RELATOS
Abril 2014 sexta-feira Armazém do
Café.
Já estávamos ali há algum tempo. A moça de
shortinho preto vem em nossa direção, traz um presente. Nós já a conhecíamos, o
presente é um livro que mostra a saga de sua família, dá o livro para meu amigo
que busca nele pessoas conhecidas. A moça é...
Walquiria
Walquiria é uma mulher atraente física e
intelectualmente. Seu porte é ereto, anda como uma modelo que vai entrar na
passarela. No outro dia, apareceu com uma discreta rosa no cabelo. Seus olhos
são esverdeados, revelando um ramo nórdico de origem. Com surpresa para nós,
revelou que uma de suas bisavós era índia nascida em Mato Grosso. A família de
Walquiria é de Pernambuco. Ela conta:
-Minha bisavó era natural de um povo indígena,
chamado Tapirapé, seu nome original na tribo era Raira, não sei como foi parar
em Recife, sei que ela falava Tupi Guarani e dizem que quando estava zangada
com meu bisavô, deixava o português e o xingava em sua língua natal. Em
Pernambuco foi batizada com o nome de Eva.
Walquiria continua:
-Eu tinha dois anos quando meu bisavô morreu e pode
parecer mentira, mas lembro dele, era um homem alto e forte, essa é a imagem
que tenho dele. A bisavó Eva teve vinte e quatro filhos. Mamãe conta que ela
sempre grávida subia ágil nos coqueiros se agarrando com mãos e pés, com a faca
na boca. Meu bisavô tinha outros filhos fora da sua união com a bisa, segundo
minha avó. Ela disse que certa vez bateram na porta da casa de Eva. Era uma
senhora com duas crianças que vinha se queixar que meu bisavô a havia
abandonado por outra mulher mais jovem e havia parado de manter a família. A
bisa mandou que ela voltasse no dia seguinte. Virou fera, e em mistura de
português e tupi intimou seu Gumercindo, esse era o nome de meu bisavô, a
continuar a prover a família. Assim foi feito.
Walquiria diz que quer contar outra história.
Pergunta:
-Sabe aquele truque que os mágicos fazem de puxar
uma toalha da mesa cheia de pratos e copos e eles puxam a toalha e fica tudo no
mesmo lugar? Pois é, a minha avó contava que sua mãe deu uma de mágico, só que
ela não era. Naquele tempo, a louça era toda importada, custava caro. Estavam
todos na hora do almoço. A mesa enorme para caber tantos, era maior que a mesa
comunitária da padaria “O Padeiro de Sevilha” em Florianópolis. Uma peça única
de mogno com quase vinte metros de comprimento. A comida era galinha ao molho
pardo. Mais de duas dezenas de pratos e copos, alem das travessas. Pois não é
que Seu Gumercindo cismou de reclamar que o molho estava sem sal! A dona Eva
nem pestanejou, puxou a toalha e veio tudo ao chão. Minha avó disse que desde
aquele dia o meu bisavô nunca mais reclamou de nada.
Walquiria deixou seu livro e seguiu caminhando rumo
à praia, fazendo a Rua Rita Ludolf parecer uma passarela. Ficamos ali, ansiosos
por ouvir seus novos relatos.
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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