terça-feira, 30 de agosto de 2011

ARTIGO DO JOSÉ FRAJTAG

TRADUÇÕES ERRADAS EM LIVROS E FILMES

Concordo que os títulos em português não precisam ser exatamente a tradução exata do original, mas não pode ser um equívoco ridículo! Essa lista mostra várias pisadas no tomate. Algumas são hilariantes.
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A Room of Ones’s Own- Livro De Virginia Wolf 1929, ao invés de “Um Quarto Só Seu”, foi traduzido como “Um Teto Só Seu” em 2006, com um sentido totalmente diverso da intenção da autora.
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After Hours- Filme de Martin Scorcese de 1985, traduzido como “Depois de Horas”, quando deveria ser “Após o expediente”. Basta ver o filme, que por sinal é excelente e fica tudo muito claro. Tudo acontece após o expediente de trabalho do personagem.
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Cast Away- Filme de 2000 com Tom Hanks foi traduzido como “Náufrago”. Acontece que basta ter visto o filme para saber que não há nenhum naufrágio no filme e sim um acidente de avião. Segundo o “Houaiss”, Naufrágio é o afundamento de uma embarcação e não de um avião. Castaway, tudo junto significa realmente “Náufrago”, mas Cast Away separado, que é o nome do filme, significa “Abandonado”, quando usado para pessoas, ou “Descartado” quando se trata de um objeto.
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Clearance- Vi na versão dublada do filme “Splash” uma cena em que a lindíssima Daryl Hanna via na TV um locutor fazendo propaganda de uma liquidação. Ao fundo lia-se em letras grandes “CLEARANCE”. Na tradução aparecia: Grande liquidação das lojas Clearance. Clearance, não é nome de loja e significa, como todo mundo deveria saber entre outros sentidos: “Liquidação Total (Para Entrega das Chaves)”. (Será que o tradutor confundiu com o nome Clarence?)
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Cold Feet - Num episódio de um seriado na TV, um casal estava prestes a se casar, porém o futuro marido não compareceu à cerimônia. Foi quando um personagem (amigo do noivo) disse: Maybe he has cold feet. No entanto, a tradução foi incorreta, aparecendo na legenda "Talvez ele tenha pé frio". O real significado desta expressão é: "Talvez ele esteja com medo".
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Courting Troubles- Livro traduzido como “Problemas na Corte” quando deveria ser ou “Atraindo Problemas”
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Enemy Mine- Filme de Ficção científica de 1985 com Denis Quaid. Foi traduzido como: “Inimigo meu”, quando deveria ser “Mina de Inimigos”. Bastaria ter visto o filme para ver que se passava numa mina existente em outro planeta, ocupada por bandidos interplanetários.
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Feast- Há na NET em 2007 um programa de TV sobre receitas aliás muito bom, chamado Nigella Lawson Feast que foi traduzido como “Festa de Nigella”. Deveria ser: Banquete ou Comilança de Nigella.
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Fortune- Uma tradução terrível que me chamou a atenção foi no filme Romeu e Julieta, em nova versão com Leonardo de Caprio. Em uma cena logo após Romeu ter matado o primo da Julieta em que ela diz: Oh, fortune! e a tradução foi: Oh, fortuna! Nesse caso a tradução correta seria: Que triste destino!
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Get That Done- No Seriado "Grounded For Life", na Fox. Fala Original: Get that done! Tradução Adequada: Termine isso! Tradução do Canal: Pegue a boneca! (Detalhe: os personagens estão no meio da rua carregando canos e não há nenhuma boneca na cena.)
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Go!- O brasileiro ao jogar basebol nos EUA pela primeira vez, ouve a torcida gritando Go! Go! Go! para ele. Ele crente que havia feito uma jogada genial ficou comemorando o “Gol”. Quase levou uma surra pois a torcida gritava “Corra” e ele ficava parado comemorando.
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Horseradish-Num filme do Gordo e o Magro, o Gordo diz na tradução que gosta de “nabos equinos”, em vez de raiz forte!!
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The Godfather- Aqui no Brasil virou “O Poderoso Chefão” Nada contra, mas juro que vi alguém reclamar que deveria ter sido “O Deus Pai”!!! O certo é “O Padrinho”, que aliás foi o nome em Portugal.
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I’m a middle aged man- Foi traduzido como: “Sou um homem da Idade Média” em vez de “Sou um homem de meia idade”.
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Lock Stock and Two Smoking Barrels- Virou “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”, quando poderia ser mais bem traduzido como “Armas Fumegantes” ou ainda “Barba cabelo e bigode”. Lock, Stock and Barrel são os nomes das partes de um fuzil ou mosquetão, mas formam também uma expressão idiomática que significa simplesmente TUDO! Um assaltante pode dizer assim: ”Give me everything: Lock, Stock and Barrel”.- “Quero tudo!Vou fazer barba, cabelo e bigode”. A expressão apareceu na Guerra Civil Americana quando os fuzis vinham da França, separados naquelas três partes para serem montadas na América.
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Magnifying glass-Lente de aumento mas é muitas vezes traduzido como copo magnífico!

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MARS BAR-Há muito tempo, assisti a um filme em que as pessoas estavam falando sobre o que mais gostariam naquele momento. E o protagonista respondeu "I WANNA A MARS BAR". A tradução foi "Eu quero abrir um bar em Marte" em vez de "Eu quero uma barra de chocolate MARS".
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Miss-(Miss) –No filme “Do que as Mulheres Gostam” em que Mel Gibson aparece numa cena num jogo de futebol, ele grita: Miss!, Miss!, Miss! Na legenda, aparece: Moça!, Moça!, Moça!, quando na realidade ele torcia contra: Erre!, erre!, erre!
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Mississipi-No filme UM SONHO POSSIVEL Sandra Bullock fala: One Mississipi, two Mississipi, three Mississipi, etc. A traduçao não é obvia, tal como aparece nas legendas e deveria ser: No primeiro segundo, no segundo segundo, no terceiro segundo...
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Mourning Becomes Electra- Peça de Eugene O’Neil – traduzido como: “E Electra chegou ao amanhecer”, quando seria: “Electra fica bem de luto”. Confundiram com Electra came in the morning.
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Natural gift-No filme "Antes do anoitecer" (Before night falls), há uma cena em que a professora do protagonista vai visitar sua família e comunica ao pai que o filho tem "A NATURAL GIFT", referindo-se ao talento ou dom do jovem para a literatura e que foi traduzido por "um presente natural", sendo repetido algumas falas depois.
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Please, I want to cut may hair- Minha cunhada disse isso ao entrar no salão de beleza na Califórnia. O cabeleireiro lhe deu uma tesoura e respondeu: Of course dear, use it, but be carefull! Lógico que ele a entendeu e quis brincar com ela, mas ela deveria ter dito: Please I want to have my hair cut.
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Pomp and Circumstance
- A famosa e lindíssima música de Elgar pode até ser traduzida literalmente, mas o sentido correto é “Pompa e Solenidade”.
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Say Cheese- Um pai pronto para tirar o retrato da família reunida e pedindo a todos: “Digam queijo!”. E o pior é que todos disseram entre dentes: “Queijo!”. Lógico que aqui se diz “Diga giz”!
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She must be dynamite in the sack!-Tradução Adequada: Ela deve ser dinamite na cama! / Ela deve ser uma fera na cama!Tradução errada: Ela deve ter dinamite nas bolas!
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Strong Gums- Num filme das “Panteras” uma delas após agarrar uma corda com os dentes diz que tem Strong Gums, e traduziram como “Borrachas Fortes”!!! O certo é que ela tinha Gengivas Fortes!
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The Best Man- Titulo do livro que é no singular e foi traduzido no plural como “Os Melhores Homens”. Mas na verdade seria “O Padrinho de Casamento”

