quarta-feira, 16 de junho de 2010

CONTOS DO MUNIR - 42

MENINA LEVADA
Era uma vez uma menina chamada Maria Imaculada, tinha nome de santa, mas não era tanto assim. Sua mãe, diretora do colégio onde ela estudava já não agüentava as suas peraltices e resolveu transferi-la para um internato.
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E lá se foi Imaculada para o Instituto Coração de Maria, onde as freiras passaram a conviver com uma diabinha. O que a menina tinha de traquinas, era pouco perto de sua vivacidade e inteligência, que a deixavam com tempo livre para a diversão.
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Fugir, pelo buraco do muro, liderando as coleguinhas para comprar sorvete na rua era uma de suas aventuras preferidas.
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Cantar desafinada no coro da missa era outra brincadeira que gostava de fazer, recebia um castigo que era de ficar sem poder conversar na hora das refeições e por isso se sentava à mesa da Madre Superiora.
Era um castigo que ela gostava demais, a comida era bem melhor.
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Na capela do colégio tinha uma grande imagem de Nossa Senhora. Imaculada escondeu-se atrás dela e ao final da Ave Maria, entoada em voz alta pela classe, ela gritou:
- AMÉM! AMÉM!
As meninas debandaram assustadas proclamando:
- A Santa falou! A Santa falou!
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Passou uma semana inteira comendo na mesa da Diretoria.
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O colégio era também dedicado ao ensino de prendas domésticas, as meninas tinham que aprender a varrer, cozinhar e outros afazeres do lar. Então eram obrigadas a ir para a cozinha, varrer e arrumar a sala de aula. Imaculada detestava pegar em uma vassoura, foi no quintal pegou um pedaço de capim e futucando o nariz, espirrava seguidamente, disse à professora que tinha muita alergia a pó. Foi mandada para cuidar da horta. Como o rango era fraco passou a comer as tenras cenourinhas e os tomates que lá cresciam.
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Existiam no quintal vários coqueiros anões, Maria Imaculada liderava o grupo de gurias que iam beber água de coco. Bebiam a água e deixavam os cocos na penca.
A Diretora chamou um agrônomo para verificar o porquê dos cocos secos. Ele disse que eram uns besourinhos e pulverizou os coqueiros com inseticida, mas o problema continuou até que alguém denunciou que eram besouros humanos, com vigilância os cocos passaram a ter água novamente.
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Foi para casa comemorar seu aniversário de quinze anos. A mãe a presenteou com um vestido roxo que Imaculada detestou. Iria deixá-la comparecer a uma festa dançante e teria que ir com o vestido novo. Não adiantaram os protestos e o choro da menina.
- Você tem que ir!...Dizia a mãe repetidamente.
O “você tem” desencadeava um choro compulsivo e de revolta, a garota já de vestido roxo, obrigada a vesti-lo.
O pai procurava acalmá-la e disse que a levaria. Obedecesse a mãe. Vertendo lágrimas, Imaculada entrou no carro. Foi quando ele falou:
- Não chore minha filha. Nós vamos dar umas voltas esperar o tempo passar e voltar para casa. Tenho certeza que sua mãe nem vai perguntar como foi a festa.
(Muitos anos depois, Maria Imaculada já formada e com doutorado, quando alguém a pressiona e diz: “Você tem...” ela entra em TPM.)
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Na volta para o Internato uma surpresa a aguardava. Tinha sido indicada para um Cursilho de cinco dias em completa reclusão.
Já no primeiro dia foi falar com a madre que dirigia os trabalhos pedindo para sair. Sentia-se um pássaro na gaiola. A freira negou-se a atendê-la. Disse que o Padre Anselmo encarregado do Cursilho era muito severo e não abriria exceção.
Pela janela viu o Padre Anselmo no pátio, saiu desabalada ao seu encontro, a feira surpresa sequer tentou detê-la.
Perguntou de supetão ao Frei:
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- Padre Anselmo! O senhor tem um fusquinha verde, não tem? Moro lá no alto do Farol e de vez em quanto o senhor parava lá, eu via a Joana que trabalha na casa da visinha entrar no seu carrinho. - Pra se confessar precisava ficar agarradinha daquele jeito?
- Padre eu queria deixar o Cursilho!
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Naquela mesma tarde a Irmã veio lhe dizer que o Padre Anselmo a havia liberado.
Foi um espanto, até mesmo para a Diretora que atribuiu a decisão ao mérito da aluna nos estudos.
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Imaculada terminou seus estudos e na cerimônia de colação de grau a Madre Superiora pediu silêncio e disse:-
- Queria entregar o prêmio de melhor aluna que o Instituto Coração de Maria já teve. É pena que não tenhamos também um para a menina mais levada.
Por favor, aproxime-se Maria Imaculada!
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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