sábado, 28 de maio de 2011

CONTOS DO MUNIR 65

GINASIANOS
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Victor Meirelles, Luiz Cavalcante, Eduardo Silva, Carlos Eden, Julio Serra, Julio Afora, Dimitri Quadros e Antonio Alves são colegas no Educandário São Bartolomeu.
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Todos na idade média de 14 a 15 anos à exceção de Carlos Eden que conta 18.
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Victor, não contrariando o nome, é um desenhista talentoso.
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Luiz tem uma perna mais curta, usa um sapato especial para compensar.
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Eduardo, aparentemente, uma figura padrão de menino dessa idade.
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Julio Serra é baixinho, gordo e enfezado. Refreando assim qualquer provocação, lembra muito o reizinho de antiga história em quadrinhos. É filho do dono da padaria vizinha ao colégio.
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Julio Afora apesar da idade já é politizado. Tem uma enorme simpatia pelo comunismo, é católico fervoroso e acredita que o regime russo se aproxima da verdade cristã.
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Dimitri é ortodoxo, fala russo e grego, está no Brasil há sete anos, aparenta ser mais velho, já tem barba.
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Antonio Alves usava sempre calças compridas para encobrir as pernas inchadas por elefantíase.
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Carlos Eden é a ovelha negra da turma, é o oposto do que o seu nome indica. Mais velho do grupo, exerce liderança, pratica pequenas maldades, como a de deixar bilhetes pornográficos nas carteiras das meninas assinados em nome de um determinado admirador, levando ao fim o namoro. Funcionou durante algum tempo, até ser descoberto. Como é bem maior que os outros, não houve represália.
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O Colégio tinha um grande laboratório de Física e Química, bem equipado, armários de vidro chaveados guardavam os aparelhos e amostras de pedras não preciosas.
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Carlos Eden planejava fazer uma incursão no laboratório. Não poderia executá-la sozinho. Alguém teria que ficar de guarda, consultou sua gangue e todos toparam, acreditando ser uma aventura sem consequências. Luiz, o da perna mais curta, quis ir, foi rejeitado. Dimitri, que de início havia concordado, desistiu por receio dos pais. Julio Serra e Antonio Alves declinaram quando souberam dos detalhes do plano: teriam que pular uma janela.
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O grupo ficou reduzido a Carlos Eden, Julio Afora, Vitor Meirelles e Eduardo Silva.
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Soou o toque de fim das aulas da sexta-feira, os moços ficaram por ali, era inverno, anoitecia cedo.
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Carlos Eden liderava sua equipe como profissional, já havia feito um briefing de como se processaria a ação e distribuído as tarefas. Estava de posse das chaves dos armários, a intenção era permanecer o fim de semana com os objetos do saque e devolvê-los na segunda-feira pela manhã, antes do início das aulas. A responsabilidade da devolução seria individual, um desafio para a garotada.
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Seu Joaquim o inspetor de disciplina não era fácil.
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Cada um dos garotos escolheu sua prenda.
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Carlos Eden pegou um dos três antigos microscópios.
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O laboratório ficou sempre com os dois restantes, nunca deram por falta.
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Victor Meirelles um pedaço de carvão, achou que poderia desenhar com ele, nunca devolveu.
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Julio Afora ficou seduzido por uma pequena lente de aumento, planejava devolvê-la na manhã de segunda. Não conseguiu. Seu irmão caçula a escondeu. Gastou toda a mesada na compra de uma lente maior, ficou sem ir ao cinema e só a pôs de volta na terça-feira.
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Eduardo Silva retirou o menor cristal de quartzo das muitas amostras existentes. Pretendia retorná-la na segunda, medrou de seu Joaquim, acabou escondendo no fundo do armário de roupas de seu quarto. No domingo, quando foi à praia o jogou no mar. Algumas semanas depois ao caminhar pela areia, topou com um pedaço de quartzo, não sabia dizer se era o mesmo. Acabou levando para casa.
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Os anos se passaram...
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O retrato de Carlos Eden apareceu no jornal como suspeito assassino de um crime em Copacabana.
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Victor e Luiz Cavalcante tinham passado no concurso para o Banco do Brasil.
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Julio Serra transformou a padaria do pai em uma lanchonete, é agora um senhor bonachão gordo e rico.
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Julio Afora cursou Sociologia virou deputado pelo PCB, mas antes fundou a Igreja Agentes de Deus.
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Dimitri Quadros deixou crescer a barba, ficou parecido com Van Gogh, cursou Belas-Artes, é um pintor conceituado.
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Antonio Alves cursou Direito, só usa terno.
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Eduardo Silva fez Engenharia Eletrônica, montou uma empresa especializada em corte de cristais para televisões a cores, ele próprio os lapidava até chegar a frequência exigida. Comprava quartzo aos quilos.
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Havia pensado em devolver o cristal afanado com uma confissão pública, não o fez. O Educandário São Bartolomeu não mais existia.
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Fui visitá-lo já doente com leucemia, resultante do pó de cristal absorvido ao longo dos anos no seu laboratório.
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Vi o cristal na sua mesa. Perguntei se era lembrança de sua empresa. Disse que não, era impuro demais para corte.
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Foi quando me contou essa história.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com


