segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CONTOS DO MUNIR 58

PÁLPEBRA ERÓTICA
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Luiz andava meio aborrecido, ao se olhar no espelho notara que sua pálpebra do olho esquerdo estava meio caída. Vaidoso, resolveu que iria submeter-se a uma cirurgia.
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Há dois meses, iniciara um romance, que lhe parecia promissor com uma empresária de produções artísticas.
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Marcou consulta com a sua cardiologista para o risco cirúrgico, solicitado pela Clinica.
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Dias antes, percebeu que seu affair já não tinha o calor dos primeiros tempos. A moça andava reticente, passou a falar muito da terapia que vinha se submetendo, principalmente, do psicólogo que a atendia em quem confiava e que já a fizera romper com um antigo namorado por uma daquelas sugestões sutis que analistas fazem. Luiz estava com setenta anos tinha contado a ela que tomava Viagra. A gota d’água foi a indução do clinico dela, que, em vez de Viagra, passasse a tomar comprimidos de testosterona. Chegou a comprar o remédio, teve o bom senso de consultar seu urologista que desaconselhou a troca.
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O rompimento tornou-se inevitável. Luiz sentiu sua privacidade invadida, afinal segredos de cama são só para ser compartilhados a dois, e sempre renovados.
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Não tendo disponibilidade para um suporte psicológico, desabafava com a cardiologista, sua amiga, e israelita como ele. Já tinha desistido da cirurgia.
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A médica pediu que Luiz piscasse algumas vezes, o animou, observando que o caimento era mínimo, que não valia à pena arriscar.
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Luiz, descendente de uma família rica, morava antes em cobertura na Avenida Atlântica; seu pai, dono de uma grande empresa, acabou em falência por dívidas trabalhistas. Luiz tinha formação superior, fora dono de livraria. Complicações no casamento o obrigaram a mudar-se do Leblon para Botafogo. Atualmente não tinha e não poderia ter nada em seu nome. Fora diretor da firma, até o carro estava em seu poder por concessão do Juiz, e como fiel depositário. Talentoso, atuava como figurante em novelas e chegara a fazer uma pequena atuação com Mauro Mendonça. Conseguira no Sindicado um certificado de ator e se apresentara a Globo. Para sua surpresa, recebeu um comunicado da emissora com um texto anexo, um monólogo, que se apresentasse para possível seleção.
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A cardiologista ouvia com atenção a conversa de Luiz. Sua irmã mais jovem, engenheira, cerca de cinquenta anos, estava separada; pensou em apresentá-lo.
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Ligou imediatamente para a mana e começou a tecer loas sobre Luiz: que era diretor da Globo, muito rico, um homem bonito de olhos azuis, tinha casa em Angra, uma enorme lancha.
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A irmã não se mostrou interessada apesar de sua insistência. Desligou, virou-se para Luiz exclamando que ela era linda, um corpo escultural, cabelos negros longos e os lábios da Angelina Jolie. Ao ouvir, os olhos de Luiz se arregalaram e a pálpebra caída levantou, a ponto de ser notada pela Dra. Luiz saiu.
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A médica tornou a ligar para a irmã e relatou a razão da ida dele ao consultório e a reação de seus olhos quando ela falara dos seus atributos físicos. Mencionou a elevação da pálpebra de Luiz referindo-se como pálpebra erótica. A irmã, engenheira mecânica reagiu de forma surpreendente desta vez; não se sabe que tipo de associação de alavancagem ela fez, o fato é que pediu: Me dá logo o telefone dele.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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