domingo, 22 de julho de 2012

CONTOS DO MUNIR 92

OSVALDO, O TAXISTA
O carro era um Santana, já fora de linha, grande por fora, desconfortável por dentro. Relutamos, a princípio, eu e meu amigo, de nele embarcar.
Além do mais, o motorista também parecia já ter passado o prazo de validade.

Estávamos voltando de um passeio, ao Clube Naval em Charitas.

Seu Osvaldo, cabelos brancos escassos a desaparecer, deve ter notado nossa hesitação e passou a elogiar seu táxi e também a si mesmo, que nunca tinha batido, ou ficado na mão. Jamais encontrei um taxista que tenha sofrido um acidente. Não consultei estatísticas, mas creio que acidentes com táxis são realmente raros.

Seu Osvaldo tem setenta e oito anos e muita disposição, está meio gordo, pela vida sedentária, diz que dirige dez horas por dia, cinco filhos, quatro homens e uma mulher, todos já formados e independentes, ele mesmo aposentado, viúvo há dois anos.
Perguntei por que ele ainda dirigia, a resposta:
-Tô de mulher nova, fazendo sete implantes de dente, são muito caros, ah! Também tô trocando de carro. A minha mulher é nova mesmo, tem quarenta e nove anos, é babá no Leblon e ganha bem.
E continuou:

-Eu tinha dois apartamentos, um de sala e três quartos no Flamengo e o outro, onde agora estou morando, de sala e quarto na Glória. Era onde eu levava essa minha namorada. Estou com ela há doze anos. Sabe, minha mulher já não queria saber de sexo. O do Flamengo tem garage, guardo o carro ali, meus filhos vivem lá.

-Doutor, estou com vontade de levá-la para morar comigo. O que que o senhor acha?
-Seu Osvaldo, o senhor tem alguma idiossincrasia ?
-Que isso doutor! Não tenho nada disso não!
Percebi que ele não havia entendido, e tentei explicar:
- Seu Osvaldo, o senhor ronca? Mexe-se muito na cama? Solta gases quando está dormindo? Acorda no meio da noite e liga a TV?
- Ah, isso eu faço sim senhor!
-Não sei não, seu Osvaldo. Foi ela que pediu?
-Não! Sou eu que quero!
-Olha, seu Osvaldo, o senhor não está feliz como está?
-Estou muito!
-Então, deixa quieto!

Já estávamos chegando, ele ficou calado até parar o carro.
Quando saltei, ele saltou também e disse apertando minha mão:
-Obrigado, doutor. O senhor é um homem sábio.
Não sei se ele vai deixar quieto.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