sábado, 21 de maio de 2011

ARTIGO DO SERGIO GUARANYS

O CORUMIM, VISÃO LIVRE
slyguaranys@oi.com.br em 11 mai 2011
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O menino índio quer saber mais, explora as redondezas de sua taba, vai afastando-se seguramente, pois sabe orientar-se bem. Chega ao sopé de um morro que começa a escalar. A cada instante aumenta seu horizonte, vê mais longe mais objetos que ficam pequenos e sem linhas. Já no topo querendo ver melhor põe como pala diante da testa a mão desocupada afastando efeito prejudicial de claridade, por que se a pusesse em escudo diante dos olhos nada veria.
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Nossa vida é contínua exploração de redondezas, com elevações, aumentos de horizontes e de presenças realizando trocas de coisas definidas por coleções sem nome. Rejeitando perder objeto indefinido em meio a numerosos traços distantes vale a pena selecionar algum ainda desprovido de utilidade indicada, mirar nele desviando de sua vizinhança a atenção. Enquanto a visão percebe formas e cores da figura do objeto, a mente poderia associar a vista com funções, histórico e outras imagens onde estaria.
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Replicamos a opção do corumim ora levando a mente em pala perscrutando a situação do objeto, ora em escudo criando uma atitude dele. Ganhamos tempo tratando antes dos indivíduos coleções deles, onde mais tarde enxergamos que alguns indivíduos importam mais que as coleções onde estiverem. Situações nocivas criadas por indivíduos notáveis ficam disfarçadas pela massa e pela distância como se aguardassem ser toldadas por clamores de origem ruim.
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Proclamando semelhança entre União e Estados, pela qual têm poder executivo e legislativo, Ulisses deu aos Municípios poder legislativo. Não creio que ignorasse falta de senso municipal a exigir legislativo, mais bem sabia que partidos políticos devem emanar de disputa de opinião pública, antecipando que na falta de disputa entre partidos ficaria mais provável a disputa entre as pessoas, mais fértil quanto mais local fosse. Esse o motivo do poder legislativo municipal. Enxerguem o absurdo: um legislativo que não tivesse nas leis sua motivação, mas tendo motivo na disputa partidária, seria incorrigível devido à impossibilidade de suscitar argumentos contrários à existência dele. Nada a espantar em conseqüência o enorme número de municípios – 5564, também enorme o de vereadores – 57000 e o de funcionários das câmaras municipais – 837000. Nem ladrões nem inúteis, desfrutam a arrecadação e o fingimento partidário entregues a eles. Nem atentam para déficit financeiro de seu município. Sem nada enxergar criaram desfrute irrecorrível do PIB e descompromisso com a Coisa Pública. Com a mão em escudo diante dos olhos estão livres de ver todas as repulsas dirigidas aos políticos. O custo enorme desse poder contrasta com as carências de ensino primário, de atendimento ambulatorial e de urbanização inicial, deveres municipais mais importantes de modo visível e incômodo a sugerir redução do custo do poder, ao menos por ser mais fácil que atender as carências. Os corumins de verdade, crianças dos municípios nunca enxergarão correção do contraste. A mera sobrevivência do Poder Legislativo Municipal é paradigma da categoria política brasileira.
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A Independência tornou dispensável a Brigada Policial criada por D.João VI para impor a vontade real sobre as províncias, pois o Exército subordinado a D.Pedro não conhecia contestação. Para não desempregar o pessoal da Brigada, ele foi distribuído pelas províncias em milícias especialmente criadas para recebê-lo. Mais tarde com a criação da República transformando em Estados as Províncias, as milícias se tornaram Forças Públicas também evitando desempregar o efetivo. Heterogêneas porque algumas eram tropa de combate, outras conviviam com polícia e porque os Estados tinham diversidade constitucional, houve aturdimento inicial. Essas Forças adotaram modelo e título militar a fim de ganhar permanência sem a obrigação de ser polícias. Ganharam permanência, embora faltando propósito e autenticidade. Assombraram o Exército, pois tinham remuneração maior. A Revolução de 1964 ensejou mediante a Inspetoria de Polícias Militares ingresso de pessoal do Exército nessas polícias coincidente com ambição de poder de alguns Estados. Este arranjo esbarrava na ação policial civil, pois a militar era uma dupla negação---nem prevenia mediante policiamento nem investigava mediante diligência. Conseguindo evitar correções inconvenientes, os Estados deram situação constitucional às polícias militares, deixando para uma descomprometida regulamentação posterior a norma dessas polícias. Acontece que polícia de qualquer tipo e país precisa impedir que seu pessoal participe do produto de crimes e sentencie infratores. A Polícia Civil, que policia e investiga não aceitou repartir produto---argumento indeclarável, nem adotou sentenciamento---que a converteria em criminosa. Em vez de permanecer o organismo, permaneceu o abuso: não há inteligência porque não há caráter, não há rede dupla de informação porque a informação é indiscreta. Comparando ao corumim no topo do morro, D. João usou primeiro a mão em pala criando a Brigada, depois D. Pedro em escudo dividindo em Milícias. Os eventos seguintes aumentaram confusão, inutilidade e permanência, com despesa gigantesca, transformação de muitos policiais militares em milicianos e de segmentos policiais em organizações criminosas. Assunto Polícia ficou mostrengo, prenhe de tentativas incapazes de produzir: redução de contravenção, instrução útil de processos e rapidez de coerção policial, como a Academia de Polícia e as Delegacias Especializadas. Explorando existência de duas polícias, várias organizações adquiriram aspecto policial como a Judiciária e a Rodoviária, outras militar como os Bombeiros Municipais, outras ainda com implicação até penitenciária. E sustentação constitucional. Sem conseguir entender o que avistar no Assunto Polícia, o corumim da história deve retornar à taba até o Assunto ser reiniciado em termos inéditos em vez de corrigidos.
