sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ARTIGO DO AUGUSTO ACIOLI

O
JUDÔ BRASILEIRO
POSSUI MESTRES & HERÓIS”







HOMENAGEM A LUIZ ALBERTO GAMA DE MENDONÇA
Esta história começa na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 17 de março de 1938. Nascia naquela data Luiz Alberto Gama de Mendonça, um brasileiro que viria a se tornar, em 1960, aos 22 (vinte e dois) anos de idade, nosso Iº Tricampeão Panamericano de Judô, feito sem precedentes para aquela época, principalmente, se levarmos em conta que o esporte amador de então não possuía apoios ou patrocínios de qualquer espécie, inexistiam estágios técnicos nacionais ou internacionais, pouquíssimas eram as competições, os atletas adquiriam – com recursos próprios – seu material de treinamento, não havia acompanhamento por parte de clínicos, fisioterapeutas, nutricionistas, etc. Na maioria das vezes os competidores mais graduados acumulavam a função de treinadores de seus colegas de delegação.
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Era com muita alegria que os cariocas viajavam no mês de julho de cada ano para disputar, na Cidade de São Paulo, os torneios “Ju-Kendô Remmei” ou “Budokan”, que reuniam, no Ginásio do Pacaembu, os mais qualificados lutadores de Judô de todo o país.
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Para que um praticante pudesse especializar-se no Japão, por exemplo, seus parentes, colegas de academia e amigos cotizavam-se para custear passagem aérea, hospedagem e alimentação durante o período em que lá permanecesse.

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Esses verdadeiros guerreiros sobreviviam de forma espartana, voltados, tão somente, para a prática de rigorosos treinamentos e os que aqui ficavam aguardavam seus retornos, com ansiedade, para ouvi-los repassarem as técnicas aprendidas e praticadas.

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Eram tão poucos a realizar tais sonhos que aqui no Brasil – o fato parece incrível se levarmos em conta a dimensão continental deste país – conhecíamos, pelo nome e cidade de origem, os que se encontravam estagiando.

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Os filmes, em preto e branco, produzidos em campeonatos internacionais ou apresentando treinamentos em academias, no exterior, eram assistidos repetidas vezes como se inéditos fossem.

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Todos recorriam às bibliotecas públicas para a obtenção de aprendizado adicional, pois, até mesmo livros de judô eram de difícil obtenção, raros, editados em outros idiomas e de elevado custo.

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Estas considerações iniciais foram feitas para que os leitores melhor pudessem avaliar o formidável desafio que aquele jovem chamado Luiz Alberto Gama de Mendonça iria enfrentar ainda em sua juventude.

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Até os 16 (dezesseis) anos não havia conseguido identificar qualquer atividade esportiva que o atraísse.

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A mão do destino, entretanto, estava lhe preparando uma surpresa quando o guiou até à Academia de Judô do professor Augusto Cordeiro (Rua Barata Ribeiro nº 530, no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro) e o motivou a assistir um treino.

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“Constatei naquele importante momento de minha vida, que estava sendo apresentado, ao vivo e a cores, ao esporte com que sempre havia sonhado. Iniciei o seu aprendizado pelos rolamentos; a seguir, os golpes mais simples e pouco a pouco vi crescer dentro de mim uma chama a cada dia mais forte e eterna, bastando ouvir tão somente 02 (duas) sílabas mágicas: JU-DÔ”, lembrou saudoso.

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Teve uma carreira meteórica com títulos internacionais sendo conquistados já a partir de seus 18 (dezoito) anos de idade. Inúmeras vezes campeão em disputas estaduais, interestaduais e nacionais, soube, também, honrar nossa bandeira no exterior, pela forma com que se portava, técnica invejável que possuía, combatividade extrema e a firme determinação de entrar na área de luta para vencer não importando quem fosse o adversário da vez. Este era o seu estilo de pensar e agir.

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A primeira meta conhecida a que se impôs foi em Cuba 1956. O resultado não poderia ser outro: retornou ao Brasil trazendo na bagagem o troféu de Campeão Panamericano de Faixa-Marrom.


CAMPEONATOS CARIOCA

Este velho escriba foi um dos privilegiados que assistiram Luiz Alberto Gama de Mendonça travar emocionantes disputas nos tatames montados na então denominada “Sede Velha do Clube de Regatas do Flamengo", situada à Praia do Flamengo nº 66, no Bairro de mesmo nome, localizada próxima aos fundos do terreno onde encontram-se os jardins do Museu da República (antigo Palácio do Catete). Só havia uma área de luta e o público se posionava, praticamente, em cima dos combatentes, tal qual uma arena romana. Ouvia-se o respirar dos atletas e, mentalmente, os que ali estavam sentiam-se usando quimono e portavam-se, respeitosamente, como se estivessem sobre o “shiai-jô”.