sexta-feira, 13 de julho de 2012

CONTOS DO MUNIR 91

NATASHA x NICOLE
Natasha regressou ao Rio dia 17 de julho. Ao contrário das outras vezes, hospedou-se no Hotel São Francisco no centro da cidade, esquina da Av. Rio Branco. As suítes da cobertura do Copacabana Palace estavam indisponíveis por obras no hotel, mas a razão não era bem essa. Era a proximidade do Distrito Naval.
Ligou para que fosse vê-la naquela mesma noite. Encontrei-a diferente, dessa vez usava um uniforme de oficial, mais precisamente de uma Capitã-de-Corveta engenheira especializada em química nuclear. Cabelos curtos, impecável no trajar do uniforme branco, ostentava as barretas de medalhas de vinte anos de serviço e mérito naval.
-Que tal?- Perguntou, iniciando uma conversa em gíria naval.
-Tudo safo? Não está pegando nada?
Olhei a farda, o desenho bem próximo do que havia imaginado o estilista Guilherme Guimarães e apresentado pelas modelos, entre outras, por Carla de Souza Lima, filha saudosa de um almirante. Notei que fora feita em alfaiataria, ou remodelada em alguma boutique, tal a elegância no vestir, fugindo aos padrões militares, daqueles vendidos em lojas.  Acentuava suas curvas femininas.
-Vai pegar!  Apontei para a marca da lingerie ligeiramente ressaltada.
A visita ao Centro Experimental de Aramar,(CEA) programada pelo “REVIVA A MARINHA” para oficiais da Reserva, seria no dia 19, quinta feira.
O CEA se localiza em Iperó (SP), próximo a Sorocaba, onde a Marinha desenvolve a miniusina, utilizando urânio enriquecido nas ultracentrífugas, que simulará o funcionamento, em escala real, o reator do sistema de propulsão a equipar o primeiro submarino nuclear brasileiro.
Nossas ultracentrífugas utilizam um processo de levitação magnética com um consumo mínimo de energia e maior capacidade de enriquecimento por ciclo, processo alvo da cobiça de outros países.
O Brasil guarda a sete chaves esse segredo tecnológico, limitando inclusive o acesso de técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Dezenove de Julho de 2012
O ônibus do Comando do Primeiro Distrito Naval, ar condicionado, poltronas de couro, aguardava, do lado de fora do cais da bandeira, os vinte visitantes selecionados para a visita a Aramar, Capitães-de-Mar e Guerra e Almirantes, alguns ainda na Ativa.
O branco magrelo do Azera, como motorista, duas oficiais, guias da viagem, Natasha em seu uniforme branco corrigido e uma Capitã-Tenente negra de belos traços.
Na manhã do dia seguinte, fomos recebidos nas novas instalações do Centro Experimental Aramar, inauguradas em fevereiro.
Inicialmente, visitamos o Laboratório de Materiais Nucleares; Natasha se interessou particularmente pelo espectrômetro de emissão atômica com plasma indutivo acoplado e também pelo microscópio eletrônico de varredura com espectrômetro de energia dispersiva acoplado. Esses equipamentos possibilitam a determinação de teores de microconstituintes e análise química de material. Imaginou que o explosivo plástico que levava em um dos botões de seu uniforme poderia ser assim detectado mesmo depois de utilizado. Outro botão continha a microcâmera espiã.
Após o almoço, fomos obrigados a usar roupas especiais de proteção radioativa com placas indicadoras do nível de radiação absorvido; iríamos, afinal, conhecer de perto as ultracentrífugas.
Não imaginava que fossem tão grandes, cerca de dois metros, montadas em série. A sala onde nos encontrávamos com quase cem metros de comprimento parecia um cenário de filme de ficção. Era protegida por painéis que vedavam a fuga de radiação para o exterior.
Vidros de grossa espessura separavam os corredores onde estavam as ultracentrífugas impedindo que fossem tocadas. . Calculei que haveria só naquela sala cerca de seiscentas.
Um dos cientistas que nos acompanhava disse que a velocidade de rotação havia sido reduzida para evitar prováveis desgastes
Aos meus olhos, o tamanho, a velocidade e a cascata de processamento pouco me diziam. Na visão de Natasha revelavam muitos mistérios.
FINAL
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O plano inicial seria provocar uma pequena explosão no ambiente das ultracentrífugas. Mais tarde, Olaf infiltrado no grupo de reparos, colheria material que permitisse decifrar o segredo do mancal de levitação. Natasha, satisfeita com o que vira, desistiu de detonar seu botão dourado do uniforme.
Natasha estava muito excitada por ter conquistado seu objetivo, pediu que ficasse com ela, iria viajar pela manhã. Deixei-a de madrugada.
Nicole estava chegando e havia prometido que a pegaria no aeroporto.
Levei Nicole para o meu apartamento, estávamos no sofá disputando o melhor ângulo para ver um vídeo.
Portas, mesmo com trincos de segurança, nunca foram obstáculos para Natasha, cujo voo fora transferido, irrompeu na sala e possessa ao nos ver, insultou Nicole.
-O que esta periguete está fazendo aqui? Vou acabar com você, mas quero que tenha todo o direito de defesa, escolha como, aonde e quando!
-Florete, domingo 22, Praia do Perigoso ao nascer do sol - respondeu friamente Nicole.
Natasha, perita em artes marciais, treina com Wladimir Putin, uma das poucas ocasiões em que ele retira o crucifixo ofertado por sua mãe.
Nicole, exímia esgrimista, medalha de ouro em 2010.
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Domingo -22 de julho- Praia do Perigoso- nascer do sol.
Natasha e Nicole – dois médicos assistentes e um juiz.
As desafiantes usando tão somente as máscaras protetoras, temiam pela beleza de seus rostos,os corpos desnudos. O mais leve toque seria percebido de maneira mais eficiente que o uso de sensores eletrônicos.
Iniciaram o duelo na posição convencional de resguardo. Natasha procurou o contato, o braço estendido para a estocada. Nicole completou a parada e contra-atacou em resposta, atingindo Natasha na altura do ombro esquerdo bem próximo ao coração.
Nicole aproxima-se de Natasha caída, o sangue correndo em sua pele morena. Natasha ainda se vira com a agilidade adquirida nos treinamentos das lutas marciais, aproveita a abertura de Nicole e também a fere.
Haviam se passado três minutos, a luz do sol resplandecia nas duelantes nuas em suor e sangue.
O juiz e os dois médicos se aproximaram interrompendo o combate.
Apesar de tanto sangue, nenhum dos ferimentos era de gravidade, entretanto seria necessária uma transfusão, como ambas tinham sangue tipo AB, ela foi realizada de imediato.
As duas moças foram salvas. No hospital, lado a lado se tornaram amigas. Hoje moram juntas em um flat no Leblon.
Tive que me converter ao Islamismo!!
Aprendo russo com Natasha e esgrima com Nicole.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com