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Terminada a Segunda Guerra Mundial militares regressados da Itália depuseram o Presidente Vargas, entregaram em 1946 o Distrito Federal a Mendes de Morais como Prefeito e Ranieri Mazzilli como Secretário de Fazenda, que em 1947 não reajustaram salários dos professores primários. Essa atuação da sinistra dupla foi imitada pelos 20 outros Secretários de Fazenda dos Estados, causando frustração imediata de vocações juvenis para o magistério, destruição do entusiasmo dos professores em produzir futuros pais e mães de alunos orgulhosos de saber e ao fim de uma geração, extinção da formação primária do povo brasileiro. Vinte e cinco anos depois, em 1972 terminou o ensino primário, jamais recriado. Durante os vinte e cinco anos outros procedimentos firmaram essa destruição: professores diplomados fugiam da regência de turmas para inspetores, pesquisadores, coordenadores, administradores, cooperadores de ensino, recebiam mais, trabalhavam menos e conseguiram sem querer nem saber, fazer novos alunos chegarem à escola sem serem responsáveis por seus atos, sem saberem propriedade e, pior sem saberem de onde vinham. Não admira que nenhum Ministro, Secretário, Agente de Educação desde 1960 em diante soubesse como atuar para recriar formação do povo. Nenhum sabe que professor é o membro encarregado e remunerado pela Sociedade para fabricar pais e mães. Andaram dando aumentos salariais pífios aos professores, além de inferiores em valor aos salários dos “ores”, os fugitivos da regência de turmas. Já não adianta ao corumim contemplar cuidadosamente as escolas primárias, se em qualquer cenário delas vê alunos ameaçando todo mundo, depredando qualquer patrimônio, sem mostrar cara de atenção. Temos que dizer serem meliantes os funcionários operadores de material didático, merenda, impressos sigilosos e medições eivadas de tolerância, tal a freqüência de furtos, agressões, desperdícios, perdimentos e fraudes. Com mão em pala ou em escudo o corumim enxerga péssima homogeneidade. Países resolvidos complementam formação primária com mídia e com consumo. O cidadão deles após o primário entra na mídia opinando, explora para opinar a mostra de consumo, pois a formação primária dele serviu para ter critério útil, calcado nos sentimentos básicos de clã (quem somos, quem são os outros), de propriedade (quem é o dono disto e daquilo) e responsabilidade (quem responde pelos este ou aquele dano). O cidadão dos não desenvolvidos não tem critério, logo despreza mídia e consumo.
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Em 1948 um grupo de cidadãos reagiu à falta de instituição dedicada ao estudo de ações de âmbito nacional, cuja conclusão seria útil ao Governo Federal. Naquela época o órgão mais erudito do Exército era a Escola de Estado-Maior, o da Marinha era a Escola de Guerra Naval. A concepção dessa instituição consistiria em congregar os melhores estudiosos do país e encomendar a grupos deles os estudos desejáveis, mesclando aulas de trabalho em grupo com pesquisas dos temas escolhidos, ritual das Escolas. A instituição recebeu o infeliz título de Escola Superior de Guerra, infeliz porque associava a idéia de guerra à Defesa da Nação contra ações estrangeiras, além de ensejar na instituição divisão indesejável entre componentes civis e componentes militares. Até hoje a idéia de Defesa está circunscrita ao campo militar. Imediatamente um grupo de oficiais do Exército passou a conspirar com o propósito de impedir na instituição comparações normais e inevitáveis entre civis e militares. Procuravam o absurdo de, mediante articulação marginal, superar a desvantagem numérica dos militares frente aos civis num ambiente onde eventuais vantagens não serviam a qualquer propósito. Articulados preponderaram redigindo e impondo à Escola um Estatuto que mediante semântica impedia debate. A semântica consistiu em atribuir o nome de debate a um ritual autoritário e o de Estratégia a um arranjo artístico dos verbetes recursos e óbices em vez de técnica de manejar crescimento, assim privando o país de aprender a ciência Estratégia. Graças ao Estatuto a Escola nunca produziu para o país um estudo sequer. Houve um instante em que o Mal. Castelo Branco enviou um de seus generais ao Comte. da Escola, Gal. Mamede para trazer o suposto Plano de Governo, inexistente. Esse instante sucedeu outro em que o Pres. Juscelino declarou vir da Escola o Plano de Metas anunciado e adotado por ele. Os militares jamais estudaram Governo porque nenhum Comandante da Escola executou essa idéia e o Estatuto dá a ele essa discrição. Não puderam aproveitar a oportunidade da Revolução para elevar quanto pudessem o país, nem para consolidar a própria atuação como o PT tenta hoje. O pequeno índio permanece espantado com o que avista no campo militar e na Escola. Os militares já sabem como usar a mão em pala para observarem cenário, mas esqueceram como usá-la em escudo a fim de imaginarem a própria recolocação na Sociedade. Essa recolocação inclui colegiados consultores, exercício de direção em estatais para clarear a imagem delas em vez de remunerar antigos sicários, situar a remuneração funcional deles em acordo com o restante da administração federal e com o tirocínio deles. Até hoje têm servido como vitrine para orientar cobiças de cabos eleitorais porque essa atuação é exercida sem peias pelos mais diversos dirigentes, em consonância com a baixa qualificação deles, mas com imperdoável assentimento dos militares. Perante o mau desempenho dos civis os militares têm preferido manter-se visivelmente corretos a praticar reprovações aos civis, mas já deveriam ter percebido a inconveniência dessa omissão e descoberto por locutores legais desempenhos defeituosos nos três poderes.

