ciano refletia o sol em uma nesga dourada.
O gradiente da praia de Maricá cai
abruptamente a poucos metros da areia.
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O convite a um mergulho, irrecusável.
A Água fria acalmou minha cabeça, cada braçada a percepção de alívio.
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Tanto tempo sem o bem-estar em meu
corpo, me fez esquecer que não era mais jovem, o cansaço tomou conta, pensei em
retornar à areia, estava longe. De repente, vi Leonilda, nua ao meu lado,
envolta em uma luz púrpura murmurava:
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- Amor, eu vim buscar você, você
sempre foi meu único amado. Venha, querido.
Sorri o sorriso besta do corno
manso...
Autor: Munir
Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com