OSVALDO, O TAXISTA
O carro era um Santana, já
fora de linha, grande por fora, desconfortável por dentro. Relutamos, a
princípio, eu e meu amigo, de nele embarcar.
Além do mais, o motorista
também parecia já ter passado o prazo de validade.
Estávamos voltando de um
passeio, ao Clube Naval em Charitas.
Seu Osvaldo, cabelos
brancos escassos a desaparecer, deve ter notado nossa hesitação e passou a
elogiar seu táxi e também a si mesmo, que nunca tinha batido, ou ficado na mão.
Jamais encontrei um taxista que tenha sofrido um acidente. Não consultei
estatísticas, mas creio que acidentes com táxis são realmente raros.
Seu Osvaldo tem setenta e
oito anos e muita disposição, está meio gordo, pela vida sedentária, diz que
dirige dez horas por dia, cinco filhos, quatro homens e uma mulher, todos já
formados e independentes, ele mesmo aposentado, viúvo há dois anos.
Perguntei por que ele
ainda dirigia, a resposta:
-Tô de mulher nova,
fazendo sete implantes de dente, são muito caros, ah! Também tô trocando de
carro. A minha mulher é nova mesmo, tem quarenta e nove anos, é babá no Leblon
e ganha bem.
E continuou:
-Eu tinha dois
apartamentos, um de sala e três quartos no Flamengo e o outro, onde agora estou
morando, de sala e quarto na Glória. Era onde eu levava essa minha namorada.
Estou com ela há doze anos. Sabe, minha mulher já não queria saber de sexo. O
do Flamengo tem garage, guardo o carro ali, meus filhos vivem lá.
-Doutor, estou com vontade
de levá-la para morar comigo. O que que o senhor acha?
-Seu Osvaldo, o senhor tem
alguma idiossincrasia ?
-Que isso doutor! Não
tenho nada disso não!
Percebi que ele não havia
entendido, e tentei explicar:
- Seu Osvaldo, o senhor
ronca? Mexe-se muito na cama? Solta gases quando está dormindo? Acorda no meio
da noite e liga a TV?
- Ah, isso eu faço sim
senhor!
-Não sei não, seu Osvaldo.
Foi ela que pediu?
-Não! Sou eu que quero!
-Olha, seu Osvaldo, o
senhor não está feliz como está?
-Estou muito!
-Então, deixa quieto!
Já estávamos chegando, ele
ficou calado até parar o carro.
Quando saltei, ele saltou
também e disse apertando minha mão:
-Obrigado, doutor. O
senhor é um homem sábio.
Não sei se ele vai deixar quieto.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
E-Mail:alzumunir@gmail.com
Sábios conselhos ! Além do mais, morando junto ele certamente poderá descobrir o que não deseja...
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