CONTOS DO MUNIR - 64

O TEMPO E PESSOAS
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Parte 3
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JOÃO LUIZ
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João Luiz é físico, formado no MIT, doutorado em Harvard. Professor catedrático da USP, consultor do IMETRO, do Instituto de Pesquisas da Marinha, da Petrobras, da Vale e de mais algumas grandes empresas. Aprofundara seus estudos em nanotecnologia.
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Um problema surgiu na Marinha de Guerra, por ocasião do rompimento do acordo militar de cooperação com os USA.
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Os detectores de hidrogênio, gás altamente explosivo, quando em concentração elevada na atmosfera, esgotaram sua vida útil a bordo dos submarinos brasileiros de origem americana.
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Os comandantes, com razão, se recusavam a mergulhar, a Marinha Americana se negava a enviar sobressalentes. A Armada Brasileira se viu privada de sua Força mais ofensiva.
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Realmente, o perigo ameaçava. As cargas das baterias, ocasião em que se dá a maior liberação de gás, foram limitadas. A explosão recente de um dos reatores nucleares no Japão alarmara ainda mais os submarinistas.
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João Luiz foi chamado. Com brilhantismo criou um protótipo de fácil execução pelo Arsenal da Marinha. Os submarinos voltaram a operar.
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Os americanos vinham acompanhando, acreditavam na dependência brasileira, era uma oportunidade de revigorar o acordo desfeito unilateralmente pelo Brasil.
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O propósito maior: a venda de novos submarinos.
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A atenção deles voltava-se agora para o físico que solucionara o problema em tão breve tempo, com uma solução simples e menos dispendiosa. Resolveram marcar de perto João Luiz. Conseguiram que fosse contratada como sua assistente, uma antiga colega do MIT, na verdade, a serviço do aparelho militar dos USA. A idéia era recrutá-lo para a NASA.
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A moça não chegava a ser espiã, seu interesse maior era trabalhar com João Luiz a quem admirava como cientista. Era jovem, bonita, falava corretamente português brasileiro, alem de mais três idiomas. No campo das pesquisas, interessava a João Luiz sua fluência em japonês e mandarim. Passou a ser sua companhia permanente em palestras, seminários e na elaboração de papers.
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João Luiz era casado com a diretora de um colégio, mulher culta e elegante. Ela despertava a atenção, e sabia disso, os comentários que recebia eram de elogio à sua beleza e ela vaidosa, sorria discreta com os olhos.
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A proximidade maior do físico com sua assistente, como previsto pelos que a haviam indicado, tornara-se um jogo perigoso de xadrez. Levou quase um ano para que João Luiz passasse a notá-la como mulher, apesar dos gestos e insinuações sutis que ela provocava.
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Viajaram juntos a São Paulo, para um seminário e se hospedaram em um só quarto como marido e mulher.
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João Luiz esquecera no quarto do hotel sua agenda, o gerente querendo ser gentil, telefonara à sua casa e comunicara a verdadeira esposa que a enviaria por sedex. Embora o telefonema não fosse explicito, ela entendeu o que se havia passado.
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Ao regressarem de carro, João Luiz e agora sua querida, e assistente, foram colhidos pela fatalidade, um caminhão de entregas na contramão, destruiu na colisão o carro deles, a moça teve morte instantânea. João Luiz com vida levou horas para ser retirado das ferragens retorcidas. Houve tempo para que sua esposa chegasse ao local do acidente e providenciasse sua remoção para a UTI.
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Oito meses se passaram, as intervenções cirúrgicas se sucediam, não sofrera danos cerebrais, sua cabeça protegida, por uma dessas ironias do destino, pelo corpo da jovem.
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A esposa, nesse tempo, ao seu lado.
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João Luiz recuperou-se com sequelas que o impediam de caminhar normalmente, a mulher ajudando-o, a expressão grave, guardava a mágoa profunda da lembrança de ter visto os amantes abraçados inertes, por ocasião do desastre.
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Quase um ano depois, João Luiz retornava a sua vida quase normal, permanentemente acompanhado por um enfermeiro que o amparava, agora duas vezes físico, em ciências e dependência.
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O casal se separara.
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A diretora voltara para o colégio, trilhava seus antigos caminhos e sorria não mais só com os olhos.
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Foi quando a conheci.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

