quarta-feira, 14 de julho de 2010

CONTOS DO MUNIR - 45


O RETRATO
.
Luiza encontrou, em uma caixa fechada há algum tempo, um retrato seu em cores já esmaecidas. Dava para ver que era verde e amarelo. Com certeza, da época de uma Copa do Mundo. Tentou fixar a data e se pôs a examinar mais detalhadamente a foto. O quadro atrás que aparecia, já não existia. Quantos anos se passaram? Os cabelos eram claros quase louros e encacheados, agora tinham uma tonalidade castanha, eram lisos.
.
Ela ficava contente em não ter que fazer a tal escova progressiva semanalmente como suas amigas. De vez em quando arrancava com a pinça um cabelo branco.
.
Na época, as fotografias estavam sujeitas à qualidade do filme, à medição de luminosidade com fotômetro, à avaliação da distância com telêmetro e à lente em comparação ao olho humano. Poucas máquinas tinham esses recursos, então sofisticados. A maior dependência era da habilidade do fotógrafo, os bons assinavam suas fotos, como se quadros fossem. Eram os mais procurados pelas noivas.
.
Luiza lembrou-se do dia de seu casamento e de seu vestido, que fim levara? O havia emprestado a Gloria, irmã de Mario seu marido. Não se recordava se ela o devolvera.
.
Gloria já tivera dois meninos e Mario amava os sobrinhos.

Luiza era advogada, agora morava só após separar-se de Mario, que adorando crianças insistia para que ela tivesse um filho. Ela não se negava, mas queria terminar seu mestrado, depois veio a ambição do doutorado. O casamento e o desejo de Mario foram deixados em segundo plano.
.
A meta de Luiza era ter sua banca de advocacia, que ela tinha agora. A placa mostrava: L. Tomassi Advogados Associados. Escrevera propositadamente assim para não ser identificada como mulher, acreditando no preconceito machista.
.
Olhou novamente sua fotografia, imaginou um menininho ou uma menininha vestida com a camisa dez da seleção brasileira. Um sentimento de ternura dela se apossou.
.
Quem sabe ainda dava tempo. Não para essa Copa, a próxima com certeza.
.
Pegou o telefone e marcou uma consulta com sua médica.
.
A notícia que recebeu a encheu de esperanças: embora na sua idade a gravidez fosse considerada de risco, o avanço da medicina e sua boa forma física, permitiriam que ele fosse baixado a quase zero.
.
Havia mais de ano, que o envolvimento com seu trabalho a afastara de seus relacionamentos, incluindo Mario. Soube que ele se mudara. Seria fácil encontrá-lo no Face Book.
.
Ligaria de sua sala, por sua linha privativa, no escritório. Pensava que ele iria ficar alegre quando desse a notícia que lhe presentearia com o filho que ele tanto almejava.
.
Fez a ligação, reconheceu a voz de Mario, ao fundo o choro de uma criança. Desligou sem nada falar
.
A estória poderia terminar assim: triste para Luiza e para nós, não fosse pela tecnologia do “bina” que Mario possuía; verificando o número ligou de volta. Identificou que era Luiza, estava feliz por ela ter ligado.
.
Luiza, cautelosa, perguntou se ele estava vivendo com alguém. Mario disse que sua irmã viera visitá-lo e trouxera seus sobrinhos, continuava só, esperando por ela.
.
Luiza despediu-se de seus companheiros dizendo:
- estou de férias, cuidem bem de tudo, volto mês que vem.
.
Foi correndo ao encontro de Mario...
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°

Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário