DIANA
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Diana é
morena, bem jovem.
Luiz fazia
alongamento em um dos bancos de cimento no Largo do Millor.
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Até
há pouco tempo, um ônibus da Comlurb estacionava lá, largava os garis,
equipamentos, e não desligava o motor para que o motorista lesse o seu jornal
no fresquinho do ar condicionado. A descarga do diesel, mal regulado, poluía o
ambiente. O visual, já prejudicado pela escultura do humorista, era mais
sacrificado pela enorme viatura que obstruía a paisagem.
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De nada
valiam as reclamações telefônicas de Luiz à Prefeitura, até que um dia, um
cachorrinho quase foi atropelado. A dona, uma professorinha, reclamou e o
ônibus sumiu.
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Diana,
sentada em um dos bancos da mesa dos coroas jogadores de damas, contemplava o
mar. Era obrigada a olhar Luiz com sua ginástica no ângulo de visão.
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Diana está
espantada com a luminosidade do Arpoador.
No seu
banco a sombra do coqueiro a incomoda. Ela quer claridade.
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O short de
Luiz, camisa e capacete na mesa do sol.
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Pergunta a
Luiz:-Posso me sentar aí?
Claro!-
Ele diz.
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Diana se
queixa:
-Lá de
onde venho é mais escuro, um pessoal diferente, aqui é outra coisa, tem brilho.
O cheiro do mar, as montanhas, a gente vê o Cristo. Deve ser por isso que vocês
vivem mais.
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Luiz,
curioso, pergunta de onde ela vem. Ela diz:
-Sou de
Goiânia, casada e separada, lei Maria da Penha, alojada em um cubículo na Rua
Rodolfo Dantas em Copacabana. Deixei os meninos com minha mãe.
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Diana
parece alta, bonita, embora dê para notar que foi, e está sendo maltratada pelo
tempo sem alegrias. Seus cabelos são castanhos cortados curtos, ela é que
apara.
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Luiz
pergunta a idade dos meninos.
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-Dezessete,
quinze e doze. Continuou:
-Casei
aos dezesseis e tive o primeiro aos dezessete, no ano passado me separei, vim
para o Rio ver se arranjo emprego e também para fugir de problemas. Na Rodolfo
Dantas está um senhor amigo da minha família, mas com todo respeito. Ele dorme
com a namorada.
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Luiz não
entende o que ela quis dizer “com todo respeito”- ele já tinha ouvido essa
expressão de outras moças, parece que elas falam assim pra dizer que não rola
sexo no pedaço. Luiz tem um pensamento estranho; o marido a dizer para a esposa:
“Querida, com todo o respeito vá para cama e tire sua calcinha que quero fazer
amor com você”
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Diana:
- Quero
arranjar um emprego de caixa, é o que mais gosto, eu já fui caixa de boutique,
de banco -puxa como os bancos ganham dinheiro, e pagam mal.
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No calçadão
passa uma senhora idosa com uma acompanhante.
Diana vê e
comenta:-
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-Bem que
eu gostaria de trabalhar assim, adoro ajudar as pessoas.
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Luiz faz
as contas, Diana deve ter trinta e quatro anos.Ele está com setenta e seis,
daqui a dez anos terá oitenta e seis, e Diana quarenta e quatro. Quem sabe, ele
não estará então precisando de alguém para ajudá-lo?
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Luiz fala,
entre brincando e sério:-
-Quem sabe
eu contrato você.
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Ela:-
-Que nada,
você é saradão!
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Sentada e
relaxada, Diana parecia pesada, vestia calça jeans e blusa branca, sem
maquiagem e sem batom.
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Diana
pergunta:-
-Você
poderia tirar uma foto minha, com aqueles dois morros atrás e mandar para meu
filho em Goiânia?
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Ela se
levanta, e Luiz percebe como é realmente alta, tem o corpo esguio e bem
proporcionado, o rosto oval, olhos negros, lábios finos, mistura longínqua de
ancestrais indígenas.
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Luiz a
repagina em sua mente, os cabelos tratados, saltos altos, maquiada, um vestido
chique, o sorriso branqueado, um pouquinho de academia...
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Diana se
posiciona deixando os montes Dois Irmãos às suas costas. Um vento vindo do Sul
agita levemente seus cabelos, os botões de seus seios enrijecidos pelo frio
marcam a blusa.
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Doze anos
mais tarde, Diana sai diariamente do Leblon pedalando, acompanha Luiz que vai
de bicicleta elétrica ou de poltrona motorizada até o Arpoador.
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Os
rapazes, filhos de Diana se formaram graças a Luiz; eles ainda estão com a avó. Diana viaja para revê-los e matar as saudades também do rio Araguaia, o retrato
dela, com a vista dos Dois Irmãos, em destaque na sala.
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com