segunda-feira, 9 de maio de 2011

CONTOS DO MUNIR - 63

O TEMPO E PESSOAS
Parte 2-23/04/2011
EDUARDA

Eduarda é linda. Olhos negros, enormes, o nariz afilado por natureza o que nenhuma cirurgia plástica seria capaz de imitar, cabelos longos também escuros que ela ainda escurecia mais. Pernas longas, as coxas realçadas pelo biquíni. Atraia a atenção na praia, corpo de modelo, mas não anoréxico, curvas definidas, porte esbelto. A tez, de uma italiana do campo, dourada pelo sol do Leblon.
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Casada, tem trinta e cinco anos, três filhos: o mais velho, um menino de doze anos, depois uma menina de dez e outro menino de cinco. Está sempre na praia em frente ao Hotel Marina no Leblon, na rua onde mora. Fiel ao marido, não olha para ninguém. Ela mesma, não sabe o porquê, começou a prestar atenção ao jovem recrutado pelo exército que passava com sua farda de soldadinho, cabeça quase totalmente raspada. Antes usava o corte, ou melhor, o não corte dos meninos de dezoito anos. Era assim que Eduarda costumava vê-lo.
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O rapazinho tinha olhos claros, refletiam brilhando pelo uniforme e gorro verde oliva.
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Transformaram o olhar de Eduarda, passou a ver nele um homem, daí nutrindo uma paixão inexplicável pelo garoto, acordando nela um desejo de sexo que ela já não mais desfrutava com o marido.
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A principio tentou reagir, o mirar do rapaz respondia ao seu.
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Certo dia, ao voltar do colégio onde deixara os filhos, se encontraram, e ela, tomada por um impulso, o chamou para sua casa e uma rotina de amor e sexo ficou definida. Foi seu primeiro amante. Outros, ao mesmo tempo ou não, se sucederam, o sexo despertado tornou-se uma obsessão. O piloto da Varig, casado, fazia uma escala alternativa ao passar de carro pela sua casa. O rapaz rico do Maranhão, que vinha ao Rio tratar de seus negócios, passou a fazer parte do seu círculo amoroso.
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Católica, frequentava a igreja aos domingos, sempre confessava, fazia sua penitência, não resistia às tentações.
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O padre que a atendia foi transferido à outra paróquia. O substituto, rigoroso, negou-lhe a absolvição, proibindo-a de comungar.
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Eduarda passou a viver em um estresse permanente, nada a acalmava, vivia insatisfeita, nem o sexo lhe dava alegrias, buscou refúgio no fumo. O Convento de Santo Antonio era agora sua igreja, era seu momento de paz, mas na saída se encontrava com um de seus namorados e seguia para o motel.
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Primeiro cenário:Trinta anos mais tarde...
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O fumo alterara suas feições, o rosto suave estava agora sulcado de rugas, respirava com dificuldade, teve um princípio de AVC e o antigo porte ereto, elegante já não mais se sustentava, uma acentuada perda capilar podia ser notada, apesar de toda tinta negra usada.
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Enviuvara há alguns anos e teve que dividir, em juízo, a pensão do marido, que já não era grande coisa, com a amante dele.
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O soldadinho havia arranjado uma namoradinha e passou a chamá-la de tia (ninguém merece)
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O piloto da Varig, que a vinha ajudando a pagar o condomínio, com a falência da Companhia, perdera a pensão da Aerus e não mais contribuía.
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O empresário do Maranhão se candidatara a deputado e, mesmo tendo empenhado quase a totalidade de sua fortuna, perdera as eleições e não viajara mais para o Rio.
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Desencantada com a religião não frequentava mais a igreja.
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A filha que não gostava de trabalhar tentou, sem sucesso, chantagear os antigos amantes da mãe.

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A diversão de Eduarda passou a ser o Mac’donalds comer hambúrguer.
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Segundo cenário:Trinta anos mais tarde...
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Eduarda parara de fumar desde a volta de seu antigo confessor. Passara a comungar, uma paz extrema começara a envolvê-la. O sexo, já há muito deixara de ser a coisa mais importante de sua vida. Tornara-se fiel. No Convento de Santo Antonio, rezava pela tranquilidade de seu casamento, estava sendo atendida. O marido passara a buscá-la quando saia do trabalho.
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Os anos passaram e ela, nunca deixando de ser ela mesma, conservava sua beleza apesar do tempo inexorável. A suavidade e a tez de sua pele pouco se alteraram. O marido falecera e lhe deixara um seguro e uma pensão que lhe proporcionavam uma vida confortável. Praticava Pilates três vezes por semana que se espelhava em sua elegância e porte de manequim, apesar de contar com mais de sessenta anos. Era tão paquerada quanto às outras de trinta.
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Eduarda já era avó coruja de duas meninas e um menino, para quem dirigia seu afeto.
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O empresário do Maranhão, depois de perder as eleições entregara-se as drogas cometendo um suicídio lento, mas eficaz.
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O ex-soldadinho seguira carreira no Exército, era major, havia se casado e a convidara para madrinha de seu casamento, depois de seus filhos e nutria por ela uma grande amizade e consideração.
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O antigo comandante da Varig passara para a TAP, onde continuou sua vida de piloto, voltara ao Brasil já viúvo e por um desses arranjos do destino matriculou-se na mesma academia de ginástica.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

domingo, 8 de maio de 2011

ARTIGO DO AUGUSTO ACIOLI

“Bullying, Trote & Morte”
por Augusto Acioli de Oliveira, economista

Vez por outra surgem palavras ou expressões nos diálogos do dia-a-dia de nossas ruas que surpreendem até mesmo aqueles mais letrados ou melhor pontuados no quadro geral do grau de alfabetização da população brasileira.

Palavras estrangeiras como cheeseburger, hot-dog, hamburger, ... incorporaram-se com rara desenvoltura e naturalidade aos diálogos de pessoas que apesar de desconhecerem suas origens lingüísticas, rapidamente, passaram a traduzir seus significados em idioma pátrio, adaptando-os, inclusive, a cardápios tupiniquins: daí, X-Burguer, X-Tudo, Dog-Tudo, Cachorro-Quente, ...

De uns tempos para cá nossa mídia começou a dar destaque à palavra bullying, em face de seguidos problemas surgidos nas escolas do país envolvendo jovens voltados para a prática de violência em relação a colegas mais fracos, fisicamente, inseguros ou precariamente assistidos por pais, professores e autoridades.

Afinal de contas, o que este termo inglês significa?

“Bullying é uma forma utilizada para descrever-se atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, "tiranete" ou "valentão") ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz (es) de se defender.” (fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre)

Chega a soar como hilário o fato de somente agora os principais noticiosos haverem começado a divulgar, com alguma insistência, algo que já vem atemorizando e coagindo escolares e cidadãos, com crescente intensidade, ao longo das 05 (cinco) últimas décadas.

