BOI
NO ARPOADOR
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O Arpoador sempre tem
coisas inusitadas, hoje, além dos locais como o King- mendigo filósofo, o Joel
que cuida das plantas da encosta e dos donos da cachorrada, estava lá a torcida
do Equador a caráter, distribuindo flores.
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Um cheiro rural percorreu
a praça do Millor. Como se não fosse bastante o ônibus da COMLURB, insistindo
em manter o motor e o ar ligados, parando agora apenas o tempo suficiente para
descarregar o material, chega um caminhão daqueles que transportam animais.
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O motorista saltou e foi
gritando:-
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-Atenção! Chegou mais um
chifrudo pra fazer companhia a vocês!
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Ploft! Ploft! O odor de
bosta de boi aumentou.
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O caminhão foi levado até
a subida das pedras para descarregar o animal.
Ploft! Ploft! Foi a
primeira coisa que ele fez novamente.
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Era um touro amarronzado
tendendo para o carmim, da raça Red Angus, que nem chifres tem.
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O condutor do caminhão
gritou de novo:-
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-Cadê o pessoal da
filmagem? Disseram para trazer o bicho aqui e não tem ninguém! E o foi levando
com uma cordinha amarrada no pescoço pelo calçadão.
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O que ele não contava era
com a cachorrada: o Cavalier King Charles- Zug, o Shitzu- Simba, o York-Kelvin,
a Labradora- Cristal que não para de ladrar desde que chega; a Poodle- Mel, a
Shinauzer Gigante-Pretinha do Maurice, a Pastora Shetland-Peteca, a Luna do
João, e mais uns dois ou três que se juntaram ao grupo.
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Os cães saíram latindo
atrás dele. Apavorado desandou em uma corrida, soltando-se do homem da
cordinha.
Passou zunindo pelo
restaurante Azul Marinho derrubando mesas, cadeiras e ombrelones. Na esquina da
Francisco Otaviano, quase atropela dois ciclistas, que perderam o equilíbrio ao
ver o animal de mais de uma tonelada vindo em sua direção.
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O bovino, assustado com os
ônibus que ali fazem a curva em velocidade, deu um pulo acrobático, e desceu
para a praia continuando a corrida, amedrontando os banhistas, pior que um
arrastão.
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No caminho não cessou o
Ploft Ploft.
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Dava para ver que era
macho, as bolas balançando. Era manso e passou, finda a perseguição, a andar
devagar, logo alcançado pelo homem que o havia trazido.
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Uma viatura da Polícia
Militar apareceu para tirá-lo da praia. Tratava-se de uma filmagem e a artista
plástica responsável apresentou a permissão dada pela Prefeitura. O Corpo de
Bombeiros também tinha sido chamado e seu carro entrando na direção do
contrafluxo com a sirene ligada, completava o ambiente surreal.
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Dois dias depois o Segundo
Caderno do jornal “O Globo” publicava a notícia abaixo.
Se o leitor atentar para a
foto do jornal verá que houve uma “pequena” confusão quanto ao sexo do bicho,
ou terá sido malícia do redator?
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com
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