The Catcher In The Rye-Famosíssimo livro, “The catcher in the Rye”de J. D. Sallinger, foi traduzido ao pé da letra por “O apanhador no campo de centeio”, o que nada significa. A tradução correta seria algo como uma “Uma Agulha no palheiro”, que é aliás o nome desse livro em Portugal. Catcher, é uma pequeno colheitadeira manual, que seria difícil de achar perdida num campo de centeio.
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The Importance of Being Earnest- Livro de Oscar Wilde transformado em filme. traduzido como: “A Vantagem de ser Ernesto”- quando seria: “A Vantagem de ser Sério ou Prudente”. Existia um personagem principal que se chamava Ernest. (Wilde queria fazer um trocadilho) o que deu margem à confusão.
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The Physician- Famoso livro de Noah Gordon- Incrívelmente traduziram como “O Físico” - Basta ter lido o livro para saber que deveria ser “O Médico” - Será que o tradutor do texto não é o mesmo que traduz o título?. Physicist é que é físico.
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The Unbearable Lightness of Being - Livro de Milan Kundera, que virou filme. Traduzido como: “A Insustentável leveza do ser”, quando seria: “A insustentável leveza de ser”. Estariam certos se fosse of a Being.
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The Unforgivings - Titulo de filme Western com Clint Eastwood. Deveria ter sido traduzido como “Os Implacáveis (Os que não perdoam)” mas foi como o oposto “Os imperdoáveis”, ou que não podem ser perdoados. Confundiram com Unforgivable, que significa imperdoável, o que é imperdoável.
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Universe in a Nutshel - Livro de Stephen Hawking, foi traduzido literalmente para “Universo em uma Casca de Noz” que para nós nada significa. O certo seria “Universo em Poucas Palavras”, ou “O Universo Simplificado”, embora eu concorde que o titulo errado é instigante e vende muito bem!
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Watch your Step! -Em muitos filmes esta frase é traduzida como “Olhe o degrau” quando é “Cuidado!" Ou "Olhe onde pisas”.
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Warden - Nos filmes americanos ou Ingleses, que aqui passam, geralmente os carcereiros, ou diretores de presídio tem o nome de Mister Warden. É um erro grosseiro de tradução pois warden significa diretor de presídio ou carcereiro!
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You are Fired - É difícil de acreditar, mas soube que alguém traduziu como: Você está pegando fogo!

Autor:José Frajtag
E-Mail: josefrajtag@ymail.com

sábado, 27 de agosto de 2011

CONTOS DO MUNIR 73-O VENTO E O CRIME

O VENTO E O CRIME
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João acreditou que estava em uma loja comprando móveis para o ar livre. Ficou um pouco surpreso quando os dois grandões na porta perguntaram o que ele queria. Candidamente disse: – Vim atrás de uma cadeira! – a porta foi aberta.
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Gostou de uma cadeira e procurou sentar-se. Achou estranho que, no terraço onde se encontrava, houvesse uma pista de pouso de helicópteros.
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Apareceu um cara dizendo que a cadeira era dele e foi sentando. João o segurou pela gola do paletó e disse: – Não é não! – o cara se debateu e, como estavam junto à grade do terraço, acabou caindo do vigésimo sétimo andar. João virou-se pra ele falando: – Não tive a intenção de jogá-lo, veja se você não se machucou... – o cara: – É tarde! Já estão abrindo o buraco e vão me colocar lá dentro.
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João espiou: dois homens de macacão cinza e pás abriam, com precisão geométrica, um retângulo na terra para enfiar o caído.
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Homens de terno começaram a chegar e a tomar lugar na grande mesa. O líder do grupo, olhando para João, perguntou: – Cadê o Eriberto? (o cara ao lado de João sussurrou no ouvido dele: – Sou eu – e desapareceu).
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João, cheio de arrependimento, contou que sem intenção o havia jogado lá embaixo. O chefe: – Que pena! O Eriberto era um cara “vira” (“vira”, de vira-resultados). João tentou se explicar, relatando que viera atrás de uma cadeira. O líder o interrompeu: – Pode ficar com a do Eriberto! “Quem vai ao ar perde o lugar”, o pessoal da limpeza já está cuidando de tudo.
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João sentou-se à mesa e um dos presentes, apontando com uma caneta laser, começou a mostrar gráficos dos últimos lucros, os demais assentindo com a cabeça.
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O chefe comentou com João que Eriberto havia contribuído muito para aquele resultado e esperava que nos próximos três meses, quando se daria a próxima reunião, ele se mostrasse tão “vira” quanto o desaparecido. Foram distribuídas pastas com documentos e envelopes lacrados. João ficou com os de Eriberto.
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Havia saído de seu escritório de corretor de imóveis e, decorridas cinco horas, voltava tendo cometido um assassinato, portando uma pasta com um punhado de diamantes e instruções contidas nos envelopes, ininteligíveis a ele.
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João pensou em dar parte à polícia. Logo refutou o pensamento – ele é que tinha cometido um crime e aquela turma, do jeito que encarou a morte de Eriberto, não o perdoaria. Copiou uma parte da instrução, aquela que continha símbolos que ele conhecia. Iria mostrá-la a um amigo seu, PHD em matemática. Guardou tudo no cofre do escritório.
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No dia seguinte, almoçando com o matemático, mostrou o que tinha copiado; seu amigo, espantado, perguntou onde tinha conseguido aquilo, explicando que era uma sequência de uma série de algoritmos em linguagem híbrida, específica para a Bolsa de Valores, e quem tivesse prática e soubesse utilizá-la, poderia ganhar uma fortuna. Em linguagem natural, simplificada, seria mais ou menos assim:
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1 - Obtenha códigos de investidor, escolha em pregão da Bovespa. 2 - Selecione papéis dentre os mais negociados de cada inicial alfabética. 3 - Compre X de cada um de dois papéis que tenham variação diária +/- 4,50%; para comprar estabeleça valor pouco inferior à cotação presente e faça oferta de compra por 30 dias nesse valor. 4 -Venda no máximo Y por investidor, por mês; para vender estipule um valor pouco superior à cotação presente e faça oferta de venda por 30 dias nesse valor. 5 - Aplique o lucro em renda fixa.
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João meditou: não é o meu caso...
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Acompanhou à tarde alguns clientes e, como era um experimentado corretor, finalizou a venda de dois imóveis. Não voltou ao escritório neste dia. Na manhã seguinte, ao abrir o cofre, viu que os envelopes haviam desaparecido. Apenas um, com seu nome em lugar do de Eriberto, estava lá. O punhado de diamantes, intocado.
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Começou a ler o que estava escrito. À medida que lia, as palavras desapareciam; era um agradecimento à sua presença na reunião e a dispensa de comparecimento à próxima, e que talvez ainda precisassem dos seus serviços.
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João suspirou aliviado.
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Os diamantes foram negociados paulatinamente e o produto da venda doado a instituições beneficentes.
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Esta história passou-se na madrugada do dia seguinte à queda de bicicleta, quando João regressava do Arpoador para o Leblon. Ao passar na ciclovia em frente à rua Francisco Otaviano, uma rajada de vento noroeste de mais de setenta km/h arrastou lateralmente a ele e à bicicleta na direção da amurada, obrigando João a cair para não se precipitar de uma altura de três metros. Ficou imobilizado, a perna esquerda presa como em um golpe de judô. Foram necessários dois homens fortes para retirá-lo; as escoriações foram leves.
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O jantar de João naquele dia foi regado a bons vinhos. O cardápio: lombinho com abacaxi, rabada com agrião e polenta, e a sobremesa pudim de goiabada com sorvete de queijo.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