Paralelamente, será que a memória popular esqueceu as famosas turmas de ruas, clubes, colégios, pitboys ... que ainda se postam na saída de festas, jogos ou aulas e esperam suas desatentas vítimas para agredi-las ou massacrá-las nas calçadas diante de transeuntes paralisados pelo medo?

Os alegados desconhecimentos de tais ocorrências, o silêncio imposto pelos mais fortes ou posturas hipócritas daqueles que deveriam zelar pela integridade física dos personagens-alvo têm contribuído para cobrir de humilhações, hematomas ou tingir com sangue, rostos, corpos e vestes daqueles que não sabem ou conseguem defender-se das retaliações promovidas por insanos.

Minha convicção de que “Bullying & Trotes” fazem parte do mesmo problema foi fortalecida ao assistir, em passado recente, uma entrevista concedida por diretor de conhecida e respeitada instituição federal de ensino informando aos jornalistas que a prática de trotes era algo que se assemelhava a uma tradição daquela Casa e que ele mesmo, seu administrador, havia passado por tal iniciação ou batismo, daí, entender o fato como de pouca importância, por ser temporário e se incorporar às memórias futuras de todos aqueles que cursarem aquele prestigiado centro de formação profissional. Obviamente, sua leitura míope sobre o assunto não alcançava ou admitia a possibilidade de que os agraciados por aquela “distinção carinhosa” poderiam estar em desacordo com tal prática.

Se alguém ainda tem dúvida de que o exercício da covardia possui limites está enganado, pois milhares de adultos guardam nas caixas-pretas de suas mentes pavorosas histórias de abusos diversos, inclusive sexuais, sofridos em colégios, clubes, condomínios, etc., a título de trotes.

Equivocam-se aqueles que imaginam que esses tipos de ocorrência somente têm lugar em centros de recuperação ou detenção de menores, delegacias policiais, penitenciárias, ...; esses locais são, tão somente, os de maior visibilidade.

Procurem informar-se e começarão a perceber que nem sempre as áreas de lazer de prédios residenciais, instituições de ensino ou agremiações esportivas são lindas e coloridas para todos aqueles que por elas circulam.

Olhem bem para uma criança de 05 (cinco) anos e, em seguida, para seus coleguinhas de 06 (seis), 07 (sete) e 08 (oito) anos e irão constatar significativas diferenças nas constituições físicas dessas 04 (quatro) faixas etárias.

Daí, um infante mal orientado em cenário doméstico pode vir a desenvolver um perfil violento e adotar posturas anti-sociais em face de seus amiguinhos provocando-lhes severas contusões, muito embora suas respectivas diferenças nominais de idade não alertem para tal possibilidade. É muito comum ouvirmos: “Não se metam: é briga de crianças!”.

O que devemos fazer então?

Educá-las, a partir da mais tenra idade para a vida em sociedade e, progressivamente, instruí-las quanto às suas responsabilidades. É óbvio que aqueles que assistem a seus pais ultrapassarem os sinais vermelhos ou aos demais carros pelo acostamento, dirigirem alcoolizados, acionarem a buzina, a todo instante e por qualquer motivo, xingarem e ofenderem aos demais motoristas, urinarem, cuspirem ou jogarem lixo nas ruas, conduzirem ferozes cães, sem focinheira, desrespeitarem os demais banhistas disputando partidas de frescobol ou participando de acintosas e irresponsáveis rodas de futebol de areia à beira-mar e no meio do público, jamais entenderão tais ocorrências como algo errado e sim, como ensinamentos a serem seguidos. Um menor que presencia familiares ofenderem-se e agredirem-se, rotineiramente, com gestos, palavras, ações ou objetos, terá muita dificuldade para absorver e neutralizar a repercussão de tais atos em sua formação cidadã.

Isso ajuda a explicar a evolução, banalização e crescimento de crimes como o bullying, trotes, etc., que nada mais são do que estágios avançados de um comportamento anti-social que agrega deformações de caráter a impunes atos de sadismo e barbárie.

Que pena deveria ser aplicada aos assassinos de um jovem calouro de uma faculdade de medicina, filho de descendentes chineses, recém-aprovado em concurso vestibular que, ao comparecer ao trote realizado nas dependências de uma universidade foi, covardemente, torturado, com requintes de crueldade, em uma piscina existente naquela unidade escolar, por colegas veteranos prestes a fazerem o Juramento de Hipócrates, performance que lhes foi permitido realizar algum tempo após o trágico episódio.

A lamentar que tais criminosos tenham conseguido diplomar-se naquela ciência, estejam livres e exercendo uma atividade profissional que se caracteriza, justamente, por salvar vidas, curar ou minorar o sofrimento daqueles que padecem enfermos, enquanto as feridas dos familiares, amigos e colegas do estudante cuja vida foi brutalmente ceifada permanecerão abertas e sangrando até o dia em que a justiça divina lavre sua sentença e corrija a imperdoável omissão da sociedade dos homens.

Embora o foco das lentes esteja, hoje, voltado somente para jovens e unidades de ensino, todos nós sabemos que em pátios ou playgrounds de condomínios, praças, ruas ou esquinas de qualquer cidade do Brasil ou de outros países, bullying, trotes, ou que nome queiram conferir a tais brutalidades, sempre estarão presentes.

Somente aqueles que viveram tais pesadelos sabem o que significa sofrer ofensas e ameaças diárias à integridade física sem dispor de meios para a elas se contrapor.

