sexta-feira, 22 de abril de 2011

ARTIGO DO SERGIO L.Y. dos GUARANYS

RACIOCÍNIO JAPONÊS POR TERCEIRO EXCLUÍDO:
"NADA POSSUO NEM ELIMINO, TUDO TRANSFORMO."

Sergio L. Y. dos Guaranys em 30 mar 2011
Saber no Japão consiste em identificar quem decide e quem cumpre em cada caso. Nesta singeleza de norma residem os êxitos muitas vezes miraculosos do viver japonês. Assuntos locais são tratados sem individualidade, segundo normas que parecem existir desde sempre.
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Excetuado o encarregado de decidir em seu nível administrativo, todo indivíduo se orgulha de conhecer e cumprir a norma adequada a seu ato. Foi esse aspecto cultural visível em qualquer japonês que serviu à reconstrução e ao pujante desenvolvimento do Japão após a 2ª Grande Guerra. Todo o povo presenciou os efeitos dos dois artefatos nucleares aplicados à Nação Japonesa conjugados com a assinatura por seu líder divino do Ato da Rendição, emoldurado pela nudez de um Governo despido de poder.
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O mesmo aspecto cultural serviu à construção do poderio japonês seguinte à visita do Comodoro M.C.Perry, dos tratados de Kanagawa com os USA em 08 mar 1854 e outros dois com Inglaterra e Rússia. O país submeteu-se às imposições dos tratados, mas a Nação se desenvolveu segundo o aspecto cultural. Há dúvida se aquele povo que vivera a Guerra Russo-Japonesa, a Invasão da China, a pujança do equipamento bélico japonês e o destaque tanto asiático quanto mundial do comércio e da indústria do Japão precisaria ou não compreender a perda desse histórico a fim de estabelecer no tempo seguinte à Rendição a ida das crianças ao colégio, dos trabalhadores a suas empresas e dos parentes às casas. A Guerra mudou o modo de agir do Imperador e do Governo, que compreenderam o fato, mas a mudança não alterou as crianças, os trabalhadores nem os parentes. Esses já sabiam quem decidia seus passos cotidianos e quais eram os passos adequados. Para ter noção de passos adequados e
inadequados é fundamental a instrução oriunda da família, que a criança começa a receber antes de falar e de andar. Desde cedo a casa ou: avós, pais, irmãos, adultos que tenham contato falam com a criança o movimento certo e o errado, em cada instante, sem jamais omitir o certo nem o errado. Quando a criança está falando já tem hábito de formular o par de certo e errado, que encerra a perplexidade sem permitir algo mais. Algo mais inclusive a decisão, pois somente dúvidas parelhas, completas por conter o certo e o errado traziam orientação madura. O ensino mostrava a dúvida sem mostrar decisão individual, feita na mente, mas exibida como coletiva, misturando autoria e norma, destacando a norma, desvanecendo existência de autor.
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O exame da situação iniciada pela Rendição mostrou ao Governo a obrigação de sustentar e distribuir o progresso, muito mais solicitante que a mera conservação do país derrotado. Nem comida havia em quantidade suficiente, quanto mais vestuário, saúde, ensino, transporte, empresa e banco! Convinha aos USA manter a posição asiática, o que foi feito, divulgado e acarretou ajuda americana ao Derrotado, mas em vez de servir à obrigação do Governo japonês servia à do americano. Meios conhecidos pela Humanidade seriam sempre insuficientes, restando ao Japão criar novos que não fossem mercadorias. Então o Japão inovou processos, importou mercadorias para terceiros, desembarcando-as em destinos desconhecidos ao serem embarcadas, mas designados durante o trajeto. A diferença entre o frete pago e a armazenagem em qualquer lugar se somava ao preço obtido de algum comprador, gerando o superávit que além de pagar o negócio, sustentou o Japão até criar indústria de sociedades efêmeras. Nada maia nada menos que as “vaquinhas” de despesa coletiva, repetidas em ciclos de aquisição, transporte e entrega, mais tarde fortalecidos com processamento incluído no ciclo. Os gerentes dessas operações eram efêmeros, cessariam após entrega da mercadoria envolvida, mas não cessaram. Chamados pelo Ministro do Comércio após algumas operações realizadas sem exclusividade de transporte, armazenagem e processamento, constataram que seu país não possuía insumos, mas poderia adquiri-los e processa-los caso tivessem energia, pois seria muito mais fácil entregar o produto onde fosse, com mais prazo para ciclo e sem vínculo com alguma instalação fabril. Estava criada a Empresa japonesa, faltando apenas energia para processamento das mercadorias.
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A certeza de venda da energia produzida em território japonês permitiu criar refinarias e termoelétricas providas de máxima vantagem econômica comparada, presente na cadeia de produtos. Não satisfeito com a diversidade de fornecimento praticada, o Japão optou pela energia nuclear, somando as 48 refinarias 56 centrais nucleares, também instaladas em seu território. Por ser caro o combustível dos reatores de urânio enriquecido houve também “breeders” de plutônio e urânio cujos rejeitos reprocessáveis reduzem a demanda de combustível novo. O vulto desses empreendimentos não indica autor que seria celebrado pela fartura de energia desfrutada pelo produtor japonês ou acusado de inépcia caso algo não desse certo. Prevalece a sentença do primeiro parágrafo deste texto. Cada passo do desenvolvimento japonês foi firme, grande e inconteste. Repetiu o aspecto de não ser individual de ninguém e refletir uma decisão que sempre existiu apenas na mente dos indivíduos.
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Mesmo agora tendo o Complexo de Tsushima sofrido vários terremotos e vários tsunamis de valores imensos, ninguém afirma que houve erro ou tolerância na construção. Seria errado achar temerário o fator 8,2 Richter para o reator e 7,0 para os periféricos porque garantia é a diferença entre ameaça e risco, onde a despesa de aumentar a garantia significa aumentar virtualmente a freqüência da ameaça. Se a ameaça tem valor insuperável não interessa operar. Foram construídos com tecnologia dos 70, estão completamente amortizados tendo produzido margem muito maior que os danos de 2011. Este aspecto sancionou os valores adotados.
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Que aspecto da cultura japonesa responde pela decisão de pendurar no resultado econômico do comércio tanto a reconstrução pós-guerra quanto a ascensão ao posto de 2ª maior economia e 2º maior exportador do mundo, sem que haja algum autor? Somente a cultura consegue realizar a cooperação e a coordenação requeridas pela decisão como pela execução das instalações.