terça-feira, 16 de agosto de 2011

CONTOS DO MUNIR 72: O PROFESSOR

O PROFESSOR
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Era professor de matemática em um colégio religioso. Ensinava em mais quatro, compensava assim o baixo salário... No fim do mês pouco restava. A motoneta, fácil de estacionar, lhe permitia chegar a tempo às aulas.
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Quando menino morava em uma comunidade da Tijuca, depois, formado, trabalhando e subindo na vida, mudara-se com sua mãe para a descida na entrada da rua. Agora não tinha mais tempo nem para capoeira e futebol
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Negro, de olhos castanhos escuros, um contraste; a esclerótica tão branca como seus dentes de marfim. Porte atlético, bem afeiçoado, raspava os cabelos, o que o fazia parecer um faraó. Embora fosse da geração dos Lucas, Tiagos, Washingtons, Davis, Wellingtons, Rooselvelts, Jeffersons, Clevelands, seu nome, Benedito. Vinte e cinco anos, mestrado em Matemática, formando em Engenharia Mecânica.
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Luiza, dezesseis anos, morena, olhos claros, cabelos soltos moldando a beleza de seu rosto, juventude explodindo em seu corpo sarado de Academia, atrasada nos estudos. O pai, um diplomata, recém chegado de um país africano, veio morar na zona Sul do Rio de Janeiro.
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Era inteligente, mas, a falta de base, transformava as equações de segundo grau em um mistério mais indecifrável que os cinco mistérios do terço que ela rezava na aula de Religião. Frequentemente se socorria com o professor. Ele, paciência franciscana, atendia, sacrificando algumas vezes seu tempo de almoço. Não se arrependia, a proximidade da jovem o animava.
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Havia pensado em desistir de dar aulas por causa da baixa remuneração, mas ficava gratificado ao ver que alunos que solicitavam sua atenção obtinham bons resultados.
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A índole, a tolerância e o bom humor de Benedito, o tornaram estimados por todos os alunos.
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Certa vez, na aula em que ele procurava demonstrar o Teorema de Pitágoras, desenhando no quadro negro, de costas para a turma, ouviu:
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“Esse Pitágoras era um matemático filho da P...”
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Benedito reconheceu a voz do Trindade, um menino inteligente e que detestava Geometria.
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Virou-se e perguntou - “O que você disse Trindade?”
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E o Trindade:
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“Eu disse que Pitágoras era um matemático de Siracusa.”
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A turma caiu na gargalhada.
Então, o mestre esclareceu que Pitágoras era grego de Salmos, uma ilha, e que o aluno tinha certa razão, pois consta a lenda que o geômetra formulara seu teorema quando ia com os netos a caminho de Siracusa.
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Trindade ficou sério, e mais tarde foi pedir desculpas. A partir desse dia, melhorou muito suas notas em geometria.
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Luiza conseguira entender e resolver as equações do segundo grau, entretanto ainda buscava o professor, sentia-se atraída por ele. Benedito gostava que ela o procurasse, já não a via só como aluna, mas também como mulher, Luiza usava um perfume suave e feminino, que ele aspirava com prazer.
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Luiza, atrasada para a aula da academia, viu o professor no pátio, pronto para sair na sua motoneta. Perguntou se ele não poderia lhe dar uma carona. Benedito alegou que estava sem outro capacete e além do mais não ficaria bem dar carona para uma aluna. .
Luiza insistiu que eram somente três quadras e que estaria esperando por ele do lado de fora do colégio.
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Carona dada, Luiza abraçou, com força além da necessária, o corpo de seu condutor.
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Os pais de Luiza não tardaram a perceber que a mocinha passou a chegar do curso de inglês mais tarde do que de hábito.
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Um detetive contratado passou a segui-la, uma foto foi mostrada aos pais da moça. Ela, de capacete, na garupa da motoneta na entrada de um motel.
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A denúncia foi levada à polícia e ao colégio. Benedito perdeu seu emprego, e passou a responder a processo por abuso sexual de menores.
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Tratado em sigilo pela escola, os prejuízos foram restritos, não atingindo os outros colégios.
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Benedito, por determinação judicial, foi proibido de se aproximar de Luiza que, entretanto, não deixava de com ele se comunicar usando celular e redes sociais.
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O processo se arrastava na Justiça.
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O antigo mestre, agora engenheiro mecânico de capacidade inventiva, montou uma oficina. Patenteou e iniciou a fabricação de uma colher de sorvete aquecida que permitia eliminar a gordura hidrogenada.
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Luiza completou dezoito anos. Deixou a casa dos pais e foi morar no apartamento novo que Benedito comprara. Breve os pais de Luiza eram avós.
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A mãe de Luiza adorava a criança, o pai, por orgulho se mantinha distante, acabou se rendendo ao sorriso brejeiro da menina.
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Os pais de Luiza tentaram desistir da ação, o Ministério Público negou.
Ao julgamento compareceram: Luiza e o marido, empresário Benedito; os pais de Luiza, embaixador Azevedo e esposa; a reitora do colégio e a antiga classe; o Trindade lembrando a história do Pitágoras.
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Benedito foi condenado, por quebra de ética a prestar serviços assistenciais em escolas públicas (o que ele já fazia).
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O Trindade convocou seus colegas, ali mesmo na sala do Tribunal para que se apresentassem como voluntários. Foi aplaudido com entusiasmo.
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Esta história, baseada em fatos verídicos passou-se na época da Lei Afonso Arinos e da reserva de cotas nas Universidades, que demonstram a discriminação ainda latente.
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Se o professor fosse rico, ensinando inglês, filho de americanos e em vez de lambreta, tivesse um Malibu, provavelmente não haveria queixa à polícia e a história teria outro final.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

CONTOS DO MUNIR 71 - VISITA-Final e Epílogo

Visita Final e Epílogo
A regra dos três “S” da boa presença: “Surgir, Sorrir, Sumir”.

(A regra dos 3 S vale não apenas para a boa presença, mas também é uma "arte da conquista" feminina!)

Fred sentia muito a falta de Nicole. Entretanto, sua busca não poderia parar. Tinha um prazo definido para seu retorno. As mensagens, recebidas nos seus desmaios, o lembravam sempre.
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Empreendeu só as caminhadas. Pouco antes do nascer do sol, cruzou novamente o Canal da Visconde de Albuquerque, uma subida íngreme pela Rua Aperana o levou até o local chamado Sétimo Céu. O dia sem nuvens. O crepúsculo matutino dourava o horizonte a leste. Estava em um platô de onde se via do Leblon ao Arpoador. O sol subia rápido iluminando o mar azul. Achou mais bonito que o por do sol, quando o pessoal na praia em Ipanema batia palmas.
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No platô, um memorial: Uma placa de vidro de quase dois metros e de grande espessura lembrava, com igual número de andorinhas em vôo, incrustadas em seu interior, as vítimas do acidente aéreo ocorrido em 2009.
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Foi almoçar, nesse dia, em um dos restaurantes da Dias Ferreira, um verdadeiro Pólo Gastronômico. Os melhores Chefs do Rio e São Paulo ali se fazem representar: CT, Sushi Leblon, Quadrucci, Carlota, Zuca, Doce Delicia, Manekineko e outros tantos. Alguns, até famosos, oferecem almoço executivo.
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Deixou para a parte da tarde os bares: Tio Sam, Belmonte e Azeitona, (lembrou-se que Nicole havia dito que no Carnaval sambara lá com uma passista da Mangueira), outro boteco também chamou sua atenção: o Chico e Alaide.
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Com Nicole ausente, estabeleceu uma rotina, tomava seu café da manhã, que era excelente, no hotel, caminhava até a praia, às vezes alugava a bicicleta ou ia a pé até ao Arpoador. Acabou se enturmando com os locais de lá, onde ficava conversando na praia, ou no quiosque de um camarada sempre mal humorado (achou que era por isso), chamado Napoleão.
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Seu almoço, quase sempre na Dias Ferreira, ou, caminhando um pouco mais, ia à Conde Bernadotte, repleto de bares e restaurantes, onde TVs transmitiam jogos de futebol de canais exclusivos. Um bar de sucos orgânicos era muito apreciado. Por receio, não quis experimentar.
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À tarde, ia ver se Nicole voltara, como sabia que ela gostava de Livrarias, passava pela Argumento, que também tem um Café nos fundos o Severino. Lá uma plaquinha indicava: Café do Próximo-2 (o dois escrito a giz). Perguntou o que era: “Uma tradição vinda de Praga, onde, certa vez, alguém deixara um café pago, para quem não tivesse trocado para pagar”.
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Em um sábado, ao voltar da praia, viu Nicole caminhando em sua direção, usava malha preta de ginástica, quase não quis parar. Fred insistiu para tomarem um café no Armazém. Ficaram ali conversando. Fred notou seu rosto marcado por duas manchas roxas, ela explicou: Era da máscara de esgrima. Parecia mais de agressão. Marcaram um lanche no Garcia & Rodrigues.
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A capacidade de recuperação de Nicole era incrível, quando veio as manchas roxas já não mais existiam.
Os dias seguintes foram de extrema alegria para Fred, Nicole conduzia Fred pelos locais mais atraentes do Leblon.
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À tardinha iam a algum bistrô, foram ao Stuzzi, Balada, Venga, Bracarense, nenhum dos dois tinha o hábito de jantar. Nicole gostava de comida japonesa, Fred só comia o que não fosse cru.
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Ao cinema, no Kinoplex do Shopping Leblon ou no Cine Leblon. Quando Nicole não gostava do filme, nada dizia, saía para comprar pipoca e comer do lado de fora.
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Certo dia, caminharam pela Ataulfo até ao Jardim de Alá. Fred contou dezoito farmácias, achou o local bonito, digno do nome. Alá talvez não estivesse contente com o tratamento dado àquele seu recanto.
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No retorno, viram os edifícios dos jornalistas, lembrou-se que o Cacá, um dos frequentadores da mesa da Pizzaria Guanabara, provavelmente o único não rico de dinheiro, mas milionário de coração, havia dito que morava ali.
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Entraram no Alemão e Nicole, abrindo uma exceção, dividiu com Fred um mil folhas (ela não comia doce).
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Já haviam saído juntos inúmeras vezes, Nicole sempre o acompanhava até a porta do hotel. Desta vez, disse querer subir. Fred ponderou que não valeria à pena. Sua rotina era desmaiar, ainda pelos efeitos da viagem, tão logo avistasse sua cama. Nicole, insistindo, subiu com ele.
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Como Fred havia previsto, deitou-se ainda vestido e entrou na espécie de coma que o acometia diariamente. O efeito duraria ainda por mais uma semana ou duas.
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Fred despertou ao raiar do sol infiltrado pelo blecaute da cortina.
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Estava nu, seu corpo untado com um óleo aromático, deitado em um lençol de cetim negro, os braços em cruz, os pulsos algemados na cabeceira do leito. Nicole, na borda da cama, os seios cobertos somente por suas melenas louras, a expressão inusitada e plena de felicidade, disse:
“Tive que prender você, estava muito agitado, receei que se machucasse, não se assuste, já vou soltá-lo.”
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Inclinou-se sobre ele, os braços estendidos para liberá-lo das algemas, o torso nu a tocá-lo. Fred sentiu o corpo de Nicole perfumado de óleo de morango.
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Fred viu, surpreso, na axila direita de Nicole o símbolo do anel incompleto, na fenda, três órbitas a se cruzarem. Perguntou a Nicole se sabia o que aquilo significava.
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Nicole iniciou sua história: “Meu pai era um Naturalista na terra em que nós nascemos. Foi o descobridor da vacina para vegetais comestíveis que acabou com os transgênicos e os orgânicos. Íamos para a Amazônia em busca de um fitoterápico. Uma forte tempestade solar nos fez mergulhar no oceano, nas proximidades de Fernando de Noronha, papai desapareceu, minha irmã caçula e eu fomos recolhidas por um helicóptero da Força Aérea. Alguns anos mais tarde, minha irmã, não resistindo às variações gravitacionais, veio a falecer. Casei, tive o menino que você viu, me divorciei.
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Agora... encontrei você!!!”
VISITA EPÍLOGO
Surgir Sorrir Sumir
Fred e Nicole estavam vivendo dias maravilhosos...
Entretanto, o tempo de permanência de Fred se esgotava. Recebia frequentes mensagens de alerta para que regressasse, corria o risco da impossibilidade de volta e a consequente perda de vida quase perene. Para Nicole a volta já era impossível, ambientada na terra, não suportaria a viagem.
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Fred, mesmo cativado por Nicole, optou por regressar. Forçou o rompimento e escreveu:



Resposta de Nicole para Fred
TERRA
Se a terra é boa.
Fique
Cultive-a
Plante a árvore
Veja-a nascer e crescer
Dar frutos
Espere
Até que estejam maduros
Para colhê-los
Eles serão saborosos
Suas sementes
Perpetuarão sua vida
Se a terra é boa
Conserve-a
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Madrugada de uma quinta-feira... setembro... Praça Antero de Quental... Leblon
Fred configura os sistemas de seu veiculo espacial para a longa viagem de regresso ...
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Fred abraça e beija Nicole...
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Ambos veem a partida da nave...vazia
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ARTIGO DO GUI-PÁGINA DA VIDA

PÁGINA DA VIDA

Hüber, avô, alemão impertigado, trabalhava no centro do Rio, em alto cargo da firma Hermz Stoltz. Criou filhos com muita ordem, progresso e amor. Era uma época em que existia família, casa, varanda, jardim, quintal, animais domésticos, calçada, praças, vizinhos, inclusive pessoas humanas. As meninas estudavam tudo, línguas, piano, ballet...e o namoro ora escondido, ora na frente dos pais. Ainda não tinha chegado o tempo da devassidão pornosexual oficializada pela dupla diabólica MAMÃETUDOPODE&PAPAITUDODÁ. A bola da vez era: médico, engenheiro ou oficial de marinha. Suddenly, acidente de percurso. Irma larga o oficial de marinha (muito arrumadinho): Papai estou apaixonada pelo Paschoal!! Filha é o nosso chofer! Enlouqueceu? Não serve para você! Não é do seu nível! Você vai sofrer! É abismo intransponível! Se não for com ele vou para o convento! De fato o italiano 2 mts de altura, barriga proeminente, camisa fora da calça, todo lambuzado de graxa, seria sucesso na MGM, FOX... Hüber:Já que é assim, não me procure mais.
E assim foi, ciumento, não a deixou trabalhar. Apaixonada cedeu. Mas, mas...moravam na última casa numa rua de íngreme ladeira, quase embaixo de uma torre da Light, no subúrbio de Del Castilho. Cerca de arame e bambú transado, fogão à lenha, chão de terra batida, AMORTOTAL.
Hüber querendo Hüberszinhos, tentou: pago todos seus estudos. Não dá! Não gosto de estudar! Dói a cabeça! Irma se impõe: EU, sòmente EU, vou educar os meus filhos. Você não abra a BOCA! PRA NADA! Também não vão levar o nome do seu pai, balbuciou com orgulho ferido. AMORTOTAL venceu. Churrascada, cervejada, 12 mangas rosa, gargalhada de Pachoal quebrava os lustres de cristal sakarowisk. Nasce Julius, temperamento do pai, cabeça de Irma. Passa em 1º Academia Militar das Agulhas Negras. Bagunceiro, gozador, aprontava todas, propositadamente. Comandante compreensivo perdoava, até que, + 1 está fora. Conselhos, pais chamados, nada adiantou. Agora só repreenções, lamentações, jogou fora uma carreira, cuspiu no prato, mal elemento, FELIZZZ. Estudou Advocacia, caçoavam. Passou para o Ministério Público, Advogado de Defesa, Promotor, Juiz, Presidente do Tribunal do Júri, Desembargador. O 2º filho, manso, Petrus, Coronel Médico, lar OK. Mas Julius, muito preocupou, até que um dia, de comum acordo, Genoveva a Santa, concordou em tomar conta dele. Irma o obrigou, não morro sem vê-lo casado. Mullherengo, "ótimas compahias" um primo combinou: Te arranjo 2 supergatas que topam TUUDOO, 22hs no Caneco 70. ULALÁ! Taxi balançava aos beijos e abraços com as GATAS a caminho do Motel. Na hora do vamos ver...SURPRIZE!! TRAVESTIS!! Diabo! Fóra daqui! Mato vocês! Malditos! Primo urso! Mas essa ele vai me pagar fdptsafado! Fora essa um dia me telefonou, dodói, Hepatite C, também pudera! Do Ap da Av. Atlântida, em cima da Help Discotec farreava noite à dentro. Eu trabalho! Pensa que não! Olha o banheiro dos fundos! Até o teto de processos! Todos importantíssimos! Ex: Colégio das Freiras resolveu expandir no mercado aceitando ceder espaço para Faculdade. Correto $$, porém universitários vendo as noviças com as perninhas roliças, começaram a fazer exibições de pornosexo ao ar livre dando beijos desintupidor de pia bocaboca asfixia. Freiras desmaiaram! Chega de Faculdade! Coitadinha delas! Pior que que elas estavam adorando! Multa Milionária! Perderiam o Colégio. Julius ia julgar. Subornos polpudos&ameaças de MORTE. AMORTOTAL venceu Faculdade deixou as freiras em paz, e ao invès de levar um tiro na cabeça dos empresários mafiosos, ganhou um bouquet de rosas.
Francisco Apocalypse Dantas-Médico Escritor


e-mail: apocalypsedantas@uol.com.br

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CONTO DO JOSÉ FRAJTAG:O EFEITO JANELA capítulo 4 - Epílogo

O EFEITO JANELA

Capítulo 4-Epílogo

A sucessão de coincidências prosseguiu pelos dias seguintes. Breno me ligou uma semana depois, me dizendo que tinha dado tudo certo e que a pulseira dele funcionava perfeitamente.
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Telefonei para o disque denúncia e falei que suspeitava que o morador do sexto andar, estava implicado no caso do “suicida fantasma”, pois isso explicava o desaparecimento dos invasores. A polícia veio, com um mandado de busca; após achar vários indícios no apartamento que o incriminavam, prendeu o morador como espião industrial. Conseguiram pegar de volta os dois cúmplices, que haviam sido soltos; pressionados contaram tudo o que sabiam, o que acabou confirmando a nossa versão do caso.
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A polícia chegou finalmente ao ex-morador do décimo andar, Breno Mattus, que ao contar o resto da história, afinal acabou ganhando propaganda grátis sobre o seu equipamento de fuga. Ele, ainda bem, nada falou sobre a pulseira. A imprensa se desculpou comigo e ganhamos uma bela indenização por danos morais.
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Em alguns meses comecei a ler notícias nos jornais sobre Breno, que havia criado uma empresa, a Mattus Empreendimentos, com ações na Bovespa, e que estava lançando seus produtos revolucionários. O fio salvador que ele havia transformado em um eficiente meio de escape de incêndio, vendia horrores. Nada li sobre as pulseiras “potencializadoras”, mas mesmo assim li que os lucros da empresa dele estavam excepcionais. Acho que ele resolveu manter a pulseira dele só para uso próprio e certamente conseguiu extrair algum valor dela. Com o dinheiro da indenização, comprei alguns milhares de ações da própria Mattus, que deram um bom retorno.
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Notei, porém, com tristeza, que com o passar do tempo, os eventos foram começando a se espaçar, até que depois de dois anos, desapareceram completamente. Nem pude usar todo o poder que estava a minha disposição, pois contava que aquilo era para sempre. Não consegui inventar um modo de enriquecer à custa dela! Vocês sabem como é! A praia do Arpoador está ai em frente, mas você deixa para ir só amanhã, e um dia a praia fica sem areia e você não foi...
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Falei com Breno e ele me afirmou que com ele sucedeu o mesmo. Ele percebeu o problema a tempo, o que evitou o seu lançamento prematuro no mercado.
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Sua teoria é de que um ou mais dos componentes se oxidaram e o efeito se perdeu. Ele fez outras novas, mas elas também não funcionaram. Ele acha até que os produtos puros do seu laboratório se estragaram e ele tem de comprar lotes novos. São dezenas de compostos muito caros e como ele não sabe qual deles estragou, teria que comprar todos. O investimento é violento e ele ainda não sabe se é economicamente viável. Ele como eu, não conseguiu retorno financeiro algum, durante o período em que a pulseira funcionou. O crescimento da empresa dele, em nada se deveu ao fator pulseira e sim ao valor de seus outros produtos.
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Fiquei desconfiado de que Breno estivesse mentindo, para somente ele usar a pulseira, porém vi nas semanas seguintes, que as ações da Mattus estavam desvalorizando muito; vendi rapidamente as minhas, antes que elas dessem prejuízo. Consegui sair com algum lucro.
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Enfim! Seja o que for, nada é para sempre!@
Autor:José Frajtag
E-Mail: josefrajtag@ymail.com