Hane-goshis, U-chi-matas, O-soto-garis, De-ashi-barais eram desferidos por aquele atleta de forma fulminante, indefensável e com uma surpreendente velocidade para alguém de elevado peso.

Apesar de ser carinhosamente chamado pelos amigos e colegas de treino de “Gordo”, lentidão e preguiça eram as únicas características que aquele pesado não possuía, muito pelo contrário.


As fotos de suas lutas mostram projeções executadas no tempo exato e com desequilíbrio preciso e técnica apurada.

Luiz Alberto Gama de Mendonça em pleno “Ippon” no Campeonato Carioca

Nesse cenário pude assistir memoráveis combates travados entre os integrantes da Academia de Judô Augusto Cordeiro, Academia Hermanny, Academia Japonesa, Academia Suburbana, Academia Haroldo Brito, Academia Mehdi, Academia do C.R.Flamengo, Academia Ren-Sei-Kan dentre as mais conhecidas.

Uma das formações da Academia de JuAugusto Cordeiro que vi combater: Andras Vasarhelyi, Luiz Raimundo (o conhecido 21), Luiz Alberto Gama de Mendonça, Carlos Bartolomeu Cavalcante e Isidoro Raposo.

Luiz Alberto Gama de Mendonça é o primeiro da direita para a esquerda.

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Inúmeros outros praticantes abrilhantaram aquelas competições, dentre eles: Rudolf de Otero Hermanny, Shunji Hinata, George Mehdi, Harry Rutman, Hélcio Gama, Newton Kleber de Thuin, Enzo Confetura, atletas formados pelos Professores Theóphanes Mesquita, Haroldo Brito e Leopoldo de Luca, Raimundo Faustino, Takeshi Ueda, Antonio Vieira, Yoshimasa Nagashima, M. Oguino, dentre outros.

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Naqueles tempos, comparecer a torneios era uma importante alternativa que os praticantes dispunham para aprenderem novastécnicas de golpes, contragolpes, regras e normas de arbitragem, bem como conhecerem, pessoalmente, os nossos mais destacados representantes.

PRINCIPAIS TÍTULOS CONQUISTADOS POR

LUIZ ALBERTO GAMA DE MENDONÇA

1956 - IIº PANAMERICANO DE JUDÔ - HAVANA – CUBA

Delegação Brasileira - Massayoshi Kawakami, Augusto Cordeiro, Shunji Hinata, Paulo Falcão (dirigente), Hickari Kurachi, Luiz Alberto Gama de Mendonça e Milton Rossi

Luiz Alberto Gama de Mendonça, CampeãoFaixa - Marrom abraça Hickari Kurachi, Campeão Faixa - Preta 4º Dan e também um verdadeiro herói, pois, seriamente, lesionado durante a luta final pelo título, não quis interrompê-la, e combatendo com apenas a habilidade de um dos braços, obteve a vitória. Tão logo desembarcou no Brasil foi encaminhado a um hospital sendo, imediatamente, operado nos ligamentos à altura de um de seus cotovelos.

1958 - IIIº PANAMERICANO DE JUDÔ - RIO DE JANEIRO – BH – BRASIL

Em pé: Shunji Hinata, Luiz Alberto Gama de Mendonça, Akira Yamamoto.
Ajoelhados: Massayoshi Kawakami e Manabu Kurachi

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30/11/1958 - IIº CAMPEONATO MUNDIAL DE JUDÔ – TÓQUIO – JAPÃO

A seleção brasileira de Judô composta por Masayoshi Kawakami, Akira Yamamoto e Luiz Alberto Gama de Mendonça em companhia de um membro da Família Imperial Japonesa.

Massayoshi Kawakami, Luiz Alberto Gama de Mendonça, Akira Yamamoto e atletas de outros países.

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1960 - IVº CAMPEONATO PANAMERICANO DE JUDÔ - CIDADE DO MÉXICO – MÉXICO

Equipe Brasileira Bicampeã Panamericana de Judô – México – 1960

Shunji Hinata, Massayoshi Kawakami, Rudolf de Otero Hermanny e Luiz Alberto Gama de Mendonça. Diretor Técnico: Prof. Augusto Cordeiro

Os Bicampeões Panamericanos Massayoshi Kawakami e Luiz Alberto Gama de Mendonça ladeados pelo atleta Luiz Raimundo (“21”) e os torcedores e amigos Mario Silva e José Andyara Infante Vieira.

Em momento de lazer e já Bicampeões Panamericanos, Massayoshi Kawakami, Rudolf de Otero Hermanny, Luiz Alberto Gama de Mendonça, dois dirigentes, Prof. Augusto Cordeiro, Alvaro Loureiro (de tão grande seu apelido era Boi), Shunji Hinata, Luiz Raimundo (21), e o torcedor Mario Silva (conhecido como Mario Cavalo) receberam a visita do famoso Deputado Tenório Cavalcante, aquele da "Metralhadora Lurdinha", que levou o Grupo às gargalhadas ao explicar a técnica que deveriam aplicar para desviarem a bala de um revólver apontado para o peito.

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02/12/1961 IIIº CAMPEONATO MUNDIAL DE JUDÔ – PARIS - FRANÇA

Neste que é considerado o mais importante mundial de judô de todos os tempos, Luiz Alberto Gama de Mendonça, então com 23 anos, não logrou classificar-se, porém, lá esteve presente e pode assistir a um momento histórico que significou o fim da absoluta hegemonia nipônica nos tatames com a vitória de Anton Geesink.

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O Japão - temendo um insucesso - selecionou os seus melhores lutadores para enfrentar aquela promessa holandesa que já os vinha surpreendendo há algum tempo, inclusive, em seus próprios Campeonatos Nacionais, eventos que Geesink participava na qualidade de competidor convidado.

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A inesperada vitória de um lutador não asiático, em Paris, derrotando, sucessivamente, os mais qualificados atletas que haviam sido recrutados, naquele continente, com a missão de suplantar qualquer adversário ocidental que surgisse, pelo caminho, na disputa da classe OPEN (conhecida no Brasil como Absoluto), até então o único título em jogo, decretou o surgimento - já a partir das Olimpíadas de Tóquio (1964) e do IVº Mundial de Judô realizado na Cidade do Rio de Janeiro (1965) - de outras 03 (três) novas categorias, a saber: Leve, Médio e Pesado e o fim do mito de que a diferença de peso, a maior, não favorece àqueles que possuem idênticas qualificações técnicas.

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Para assistirem aos vídeos das 02 (duas) últimas lutas de Anton Gessink naquela inesquecível competição, basta clicarem nos atalhos, a seguir.


O primeiro, apresenta a semifinal Anton Geesink (Holanda) x Takeshi Koga

http://youtu.be/Bu_DXFVHob8

O segundo, a final entre Anton Geesink (Holanda) x Koji Sone (Japão)
http://youtu.be/sGYINZyl_co


Após colecionar, ainda jovem, tão importantes títulos, troféus e medalhas, Luiz Alberto Gama de Mendonça surpreendeu a todos ao anunciar, pouco tempo após o Campeonato Mundial de Paris, que iria encerrar sua participação em competições, face a uma nova etapa de sua vida a ser iniciada.


O judô do Estado do Rio de Janeiro (então Estado da Guanabara) e o esporte amador do Brasil necessitaram de alguns anos até conseguirem absorver esta grande e precoce perda.


Ele deixou, entretanto, às novas gerações de nosso esporte, o exemplo de uma trajetória desportiva amparada na disciplina, perseverança, coragem e amor ao país que o viu nascer.

Autor: Augusto Acioli de Oliveira

Judô Clube Juventude (1964 a 1971)

velhoescriba@gmail.com

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MENSAGEM DE NATAL DO MUNIR

Mensagem

Jesus teve o seu primeiro sono em manjedoura.

Não havia lugar para José e Maria na estalagem (cf. Lucas).

E nós, onde tivemos nosso primeiro berço?

E nem andávamos a procura de um abrigo!

Nossos anjos estavam sempre ao nosso lado.

Nossos Reis Magos, nossos pais, que tiraram de seus cofres, ouro, incenso e mirra, para nos ofertar.

E Herodes e nossos medos foram espantados por eles, guardiães que nos velavam.

De Belém, não tivemos que partir e nem nos contaram da morte de nossos irmãos.

Mas, agora, histórias tristes nos falam e as recebemos como notícias de terras distantes, que não nos dizem respeito.

Eis João Batista pregando no deserto:-

“Fazei Penitência, porque está próximo o Reino dos céus.”

A nos dizer para cuidarmos de nossos próximos e confessarmos nossos pecados.

E assim, em cada um de nós Jesus Cristo renascerá e o Céu para nós será aberto.

Ouviremos a Voz a nos dizer que somos filhos queridos, amados e protegidos.

Vamos seguir caminho, chamando pescadores.

Feliz Natal

Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ARTIGO DA MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA

DISCURSO DA IMORALIDADE

Maria Lucia Victor Barbosa

20/11/2011

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Não é à-toa que a classe dirigente petista odeia a liberdade de pensamento que inclui a imprensa livre, aquela que dá azia em Lula da Silva. Incomoda aos outrora defensores da ética o escancaramento da corrupção dos companheiros e de seus sócios em falcatruas, ou seja, da base aliada.

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Exemplos de imprensa “inconveniente” não têm faltado, a ponto de se pensar que o Brasil está sendo governado por um sindicato do crime onde larápios do povo se esparramam pelos Três Poderes, refestelados na impunidade que lhe é facultada por não serem “pessoas comuns”.

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Recorde-se, para citar um exemplo, a reportagem da Veja (31/08/2011) que trata de um dos mentores do PT, o ex-ministro, deputado cassado, chefe da quadrilha do mensalão (como a ele se referiu um Procurador-Geral da República), homem de duas caras, José Dirceu.

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Segundo a Veja, Dirceu é um homem de negócios que gosta de ser chamado de ministro e mantém uma espécie de gabinete em hotel de Brasília por onde transitam figurões como ministros, senadores, deputados, presidentes de estatais e magnatas da chamada elite capitalista. Todos devidamente fotografados pela revista para que não reste dúvida sobre os bons relacionamentos de José Dirceu junto à classe A da economia e da política.

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A romaria vai em busca da influência que Dirceu ainda mantém no Congresso, no Judiciário, nas estatais, nos bancos públicos, nos fundos de pensão, na telefonia, nas empreiteiras, nos bancos particulares. Dirceu é, pois, um “cardeal” da seita PT e seus “amigos” nacionais e internacionais contam com o sigilo da confissão e o charme do mistério que envolve os “interesses”. Portanto, Dirceu continua íntimo dos que ele chama no pior sentido de “elites”. Afinal, é “consultor de empresas”, entre outras, as do setor do petróleo e gás.

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No seu partido José Dirceu exerce enorme fascínio. Se não ultrapassa Lula da Silva, pelo menos é a segunda estrela fulgurante a ser seguida e adorada. E como tal que fez sucesso no 2º Congresso da Juventude do PT realizado recentemente.

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No evento Dirceu proferiu o discurso da imoralidade criticando a “luta moralista contra a corrupção”. Ele se referia aos movimentos espontâneos, que das redes sociais acorrem às ruas e às denúncias da imprensa não cooptada pelo governo petista.

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O poderoso homem do PT fez bonito para a juventude dourada petista, devidamente doutrinada para crer que moral é coisa de burguês. Algo que não deixa de soar delicioso porque abre as comportas da roubalheira oficial aos companheiros. Não importa se o povo é lesado pela conduta criminosa dos ministros que têm caído sob o peso de documentos, fotos, depoimentos.

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Antigamente o PT dizia ser o defensor dos pobres e oprimidos, que são os mais prejudicados pelos ministros corruptos de Lula/ Rousseff, incluindo Carlos Lupi, do Trabalho, que se agarra vergonhosamente ao cargo. Um péssimo exemplo para a juventude, mas, como ensinou a presidente no discurso do cinismo: “passado é passado”.

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Não podia faltar também da parte do misto de lobista e guru do PT o discurso contra as elites. Aquelas que sustentam as campanhas petistas e que devem lhe dar, assim como a muitos companheiros, lucros nada desprezíveis. E os jovens petistas, deslumbrados, agraciaram o ídolo com uma camiseta onde se lia: “Contra o golpe das elites – Inocente”.

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O golpe das elites, teoria da conspiração forjada por Dirceu produz aquela excitação aos que se julgam superiores por conhecer certos segredos inacessíveis ao vulgo, aquele prazer de denegrir quem se deseja atingir. Desse modo são forjados mitos que prevalecem como verdades inquestionáveis por mais idiotas que sejam. Ou, então, vingam-se recalques contra os melhores, pois a inveja é sentimento intrínseco ao ser humano. Exemplo: os Estados Unidos são o grande Satã Branco. Os judeus matam criancinhas em seus rituais e querem dominar o mundo. O holocausto não existiu.