Surge a pergunta: se cabe à cultura essa autoria que providência está faltando a outras economias ricas e desenvolvidas para replicar o feito japonês? Cabe a resposta de fatos culturais pedirem várias gerações sucessivas para converter-se em característica cultural, que somente os japoneses possuíam e puderam dedicar graças ao comportamento descrito no início deste texto.
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Todos os países escolheram sítios litorâneos para suas centrais nucleares, o Japão também. Todos adotaram fatores de risco compatíveis com a economia, o Japão também. Esses geradores de energia são da década de 60/70, anterior aos conceitos de “fail-safe”, “garantias redundantes” e precaução contra “common failure”, que se tivessem condicionado os projetos de então perseguiriam desligamento com resfriamento, com extinção da reação em cadeia, com absorção total de radiações “alfa”, “beta” e “gama”, com mais o que fosse preciso para a vida!
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Fabricantes de notícias, aprendizes de tudo proclamam do cimo da própria ignorância que o Japão cogitará de banir a energia nuclear. Na distinção entre aprendiz e perito ficam estabelecidas três verdades: o Japão não pode dispensar energia nuclear, os projetos receberão melhorias que garantam os riscos não superados na crise atual e as instalações atuais serão alteradas com base nas experiências de tecnologias não praticadas nele. Comparadas com os produtos transformados e vendidos pelo Japão essas mudanças não são prejuízo, mas lucro!
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O território japonês fica e permanecerá na beira de uma placa tectônica, local de terremotos. Esta beira é litorânea, os terremotos dela geram tsunamis somente superáveis por elevações, o que mostrará ao Japão a tarefa de trocar litoral atual por elevações artificiais, perdendo litoral japonês em troca de litoral holandês ou quase isso, pois necessita área seca inatingível pelos tsunamis que os terremotos continuarão a gerar.

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