FRAGMENTOS 3
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Luiza tinha agora 13, Pedro completaria 15. A
balança pendia agora para ela, tornara-se mocinha e passava a se interessar por
meninos mais velhos. Então, aparece Alfredo que morava na vila chique
confrontando a casa de Luiza, um Centro Espírita dirigido por seu pai.
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Quatro vilas, todas na encosta do morro do Turano,
em declive acentuado. Uma ficava em frente à residência de Pedro, onde na
primeira casa morava o Guarda-Civil Barnabé que saia cedo com sua farda verde
folha, de quepe, apito e cassetete. Tinha duas lindas filhas, Alzira e
Brasilina. Um dos irmãos, mais velhos de Pedro, namorava as duas ao mesmo
tempo, mas gostava mesmo de Jurema do final da vila, irmã de Paulo, amigo de
Pedro. Os dois lutavam Box no porão.
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Dona Malvina morava na outra vila ao lado, janelas
para a rua. Um dia pirou, começou a jogar dinheiro na calçada, parece que se
arrependeu, desceu, de camisola para pegar de volta, competindo com a molecada.
Os vizinhos chamaram seu Barnabé que estava dormindo. Esse mesmo grupo, vinha
rápido, sempre que ocorria algo diferente, da mesma forma que aparecem os
vendedores de guarda-chuvas, tão logo caem as primeiras gotas ou os ambulantes
de biscoitos e água nos engarrafamentos.
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Dona Juraci, sua vizinha, mãe do Dino de oito anos,
garoto esperto que adorava a calçada, escondia sua roupa e o deixava nu para
que ele não fugisse.
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No mês de Maio surgiam, à tardinha, os primeiros
balões. Começavam a enfeitar o céu. Eram de diferentes formatos, dados,
bonecos, tangerinas, charutos, poliedros. Coloridos, alguns pequenos, outros
enormes. Vários tinham anéis de lanternas pendurados. À noite, eles pontilhavam
como estrelas móveis levadas pelo vento. Quando caiam, logo os mesmos meninos
se faziam presentes.
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Liderados pelo mais forte gritavam:- “Ninguém
tasca”.
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Tempo das pipas, gigantescas, feitas com flecha e
papéis finos coloridos. Ninguém usava cerol, era uma guerra de habilidade.
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Os patinetes, de madeira, as rodas de rolimãs de
máquinas ou rodas de carro. Carrinhos de feira, ou para divertimento de descer
ladeiras, também usavam esses rolamentos, alguns tinham até volantes.
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Os piões, talhados à mão, o prego de aço na ponta
cravava o do adversário.
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Os campeonatos de jogo de futebol de botões, com
cores dos times preferidos, ou de casca de coco lixados e envernizados, eram
disputados pelos meninos.
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Na vila seguinte, morava o Zeca, depois de uma
briga no bonde com Pedro, fizeram as pazes. Ele foi visitá-lo, a mãe do Zeca
era Dona Carmem, de mais de 100 quilos, ela soubera da desavença entre os dois.
Pedro estava na sala com o amigo, ela chegou com um saquinho de balas em uma
das mãos, a outra atrás das costas. Pedro viu, pelo espelho da cristaleira, a
faca de cozinha, fugiu em desabalada carreira. Até hoje, quando ele vê uma senhora
mais corpulenta ou um facão, sente um arrepio no ciático.
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Dona Judite era a moça da frente, casada, gostava
de espiar da janela, sem blusa no verão, a garotada já sabia a hora certa.
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Na vila chique, as casas eram mais modernas,
Alfredo, que agora era o xodó de Luiza, vivia com a mãe, e mais dois irmãos na
última. Na terceira morava Dona Janete. Certa vez chamou Pedro para matar uma
galinha e o recebeu com um robe de seda transparente. Ele ficou entre
deslumbrado e assustado.
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O pai de Alfredo era raramente visto, constava que
era o dono daquela vila que terminava com um campo de futebol na subida do
morro, as meninas incluindo Luiza também lá iam.
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Brincava-se lá, de pega-ladrão, jogar bolinhas de
gude, de vidro, coloridas, algumas de aço, pesadas, retiradas dos rolamentos.
Buracos na terra, chamados búricas, para onde eram tecadas as bolinhas dos
adversários.
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-“Marraio, feridô sou rei!”.
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Era o grito de guerra do moleque, desafiando os
companheiros para o jogo. As esferas eram também munição para as atiradeiras ou
estilingues feitos com forquilhas de goiabeira e tiras de borrachas de câmaras
de ar.
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As meninas gostavam de brincar de passar o anel,
adivinhar na mão de quem ele estava. A brincadeira, de estátua congelada,
apreciada por elas, bem como pular corda e amarelinha, o céu e o inferno
riscados no chão.
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Do lado esquerdo era o quintal da residência dos
Serejos, família, cujo patriarca era temido pelos adolescentes da rua e
apelidado “Casaca de Ferro”. Atirava, com uma espingardinha de chumbinho, na
direção dos garotos que jogavam bola em frente . Felizmente, creio de
propósito, nunca acertou ninguém. O Casaca de Ferro ou Camisão, tinha duas
netas que não se entrosavam com a turma e mais um irmão viciado em jogo,
perdendo o que tinha, deu um tiro na cabeça, sobreviveu, ficou com um buraco na
testa e meio lelé, foi para lá.
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Miltinho, filho da Dona Célia, vizinho de Pedro era
baixinho como a mãe e um dos irmãos, mas tinha um irmão e uma irmã de estatura
normal. Telinha, sobrinha do dono da chácara de flores, não escondia suas
preferências por ele, Pedro já tinha um olho nela, e morria de ciúmes. Fernando
era primo de Miltinho, morava na mesma casa, contou para Dona Maria, mãe de
Luiza, que ela ia brincar de médico no porão da casa de Pedro. Ela a proibiu de
falar com ele. Fernando fez por vingança, havia tomado dois gols dele no jogo
de futebol.
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O irmão de Alfredo, Rodrigo mais velho, era bem
forte e também arrogante, um dia em um passeio de bicicleta começou a atropelar
a bike de Pedro com a sua. Pedro não gostou saltou e partiu para a briga, já
estava apanhando. Foi salvo pelo Nilo um cara de 2 metros de altura, 110
quilos, amigo do Miguel, tio de Pedro. Segurou o Fernando pela gola e o botou
pra correr.
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Alfredo já estava namorando Luiza, descobriu que
ela não era mais virgem, resolveu arriscar. Passou para a Escola de
Aeronáutica. Luiza engravidou quando ele estava no primeiro ano, os pais dela
fizeram um acordo de não denunciá-lo desde que se casasse com ela. Ainda
durante o curso Luiza teve outro filho e depois mais cinco. Rodrigo, seu irmão
não era de estudar muito, foi reprovado para a Academia, mas fez carreira como
subalterno.
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Os balões continuavam a cair, Pedro foi para a
Marinha.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
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