CONTO DO JOSÉ FRAJTAG: O EFEITO JANELA cap 3

O EFEITO JANELA

Capítulo 3

Comecei a ver todos os dias, notícias sobre Boxers, Bossa Nova, Janelas e sobre a Paola, às vezes apareciam os quatro assuntos na mesma pagina de um jornal. Foi então que soube que a Paola tinha ganhado um cão Boxer, de seu namorado. Ai foi demais e comecei a tremer.
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Isso era mais que uma simples coincidência e estava formando um quadro assustador.
-“Efeito janela” porra nenhuma! Pensava eu.
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De certa maneira, eu estava abençoado ou mesmo amaldiçoado com um dom de prever coisas. Tentei usar esse novo talento para as minhas aplicações na bolsa. Eu me concentrava e vendia ou comprava algum papel de acordo com minha intuição. Percebi que minha taxa de acertos, estava muito maior que a habitual. Eu costumava acertar em torno de dois terços de minhas decisões, nos bons períodos, e empatar nos maus momentos, o que já era excelente, porém naquele mês eu estava acertando em torno de 90% ou mais. Meus lucros aumentaram de maneira notável, mas foi uma fase excepcional, apenas.
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Depois de algum tempo a proporção se reduziu, e se manteve apenas um pouco superior às de antes.
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O fato é que as coincidências funcionavam tanto para o bem como para o mal e isso não era controlável. Se eu comprava, por exemplo, um papel, surgia no dia seguinte uma notícia importante sobre a empresa, que podia ser boa ou ruim, apenas aumentando a volatilidade daquele papel. Como as notícias boas eram mais frequentes, explicava o fato do ganho ser um pouco maior. Mas não se poderia garantir que não houvesse uma sucessão de más notícias. Ou seja, ao menos financeiramente, eu não poderia tirar proveito algum desse poder, no momento! Fiquei muito frustrado ao constatar que em vez da Paola, poderia ter surgido a Regina Casé!
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De toda a forma, conforme já havia percebido, isso nada tinha ver com o efeito “janela” do qual o Dr. Paulo me alertou e sim algo muito mais importante.
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Marquei uma ida no consultório do Dr. Augusto, o especialista em fobias, iniciando um longo tratamento, para me curar. Eu desenvolvi também um tique que era o de balançar o pulso e chacoalhar a pulseira, foi numa dessas que me passou um pensamento que a principio achei absurdo. Será que a pulseira tinha algo a ver com essa minha fase? Pois o fato é que as coincidências se avolumaram depois dela surgir.
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Tirei a pulseira e a guardei em uma gaveta. Minha vida se normalizou naquele mês e nenhuma coincidência surgiu; seria isso uma prova conclusiva? Emprestei a pulseira para Helena usar por um tempo, e ela passou a me relatar que coisas no gênero estavam ocorrendo com ela também.
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Eu a peguei de volta, e os eventos voltaram para mim e desapareceram para Helena.
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Minhas dúvidas quanto ao poder daquela coisa se dissiparam, mas ao mesmo tempo tentava adivinhar o que seria aquilo!
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Consegui a duras penas me livrar das fobias, o que me fez muito feliz. Um dia encontrei no Metrô, a caminho do Centro, uma pessoa que ficou muito interessada na pulseira e queria comprá-la, insistindo muito. Acabei pegando seu cartão de visitas e prometi pensar no assunto. Ele usava um boné e sua fisionomia não me era estranha. Eu tinha certeza de que já o tinha visto, mas por mais que forçasse a memória não conseguia me lembrar.
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Minha memória é muito esquisita, talvez por estar envelhecendo. Eu costumo me lembrar de coisas muito tempo após a necessidade. De repente, como um raio, me veio a imagem de onde conhecia o sujeito! Era, sem a menor dúvida, o meu vizinho “suicida”! Mas, como era possível eu ter esquecido aquela cara?
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Liguei imediatamente para o telefone que constava no cartão de visitas. O nome não tinha nada de extraordinário: Breno Mattus. Nós nos falamos e marcamos um encontro para o dia seguinte, que seria na portaria de meu edifício. Eu estava com muito medo e tentei me cercar de pessoas que pudessem tomar alguma atitude se necessário. Depois pedi para caminharmos pela orla enquanto conversávamos. Foi aí que lhe contei que o conhecia. Ele confirmou ser mesmo essa pessoa.
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- Mas, como senhor Breno? Como foi possível o senhor cair daquela altura e sobreviver?
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- Me chame de Breno ou você, por favor. Sou inventor, meu caro Sílvio e criei vários equipamentos, que ainda não estão patenteados. Um deles é um meio de fuga de edifícios. Na realidade eu não caí e sim deslizei muito rápido por um cabo muito fino de titânio. O fio depois se enrola automaticamente no teto da varanda sem chamar a atenção. Ele pode ser regulado para qualquer velocidade de queda. Como já estou acostumado, regulei para a velocidade total da gravidade, como se estivesse caindo. Nos últimos metros ele vai freando, com toda a segurança. Mas minha melhor invenção foi essa pulseira, que eu chamo de um “potencializador de eventos”. Eu a criei por acaso, num lance de “serendipity” como os americanos dizem.
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- O que é isso?
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- É como eles chamam um ato de criar algo quando se está procurando criar outro. A penicilina e o micro-ondas foram criados assim.
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- E porque o senh..., quero dizer você, pulou pela janela?
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- Eu estava sendo perseguido por pessoas que sabiam da pulseira e queriam roubá-la de mim. Minha única possibilidade de escapar foi a de pular pela janela.


Aí fiz a besteira de jogar a pulseira em seu apartamento.
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- Não foi besteira, ela está bem guardada!
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- Se eu já tinha conseguido fugir, bastava mantê-la comigo, não é mesmo? Tive de me mudar do seu edifício, pois meus inimigos iriam certamente voltar. Suspeito até que seja um morador do sexto andar do seu prédio.
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Pensei imediatamente: “A polícia deixou os bandidos escaparem”, porem não disse a Breno, esperando uma ocasião melhor. Perguntei apenas:
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- E para que você quer comprá-la de mim? Ela é sua e além disso não é mais fácil fazer outra?
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- Eu não lhe disse que a criei, por acaso? Pois é! Não consigo mais repetir o método que usei, e essa sua pulseira passou a ser a única. Tentei depois, muitas vezes fazer outra, sem resultado; por isso demoramos a nos encontrar.
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- Quer dizer que o nosso encontro não foi por acaso?
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- É claro que foi! A própria pulseira provocou esse encontro, pois nem me passava ainda pela minha cabeça procurá-lo. Bastaria ter ido ao seu apartamento, não é?
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- Tudo bem, então! Eu a devolvo, se você me permitir usá-la de vez em quando, ou mesmo se você descobrir como você a fez, me der de volta e ficar com a nova! Vamos fazer um contrato bem feito, em cartório, que seja bom para mim e para você.
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Eu já sabia que a pulseira não tinha valor algum, a não ser o de criar eventos aleatórios curiosos, mas tentei tirar algum proveito ao sentir o interesse de Breno. Quem sabe ele talvez me ensinasse alguma técnica para usá-la que valesse a pena.
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- Nada de cartório, pois seríamos descobertos pelos bandidos. Vamos fazer diferente, disse ele. Você fique com a pulseira, e eu te dou agora cem mil reais, como compensação pelas confusões que te aconteceram. Depois venha a meu laboratório para que eu faça alguns testes, com ela.
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Fiquei surpreso e deliciado com a proposta. Pedi para chamar Helena pelo celular para nos acompanhar, pois se Breno tentasse algo sacana, seria mais difícil com nós dois. Breno concordou com a presença dela, o que me deixou bem mais tranquilo.
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Ela chegou bem rápido; pedi uns minutos em particular e expliquei a ela, que como toda mulher, estava desconfiadíssima.
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Tudo aconteceu corretamente! Breno mostrou ser uma pessoa confiável. Fomos a um banco, que por coincidência, mais uma, era também o meu; ele sacou o dinheiro e me entregou. Eu imediatamente depositei na minha conta. Helena adorou!
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Do banco fomos para o laboratório de Breno, que era impressionante! Mal chegamos e ele avançou para a minha pulseira. Eu falei:
- Calma! Deixe-me fazer uma marca na parte de trás para eu ter certeza de que essa é a minha!
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- OK! Não há problema.
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Peguei um bisturi e marquei as minhas iniciais e entreguei a pulseira a Breno; ele com uma mini furadeira, fez um furinho minúsculo e retirou pedacinhos do miolo desta, onde havia os componentes que faziam mágico efeito. Ele tapou o furo com uma amalgama de prata e este ficou quase imperceptível. Em seguida me devolveu a pulseira. Eu e Helena, olhamos com cuidado e vimos nela o micro furo tapado e as minhas iniciais. Não havia dúvida, era a mesma pulseira.
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Ele retirou os pedacinhos e os pôs numa solução reagente. O liquido que era incolor, mudou para um tom vermelho forte. Breno fez uma expressão de felicidade! Pegou então uma gota do líquido e o pôs num analisador, que desenhou um gráfico com todos os componentes. Breno fez uma expressão de felicidade!
- Então era isso! Descobri o que estava faltando! Agora vocês já estão liberados. Podem cuidar da sua vida que em poucos dias já terei uma pulseira igual para mim.
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Nós nos despedimos de Breno e fomos para casa.
(continua...)
Autor:José Frajtag
E-Mail: josefrajtag@ymail.com