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No seu discurso da imoralidade Dirceu não podia deixar de mencionar o PSDB. Estranha obsessão contra um partido que, com exceção de alguns de seus políticos nunca foi oposição ao PT. Mas, contra o PSDB Dirceu foi moralista ao sentenciar: “Quando dizem que tem de responsabilizar o ministro e o partido por problemas no ministério, então, tem que se responsabilizar o PSDB, o Geraldo Alckmin e o José Serra pelo escândalo das emendas (?) em São Paulo”. Nessa toada tem que se responsabilizar Lula e seu partido pelos inúmeros escândalos de corrupção de seus ministros. O mesmo serve para Rousseff se não fizer uma faxina de verdade.

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Lembre-se, porém, Dirceu, que dentro de todo ser humano existe a capacidade de diferenciar o bem e o mal, independente da época e da sociedade. Por isso, até o mais cínico e hipócrita dos ministros de Lula repassados a Rousseff oculta seus atos corruptos ou trata de mentir sobre eles porque sabe que pode ser julgado, não pela burguesia moralista, mas pela opinião pública.

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Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br

www.maluvibar.blogspot.com

CONTOS DO MUNIR 76

TUCHA

Tucha, fique quieta! - Dizia Luiz para a Rottweiler de rabo não cortado, o que a tornava diferente dos cães de sua raça.

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Tucha era extremamente dócil, seu tamanho amedrontava. Pesava cerca de 40 quilos, medindo do focinho ao longo da cauda negra, 1m40cm. Cresceu em uma casa cheia de crianças, que lhe puxavam o rabo comprido sem se incomodar com isso. Tucha odiava motos. O ruído do motor a enfurecia, ficava quase incontrolável. Bicicletas, automóveis, ônibus e caminhões não a perturbavam. Já explosões de fogos, a apavoravam.

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Luiz seguia a rotina de passear com a cadela todas as tardes. Ia até a praia, depois andava pela rua Aperana e às vezes subia a Igarapava, onde tinha uma namorada. Sentavam-se os três na escada do prédio e a Tucha no degrau mais baixo a vigiar os dois.

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Tucha entrou no cio e Luiz levou-a a um canil em Jacarepaguá. O dono criava Rottweiler e um deles era Thor, rabo cortado, um pouco mais baixo, porém mais forte e pesado, de um pedigree super disputado.

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Dois dias se passaram e o veterinário, dono do cão, ligou para Luiz pedindo que ele fosse buscar a cadela, que, embora no cio, não aceitava o Thor. Ele mesmo, como dono de canil e veterinário, não entendia o que se passava. Dizia mais: a cadela ficava quieta em um canto do canil, parecia muito triste; breve, o período da cruza passaria.

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Luiz foi no mesmo dia buscar a Tucha. Ao chegar, ela pulou de alegria, colocando as patas dianteiras no peito de Luiz, querendo abraçá-lo.

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Thor aproximou-se e ela o aceitou. Olhava para Luiz, com uma expressão quase humana, como se pedisse perdão pelo que fazia.

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Até mesmo quando teve crias, não se alterava quando os meninos se aproximavam. Muito pesada, dormiu sobre as crias, asfixiando-as; eram seis.

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O tempo correu oito anos de convívio.

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Tucha, quieta! - repetiu seu dono, tensionando a guia.

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A cadela insistia em comer a carne de galinha em um prato com farofa amarela que fora deixado como despacho nas pedras do final do Leblon, onde seu dono a levava em seu passeio quando chegava a casa.

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Ainda comeu um bocado.

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Ao regressar, Luiz meio zangado começou uma conversa não muito amistosa com a cadela. Aborrecido, dizia, elevando a voz, que ela não deveria ter comido aquela macumba. A conversa demorou algum tempo, a Tucha ouviu com paciência, até quando começou a rosnar talvez por efeito da toxidade da droga que havia no que ela tinha comido. Fato é que Luiz abaixou a voz e a deixou quieta no terraço onde tinha o seu abrigo.

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Na manhã seguinte, Luiz esperava ver a cachorra junto à porta com a guia e a coleira na boca pronta para o seu passeio, mas ela não estava lá. Luiz foi ao seu encontro, subindo a escada em caracol. Encontrou-a deitada, desanimada. Nem o bocado da ração temperada, a qual ela mais gostava a animou. Desceu a escada preguiçosamente quase arrastada.

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Na rua, a moto barulhenta sem silencioso passou. A reação de Tucha quase zero.

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Luiz a levou ao veterinário;

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Dois dias depois, e Tucha, por efeito do veneno já impregnado em seu organismo, veio a falecer. Ainda houve a tentativa de operá-la.

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Tucha deixou saudades em casa, nos porteiros que a conheciam e na rua Igarapava.

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Nota do autor:

No tempo em que esta história se passou cães da raça Rottweiler não eram obrigados a usar focinheiras, o que poderia ter salvado a vida de Tucha.