Em minha juventude eu era magro, de baixa estatura, com desempenho escolar satisfatório, e sempre procurei me relacionar bem com os demais colegas, porém, isso não me livrou de, vez por outra, sofrer ameaças de agressões patrocinadas por pessoas covardes e fisicamente mais fortes.

Essa foi a razão que me levou à prática do Judô, principalmente, para desenvolver a autoconfiança, a disciplina e o aprendizado de defesa pessoal. A partir daí, nunca mais sofri qualquer ato de confrontação que não soubesse como reagir ou a ele me opor. Passei a entender que a razão da agressividade dos outros é, justamente, causada pelo grande vazio existente em suas vidas, gerado por absoluta insegurança, pavores, angústias e situações não resolvidas que pululam em suas mentes, levando-os, inclusive, à pratica de ações capituladas no código penal, que objetivam mascarar uma realidade intestina que um simples espelho seria capaz de desnudar.

Quantos cidadãos que foram com seus familiares à praia em busca de lazer já sofreram fraturas e lesões provocadas por boladas na vista, cabeça, seios, costas, bem como pancadas desfechadas por violentas raquetadas? E o elevado número de agredidos diante de seus próximos por ousarem reclamar de tais infratores? Como devemos denominar tais situações?

Quanto ao trote, de qualquer tipo, que considero tal qual a maconha como o primeiro e transparente degrau na escala de violência entre iguais, está a merecer ações institucionais que o reprimam em seus aspectos negativos, porém, transformem sua natureza em elemento de fortalecimento das relações entre os cidadãos seja estimulando campanhas de doações coletivas de sangue a hospitais, realização de bailes para recepcionar e entrosar os calouros no cenário estudantil, tal qual aqueles promovidos nos anos cinqüenta e sessenta pelos integrantes do Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da antiga Universidade do Brasil, situada no bairro Praia Vermelha, na Cidade do Rio de Janeiro que, não satisfeitos ainda idealizaram, projetaram e construíram o primeiro teatro de arena naquele campus, recebendo o Presidente da República Juscelino Kubitscheck e o então Magnífico Reitor, Prof. Pedro Calmon na data de sua inauguração e lá realizaram o primeiro, inesquecível e histórico show de bossa-nova no país.

É, naqueles tempos, enfrentava-se o hoje conhecido “bullying”, a violência dos trotes e outros males, com música, dança, arte cênica, cine-clubes, concursos e exposições diversas, gincanas, enfim, atividades recreativas que seguiam em paralelo à vida escolar e cujo principal objetivo era criar um clima de perfeito entrosamento comunitário.

Penso que o ponto de partida para que se possa reduzir e, progressivamente, eliminar a prática do bullying, trotes,... é através da própria sociedade constituída assumindo o papel de educar o cidadão, de forma compulsória, desenvolvendo e implantando ações institucionais que inibam a prática de atos anti-sociais, tipo: “Lei Seca” neles, andou com cachorro nas ruas sem focinheira e atestado de vacinação apreenda-se o animal e responsabilize-se o condutor; circulou pelo acostamento ou em ziguezague por rodovias e vias públicas, apreenda-se o veículo, detenha-se o infrator e aplique-se elevadas multas e severas punições; jogou frescobol, rodas de futebol de areia à beira-mar em prejuízo da circulação de banhistas, detenha-se o transgressor (es) conduzindo-o (s) à delegacia policial da jurisdição, para abertura de processo criminal, destinando-se os equipamentos assim apreendidos para doação a entidades assistenciais,...

Em outras palavras, basta aplicar o lema de nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.

Concluo este texto apresentando minha proposição para sejam proibidos no Brasil os chamados trotes ou quaisquer atos e práticas que contribuam para humilhar, fragilizar moral ou fisicamente os cidadãos que estudam, trabalham, residem em nosso país, ou por aqui transitam. O respeito aos direitos humanos não pode continuar sendo entendido, nesta terra, como um conceito a ser aplicado somente em face de clamores pontuais e sim como um bem intangível essencial, inegociável e eterno que contemple todos os segmentos da sociedade brasileira.
Autor: Augusto Acioli de Oliveira - Economista
email: augao148@gmail.com

