O ROUBO QUE
NÃO HOUVE
NÃO HOUVE
.
Edilberto fez concurso para o Banco do Brasil. Com
a criação do Banco Central, para lá foi requisitado. Funcionário exemplar
passou a exercer uma função de confiança no Meio Circulante, divisão que tinha
entre suas atribuições, a de regular a quantidade de moeda, recolhendo ou
distribuindo quando necessário. Dispunha de várias caixas-fortes. As notas
desgastadas pelo uso, ou que seriam substituídas por novas emissões ali eram
guardadas e mais tarde incineradas. Edilberto era de família de classe média,
desde menino achava injusto que alguns tivessem muito dinheiro, outros pouco e
muita gente fosse pobre.
Embora católico, não era praticante, um pouco
incrédulo em relação ao céu e inferno. Acreditava mais no poder do dinheiro...
Que a felicidade era terrena- não que o dinheiro tudo comprasse, mas que um
mínimo dele era necessário.
Achava um desperdício queimar aquela dinheirama
toda com tanta gente precisando.
Um pensamento martelava sua cabeça, o que poderia
ele fazer? Não era rico, fazia contribuições mensais para associações de
auxílio aos cegos, aos doentes de câncer, a crianças órfãs e outras tantas
casas de caridade. Sentia não poder doar mais.
Anos se passaram e Edilberto passou a ter a
responsabilidade de uma das caixas-fortes, localizada no térreo. A ele cabia
despachar, no carro blindado, o numerário a ser incinerado em um forno da
Cervejaria Brahma localizada nas proximidades.
Edilberto imaginou que poderia utilizar aquele
dinheiro em uma causa mais nobre, distribuí-lo por aquelas instituições tão
necessitadas.
.
Iniciou o procedimento que tinha em mente.
As notas que seriam queimadas, eram ensacadas pelo
zelador da caixa-forte, no caso o próprio Edilberto. Ele preparou sacos em
duplicidade. Naqueles que seriam transportados para o forno, usou a técnica do
golpe do conto de vigário, colocou jornais até quase a borda e cobriu com
dinheiro verdadeiro. Nos que ele viria buscar mais tarde, os enchia com as
notas recolhidas, escolhendo as melhores, contabilizava tudo, já selecionando o
que doaria a cada instituição.
Edilberto tinha uma Caravan, caminhoneta grande.
Chegou bem cedo ao banco com seu carro e ele
próprio, não queria testemunhas no que faria, pôs sua carga preciosa no
porta-bagagem do veículo. Sabedor da rotina dos vigias, calculou para sair logo
após a troca da guarda.
Assim foi feito, Edilberto deixou seu carro na
garagem de sua casa e regressou ao banco onde esperou a chegada do carro forte.
Os sacos restantes abertos, aparentemente cheios com dinheiro foram fechados na
presença do inspetor e embarcados para cremação.
As doações se iniciaram lenta e gradualmente
Seu plano corria muito tranquilamente, parecia ser
um crime perfeito.
À época, o sistema bancário não era informatizado e
nem a Receita Federal controlava depósitos e saques.
Edilberto sempre depositava nas contas das
instituições, preservando seu anonimato.
O Destino reservava uma surpresa para Edilberto, a
diretora de um orfanato era casada com o gerente do banco de onde vinham as
doações. Ficou curiosa em saber quem era o misterioso Mecenas. O marido
descobriu que era Edilberto, funcionário do Banco Central. A esposa resolveu
agradecer e elogiar o bancário. Escreveu uma carta ao Presidente do banco citando
nominalmente Edilberto e a ele tecendo loas.
Seguiu-se uma sindicância em caráter confidencial,
uma contabilização rigorosa foi realizada em todas as caixas fortes; o
resultado não mostrava desvio de dinheiro.
Edilberto passou a ser vigiado por agentes do
banco, foi detido e levado à presença da Diretoria. Confessou o que vinha
fazendo. Parte da quantia foi recuperada e dessa vez realmente incinerada.
O Banco Central ocultou o acontecido.
Edilberto foi devolvido ao Banco do Brasil e
movimentado para uma agência em Tabatinga no Amazonas onde vive até hoje.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
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