CONTO DO JOSÉ FRAJTAG: O EFEITO JANELA cap 2

O EFEITO JANELA

Capítulo 2

Eu e Helena, após as horríveis confusões, retomamos nossos hábitos. Costumamos almoçar aos domingos fora de casa, pois é um dos dias que ficamos sem empregada. No nosso restaurante preferido, sentamos sempre à mesma mesa, que é servida pelo mesmo garçom há pelo menos 20 anos.
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Nossa mesa ganhou um bônus requintado, pois na parede em frente, foi colocada uma grande TV de tela plana de alta definição, onde são passados vídeos de shows da Broadway ou ainda melhores. Naquele domingo, aproveitando a boa surpresa, víamos o show LOVE do Cirque Du Soleil, que já havíamos visto há alguns anos em Las Vegas. Esse show tem como fundo musical uma trilha sonora só de música dos Beatles. Lembro que comentávamos como o Brasil perde por não fazer algo semelhante em homenagem à Bossa Nova. Não se passou mais que um minuto e o vídeo foi trocado por outro, do mesmo Cirque Du Soleil, porém com um fundo de Bossa Nova. Levamos um susto pela coincidência. O fato foi motivo de muitas conversas com amigos, que duvidavam do ocorrido.
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Na semana seguinte, fomos passar uns dias em nossa casa em Itaipava. Ela estava em obras após as graves inundações na Serra e devido a isso, resolvemos fazer uma muralha de proteção. Ao chegarmos, como sempre fazíamos, fomos antes a um Supermercado, para abastecer a casa. Encontramos lá um casal de amigos, Jorge e Mariana e fomos logo conversando sobre as novidades. Comentamos sobre nossas obras e descobrimos que eles tinham o mesmo problema e faziam obras semelhantes, o que era mais uma coincidência. E aí passamos a falar de nossos cães. Jorge nos disse que eles possuem um da raça Boxer. Eu me lembrei que há muito tempo não via um, pois acho que a raça saiu de moda. Nós nos despedimos e marcamos de nos encontrar à noite para jantarmos num dos deliciosos restaurantes da cidade, coisa que de fato aconteceu.
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Duas vezes ao dia, nós nos revezávamos na tarefa de passear com nossos cãezinhos, coisa que no Rio é geralmente feita pela empregada. Naquela tarde, era a minha vez de realizar essa tarefa. Não se passaram dez minutos e vi um Boxer, na coleira, sendo arrastado, ou melhor, arrastando a sua pobre dona, que quase caia com o esforço! Era a primeira vez, após muitos e muitos anos que havia visto um cão dessa raça; lá estava na minha frente o imponente animal, poucas horas após alguém comentar sobre a sua existência. Fiquei muito espantado e confesso que meu queixo caiu!
- O que é isso, meu Deus! Mais um episódio! Em apenas uma semana, já aconteceram vários!
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Helena minha esposa, quase não acreditou na historia e precisei lhe mostrar a foto do cachorro, que tirei com meu celular. Ela ficou como eu muito espantada. Mostrei também a foto para Jorge e Mariana, durante o jantar, e eles também acharam muito curioso que o cão que fotografei, era da mesma cor que o deles.
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De volta ao Rio, eu retornei à minha rotina, que é a de ir diariamente caminhar pelo Arpoador. É o privilégio que temos nós os aposentados. O festival de coincidências foi o assunto. Aproveitei para falar de outros episódios semelhantes, dos quais não havia dado importância e que haviam acontecido comigo nas semanas anteriores. As lembranças vieram à tona durante nossas conversas. Pedro, brincalhão como sempre sugeriu que já que eu estava com esse poder estranho, falássemos no nome de alguma atriz bem bonita, para que ela aparecesse. Tínhamos que aproveitar a sorte, não é? O Pedro sugeriu escolhermos a Paola de Oliveira, que era uma lindíssima atriz da TV Globo. Nós nos concentramos por alguns momentos e desejando a presença da atriz.
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Alguns minutos após falarmos, surgiu à nossa frente a própria Paola! Se um de nós estivesse comendo alguma coisa, engasgaria! Todos nós gritamos ao mesmo tempo, o que assustou a bela Paola, que veio perguntar o que estava acontecendo. Contamos a história, emocionados com o incrível evento e com a linda presença. Ela ficou entontecida. Pegamos autógrafos da bela e tiramos fotos, que comprovariam mais tarde o estranho acontecimento.
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Fui procurar o Dr. Paulo, um psicólogo amigo, para que ele me ajudasse a encontrar uma explicação. Contei os quatro episódios e ele me deu várias explicações:
-Sílvio, quando ouvimos, um nome ou um fato inédito, ou mesmo algo do qual há muito não ouvíamos, em nossa mente abre-se uma “janela”. Daí para frente toda vez que surgir aquele nome em algum lugar, notaremos imediatamente o fato e o interpretaremos como coincidência. Na verdade, aquilo sempre aparecia, mas sem nos chamar a atenção, pois ainda não existia a “janela”.
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Ao ouvir a palavra janela, sentia arrepios, pois estava ainda sofrendo com o pânico de alturas, porém achei interessantíssima a explicação dele, mas argumentei que isso só resolveria o mistério do Boxer, pois os outros três não se enquadravam. Pedi uma ajuda para me curar daquela fobia.
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- Esses fenômenos, você tem razão, são diferentes, mas há uma explicação para cada um: Você e a Helena, poderiam ter captado subconscientemente alguns acordes de Bossa Nova, antes de perceber que ela estava tocando. E depois, você acha mesmo que é uma coincidência, que várias pessoas façam obras após os desabamentos na Serra? Admito que o caso da Paola possa ter sido mesmo a única coincidência. Quanto à sua fobia, meu amigo, a única maneira de você se curar é encarar o medo; tenho um colega que é especialista no assunto e que usa essa técnica de enfrentamento.
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Saí dividido, com um endereço e telefone do especialista em fobias, e bem mais tranquilo do que quando entrei. O Dr. Paulo foi realmente brilhante e o efeito “janela” foi um fato novo que mostrou consequências daí para frente.
(continua...)
Autor:José Frajtag
E-Mail: josefrajtag@ymail.com