quarta-feira, 4 de maio de 2011

CONTOS DO MUNIR - 62

O TEMPO E PESSOAS-sete de abril de 2011
Parte 1
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NAHOUN
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Nahoun, trinta e poucos anos quando o conheci. Vive em Brasília, em uma casa no Lago Sul, empresário de sucesso, mora também na Delfim Moreira, orla do Leblon, badalado bairro do Manuel Carlos e brasileiramente conhecido pelas novelas da TV Globo.
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Nahoun tinha o hábito de nadar do Arpoador até o Leblon, precisamente até a esquina da Rua Rita Ludolf com a praia onde fica o prédio do seu apartamento. Ao sair do mar, corria mais 6 km, uma espécie de triátlon, de sexta a domingo. As segundas, regressava a Brasília sede de sua empresa.
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De físico privilegiado, atraía as meninas da praia, nem precisava sair de casa, elas iam lá. Às vezes, vinha acompanhado já de Brasília.
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Sua face parecia ser esculpida. Traços angulosos em harmonia de um desenho bem feito. Tinha o sorriso largo, os dentes, aparentando sair de um clareamento, outra particularidade de seu rosto.
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Tudo indicava que iria envelhecer saudavelmente. O destino o apanhou no Arpoador. Escorregando no limo da pedra de onde mergulhava, bateu com a nuca, não chegou a perder os sentidos, ficou um pouco tonto e logo se recuperou. Achou que não era nada de grave, nadou e correu como sempre fazia.
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Quase três meses depois, começou a sentir leves tremores que, entretanto, não afetavam a seu desempenho físico. Submeteu-se a minuciosos exames que nada revelaram. Seu corpo sofria alterações: uma inclinação do tórax para frente, a princípio quase imperceptível, acentuava-se com o tempo. Em um ano, já se podia notar. A natação não sofrera efeitos, a corrida, entretanto, mais lenta, os tremores se acentuaram. Baterias de exames, tomografias: foi virado pelo avesso, os resultados sempre negativos atestavam uma saúde invejável.
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Seu equilíbrio tornava seu caminhar difícil, não deixava de fazê-lo. Inclinava-se para frente a cada passo em um balançar constante, a compleição física pouco se alterava quando sentado.
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Agora era pouco visto no Rio. Quando nos encontrávamos, estava sempre alegre, contando suas façanhas amorosas. O tempo foi se encarregando de incliná-lo cada vez mais, o balançar ficou desengonçado, o equilíbrio complicado, e emagrecera um pouco. Dizia, feliz, que sua performance na cama era de um rapaz de vinte. Já estava com quase setenta.
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Encontrei-o no carnaval deste ano no bloco “Empurra que Pega” no Leblon. O ritmo da bateria aliado à senha disseminada, latinha de cerveja na mão, integrava os foliões em um caos ordenado. Nahoun tinha agora acompanhante, uma senhora, que aparentemente não o deixava cair. No entusiasmo dele, ela é que era arrastada por aquele homão cambaleante, quase inclinado em noventa graus.
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Nahoun parecia mais contente do que nunca, avançava desequilibrado no meio dos carnavalescos, foi quando topei com ele.
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Nós dois, já meio sob o efeito de nossas senhas, a minha latinha era de vodka e a dele, percebi pelo olor, algo mais forte. Sorrimos os dois. Ele com o sorriso de trinta anos atrás como se fosse o mesmo jovem. Eu nem tanto. Perguntou a razão do meu sorriso triste. Não consegui responder.
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Percebi então que o tempo fora mais cruel comigo.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

ARTIGO DO GUI

SATURDAY NIGHT SUNDAY MORNING
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Enquanto a bola gira TUDO MUDA. Pra melhor? Who knows? Conto de Fadas na Catedral + bonita do mundo. Abadia de Westminister. Cortejo e Carruagem aberta até o Palácio de Buckinghan. Príncipe Williams (Messi Rubro-Negro) & "plebéia" Kate Middleton. Viva Inglaterra! Viva Flamengo! Até morrer! Falou em morrer...Psiuu algo pôdre no reino da Dinamarca. Faltou Lady Di, a eterna, inigualável, embaixadora do amor. Aos aidéticos, aleijados das minas. Realeza Britânica planeja acidente fatal...Dodi Al Fayed, bilionário egípcio. Agora meu inimigo Charles poderia se casar com a Duqueza de QUÊ?? Cornualha!@#$%! Depois dessa eu jogo a toalha. A fila anda. Ana Bolena decapitada...Henrique VIII. Cortezã Sarah Bernhardt...Eduardo VIII, abdicou, em compensação comeu todas, bebeu todas, o tempo todo, depois MOLEU.
Carnaval em Times Square: OBAMA MENGÃO CAMPEÃO! Bonde sem Freio invade madrugada em New York! Osama bin Laden, al-Qaeda, "Al Jihad", Talibãns, morreu. Cadê o cadáver? Sumiu. Por essas besteiras e outras que dizem que Hitler está vivo. Sua ficha tinha DNA? Não creio. A.al Zawahri ainda em pé. H. Clinton foi sábia, deu uma de Salomão, propos trégua e diálogo. INVEJA e VINGANÇA, só com AMOR. Mas CIA&FBI bobearam, WTC já tinha sofrido atentado frustrado. Terroristras treinados pelos EUA!@#. Ninguém sabia IDIOMA deles. A 2ª Guerra foi ganha também pela Logística e Estratégia, descobrindo CÓDIGOS. Nostradamus: Cinq et quarante degrés ciel brulena ( NYC é 40,5 ° latitude) Feut approcher de la grande cité neuve (NYC) Instant grande flmme éparse sautera...Isaías 2:12-15 Senhor dos Exércitos é contra o que se exalta, soberba, Cedro do Líbano, Carvalhos de Basã, TORRES ALTAS, muralhas firmes, em 732 AEC. Ellen White: convidada para à noite apreciar NYC seus edifícios...visão: Se transformarão em cinzas, alarma de fogo consumidos como se feito de pez, aparelhos contra incêndios nada podiam fazer. Bombeiros não podiam fazer funcionar suas máquinas, 1901, The Adventist Bible Commentary Vol 5 pg 1.098 O mais importante é saber porquoi?Tanto ódio? OBAMA MENGÃO disse que os EUA não querem MANDAR NO MUNDO, só queremos todo ano levantar todas as TAÇAS USA!USA!USA! É bão! E a Igreja do IMPÉRIO ROMANO, novamente, tal qual quando vendia bilhetes pro céu, ou incendiava cientístas, monges, usurpa o trono de JESUS CRISTO, beatificando o papa, o juiz que deu penalty a favor do Hawai contra o Botafogo e o que não expulsou o jogador do Corinthians contra o Palmeiras. Palavra idólatra, sempre rejeitada veementemente pelos apóstolos, ao curarem cegos, paralíticos, endemoniados. Não agradeçam a mim e sim ao MESTRE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.
Francisco Apocalypse Dantas- Médico Escritor

E-mail apocalypsedantas@uol.com.br