quarta-feira, 23 de abril de 2014

CONTOS DO MUNIR 006/2014


RELATOS

Abril 2014 sexta-feira Armazém do Café.

Já estávamos ali há algum tempo. A moça de shortinho preto vem em nossa direção, traz um presente. Nós já a conhecíamos, o presente é um livro que mostra a saga de sua família, dá o livro para meu amigo que busca nele pessoas conhecidas. A moça é...

Walquiria

Walquiria é uma mulher atraente física e intelectualmente. Seu porte é ereto, anda como uma modelo que vai entrar na passarela. No outro dia, apareceu com uma discreta rosa no cabelo. Seus olhos são esverdeados, revelando um ramo nórdico de origem. Com surpresa para nós, revelou que uma de suas bisavós era índia nascida em Mato Grosso. A família de Walquiria é de Pernambuco. Ela conta:

-Minha bisavó era natural de um povo indígena, chamado Tapirapé, seu nome original na tribo era Raira, não sei como foi parar em Recife, sei que ela falava Tupi Guarani e dizem que quando estava zangada com meu bisavô, deixava o português e o xingava em sua língua natal. Em Pernambuco foi batizada com o nome de Eva.

Walquiria continua:

-Eu tinha dois anos quando meu bisavô morreu e pode parecer mentira, mas lembro dele, era um homem alto e forte, essa é a imagem que tenho dele. A bisavó Eva teve vinte e quatro filhos. Mamãe conta que ela sempre grávida subia ágil nos coqueiros se agarrando com mãos e pés, com a faca na boca. Meu bisavô tinha outros filhos fora da sua união com a bisa, segundo minha avó. Ela disse que certa vez bateram na porta da casa de Eva. Era uma senhora com duas crianças que vinha se queixar que meu bisavô a havia abandonado por outra mulher mais jovem e havia parado de manter a família. A bisa mandou que ela voltasse no dia seguinte. Virou fera, e em mistura de português e tupi intimou seu Gumercindo, esse era o nome de meu bisavô, a continuar a prover a família. Assim foi feito.

Walquiria diz que quer contar outra história. Pergunta:

-Sabe aquele truque que os mágicos fazem de puxar uma toalha da mesa cheia de pratos e copos e eles puxam a toalha e fica tudo no mesmo lugar? Pois é, a minha avó contava que sua mãe deu uma de mágico, só que ela não era. Naquele tempo, a louça era toda importada, custava caro. Estavam todos na hora do almoço. A mesa enorme para caber tantos, era maior que a mesa comunitária da padaria “O Padeiro de Sevilha” em Florianópolis. Uma peça única de mogno com quase vinte metros de comprimento. A comida era galinha ao molho pardo. Mais de duas dezenas de pratos e copos, alem das travessas. Pois não é que Seu Gumercindo cismou de reclamar que o molho estava sem sal! A dona Eva nem pestanejou, puxou a toalha e veio tudo ao chão. Minha avó disse que desde aquele dia o meu bisavô nunca mais reclamou de nada.

Walquiria deixou seu livro e seguiu caminhando rumo à praia, fazendo a Rua Rita Ludolf parecer uma passarela. Ficamos ali, ansiosos por ouvir seus novos relatos. 

Autor: Munir Alzuguir

E-Mail: alzumunir@gmail.com

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