sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

CONTOS DO MUNIR 021/2013-A TAXISTA

A TAXISTA *

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Leblon-Ataulfo de Paiva em frente ao antigo Garcia &Rodrigues.

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Sábado dezembro de 2013 17:45

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Luiz estava atrasado. A missa de trinta dias de seu amigo seria às dezoito horas- morrera, como tantos outros, por falta de um diagnóstico precoce de um melanoma, um câncer devastador que em menos de quatro meses o levou. A de sete dias não houve, a viúva traumatizada, refugiou-se com o filho.

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Luiz pensou que há três anos, não fosse uma jovem doutora, ele é que estaria recebendo seu amigo na eternidade. Pela segunda vez, ele escapara de já não estar por aqui, quando, bem recente, destruíra seu carro zero em uma batida contra um ponto de ônibus com perda total. Por proteção divina, ou seja o que for, embora estivessem pessoas na parada, ninguém se machucara. Os dois rapazes, que seriam atingidos, pularam com agilidade.Luiz agradece sempre por ter saído ileso do acidente e também por não estar respondendo a um processo por homicídio culposo.

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Verdade que Natasha, a moça morena do seguro, muito o ajudara ao tratá-lo com carinho.

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Desde então, Luiz deixava seu outro carro, uma Mercedes antiga na garagem e passara a usar taxis. Esbarrara com os mais diversos profissionais, muitos deles, embora formados em universidades, abandonaram seus antigos empregos mal pagos e se tornaram taxistas.

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Mas essa taxista era diferente.

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Luiz perdeu o primeiro amarelinho. O segundo parou, Luiz olhou o painel adornado com flores e santinhos. Não se surpreendeu ao ver a mulher dirigindo, coisa agora comum no Rio.

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Fazia calor e Luiz pediu que ela ligasse o ar. A motorista ainda ponderou que não estava tão quente, perguntou se ele sempre tinha em casa o ar ligado, diante da resposta positiva disse:

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-O senhor deve ser milionário!

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O passageiro deu o endereço:

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-Igreja São José da Lagoa.

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Ela:-É aquela de vidro?

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-Sim! A senhora sabe chegar lá?

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-Meu  senhor: Eu moro no Leblon há muitos anos.

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Luiz:-Onde?

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-Em minha casa no Jardim Pernambuco!

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-E quanto vale a sua casa? Ele perguntou incrédulo.

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-Quarenta e seis milhões!

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-Então, por que dirige um taxi?

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-Para pagar a empregada e manter a casa!

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A motorista aparentava ter mais que sessenta anos, ariana de cabelos pretos, bem alem do peso, com certeza bonita e atraente quando jovem.

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Luiz aparentando seriedade:- Creio que vou pedir você em casamento!

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Ela virando a cabeça para avaliar seu passageiro: Já sou casada e meu marido é italiano e manda muito bem.

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Ele em tom de brincadeira:

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-É um garotão!

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Ela: Não, já tem mais que setenta e não toma Viagra. Nós estamos juntos e, nessa casa, há muitos anos. Os ricos só apareceram lá muito tempo depois. E tem mais, nós fazemos de tudo na cama,nosso livrinho de cabeceira é o Kama Sutra. Carmelo, meu ragazzo, diz que minha periquita tem textura e gostinho de ostra fresca com limão e ele adora.

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Olha, estou falando assim, por causa da sua provocação.

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Luiz, já de molecagem:

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- E você faz o mesmo com ele?

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Ela: Claro, e gosto muito, a gente usa aquele gel, “Prudence” sabor morango, às vezes ele gosta de variar e me vira. Tem homem que pede, ele não! Me leva no toque.

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Ele: Vi na Internet que as mulheres não sentem prazer por ai!

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Ela, sem responder diretamente: É só de vez em quando.

A viagem estava terminando, a taxista ainda reclamou do percurso que Luiz havia sugerido de ir pela Lagoa; que o caminho pelo Jardim Botânico seria bem melhor e que o deixaria na porta da igreja.

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O taxímetro marcava quinze reais. Ela cobrou vinte e disse que a aula de sexo ainda foi baratinha.

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Luiz pagou sorrindo.

*Baseado em fatos reais.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com


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