A TAXISTA *
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Leblon-Ataulfo de Paiva
em frente ao antigo Garcia &Rodrigues.
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Sábado dezembro de 2013
17:45
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Luiz estava atrasado. A
missa de trinta dias de seu amigo seria às dezoito horas- morrera, como tantos
outros, por falta de um diagnóstico precoce de um melanoma, um câncer
devastador que em menos de quatro meses o levou. A de sete dias não houve, a
viúva traumatizada, refugiou-se com o filho.
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Luiz pensou que há três
anos, não fosse uma jovem doutora, ele é que estaria recebendo seu amigo na
eternidade. Pela segunda vez, ele escapara de já não estar por aqui, quando,
bem recente, destruíra seu carro zero em uma batida contra um ponto de ônibus
com perda total. Por proteção divina, ou seja o que for, embora estivessem
pessoas na parada, ninguém se machucara. Os dois rapazes, que seriam atingidos,
pularam com agilidade.Luiz agradece sempre por ter saído ileso do acidente e
também por não estar respondendo a um processo por homicídio culposo.
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Verdade que Natasha, a
moça morena do seguro, muito o ajudara ao tratá-lo com carinho.
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Desde então, Luiz
deixava seu outro carro, uma Mercedes antiga na garagem e passara a usar taxis.
Esbarrara com os mais diversos profissionais, muitos deles, embora formados em
universidades, abandonaram seus antigos empregos mal pagos e se tornaram
taxistas.
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Mas essa taxista era
diferente.
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Luiz perdeu o primeiro
amarelinho. O segundo parou, Luiz olhou o painel adornado com flores e
santinhos. Não se surpreendeu ao ver a mulher dirigindo, coisa agora comum no
Rio.
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Fazia calor e Luiz pediu
que ela ligasse o ar. A motorista ainda ponderou que não estava tão quente,
perguntou se ele sempre tinha em casa o ar ligado, diante da resposta positiva
disse:
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-O senhor deve ser
milionário!
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O passageiro deu o
endereço:
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-Igreja São José da
Lagoa.
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Ela:-É aquela de vidro?
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-Sim! A senhora sabe
chegar lá?
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-Meu senhor: Eu moro no Leblon há muitos anos.
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Luiz:-Onde?
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-Em minha casa no
Jardim Pernambuco!
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-E quanto vale a sua
casa? Ele perguntou incrédulo.
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-Quarenta e seis
milhões!
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-Então, por que dirige
um taxi?
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-Para pagar a empregada
e manter a casa!
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A motorista aparentava
ter mais que sessenta anos, ariana de cabelos pretos, bem alem do peso, com
certeza bonita e atraente quando jovem.
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Luiz aparentando
seriedade:- Creio que vou pedir você em casamento!
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Ela virando a cabeça
para avaliar seu passageiro: Já sou casada e meu marido é italiano e manda
muito bem.
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Ele em tom de
brincadeira:
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-É um garotão!
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Ela: Não, já tem mais
que setenta e não toma Viagra. Nós estamos juntos e, nessa casa, há muitos
anos. Os ricos só apareceram lá muito tempo depois. E tem mais, nós fazemos de
tudo na cama,nosso livrinho de cabeceira é o Kama Sutra. Carmelo, meu ragazzo,
diz que minha periquita tem textura e gostinho de ostra fresca com limão e ele
adora.
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Olha, estou falando
assim, por causa da sua provocação.
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Luiz, já de molecagem:
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- E você faz o mesmo
com ele?
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Ela: Claro, e gosto
muito, a gente usa aquele gel, “Prudence” sabor morango, às vezes ele gosta de
variar e me vira. Tem homem que pede, ele não! Me leva no toque.
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Ele: Vi na Internet que
as mulheres não sentem prazer por ai!
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Ela, sem responder
diretamente: É só de vez em quando.
A viagem estava
terminando, a taxista ainda reclamou do percurso que Luiz havia sugerido de ir
pela Lagoa; que o caminho pelo Jardim Botânico seria bem melhor e que o
deixaria na porta da igreja.
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O taxímetro marcava
quinze reais. Ela cobrou vinte e disse que a aula de sexo ainda foi baratinha.
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Luiz pagou sorrindo.
*Baseado em fatos
reais.
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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