PRODUÇÃO
INDEPENDENTE
Sábado março de 2014.
Armazém do Café.
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Em uma mesa do Armazém,
dez e trinta da manhã, lendo o caderno Prosa do jornal O Globo. Via os
comentários do livro que o Rodrigo Alzuguir, filho do Ronald meu primo,
escrevera sobre o compositor Wilson Batista.
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Chega Fred - meu amigo -
pede um chocolate. Na mesa ao lado, a moça morena, descansa em uma cadeira, a
perna bem torneada e ligeiramente inchada. Usa minissaia jeans, rosto oval, cabelos
pretos cortados à moda Chanel, o que a torna mais atraente, pergunta a Fred se
è bom. Fred diz que é muito. Ela quer um chocolate pequeno, mas em uma xícara
grande.
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Estávamos nós três. Fred adora
um papo; a moça diz que está fora de casa desde cedo.O apartamento, vizinho ao
dela, em obras incomoda demais com o barulho. A toda hora liga para a portaria
de seu prédio, indaga se já pode voltar. Diante de tantas respostas negativas,
resolve ligar para a Polícia.
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Fred indaga como ela se
chama.
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-Natasha.
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-Oi Natasha, sou Fred, sou
matemático precocemente aposentado- continua Fred
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-Eu ainda trabalho, sou
formada em marketing e estou no INPI. –
diz ela.
Xi!-fala Fred- Minha
experiência com o INPI não foi legal. Quis registrar a marca da minha empresa e
foi difícil.
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Chega outra moça
aparentando a idade aproximada de Natasha. Seu perfume J’adore, invade o
ambiente,veste uma calça legging preta ajustada ao corpo malhado. É loura de
cabelos longos, parece recém-saída de um salão de beleza, olhos azuis
brilhantes enfeitam seu rosto A conversa passa a ser entre elas.
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Natasha se esquece de
querer voltar para casa.
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Iniciam um papo de viagens
e amores frustrados.
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A jovem que chegou, se
chama Nicole, estava saindo de um relacionamento. Para desanuviar, fora de
surpresa a Paris em busca de um antigo namorado, um ex-colega de mestrado em
arquitetura. Conta que não foi muito bom. Ele também estava com outra, apesar
de ter trocado mensagens amorosas por emails.
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As duas se perguntam se
tem filhos. Ambas as respostas são negativas. Nicole diz que correu um sério
risco com o último namorado. Queria muito, depois ficou contente porque o cara
se revelou um “porra louca”. Natasha conta que um colega de trabalho no INPI,
boa pinta e inteligente, louco por crianças, casado com uma mulher que não
poderia ter filhos, perguntou se ela não poderia ser mãe de um filho seu. Seria
uma única vez.
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-O Pedro era interessante
e tinha boa saúde, eu quase topei. Só não concretizei porque poderia gamar,
querer mais e complicar minha vida.-disse Natasha.
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Cheguei a conclusão que
não vou esperar mais. Vou partir para a produção independente!-exclamou Nicole.
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Natasha:
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-Como é que é isso?
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-Você tem que procurar um
médico especialista. Fazer uma série de exames, depois ele indicará um ou mais
bancos de sêmen para escolher o doador- falou Nicole.
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-Como?- Perguntou Natasha.
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-É assim:
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- Você recebe uma lista do
banco. Nela constam as informações do doador. Ele não pode ter menos de vinte
anos e mais de quarenta, não pode ter tido doenças sexualmente transmissíveis,
distúrbios genéticos, psicológicos, tem que ser saudável, declarar a condição
civil e religiosa, cor da pele, cor dos olhos e cabelos, estatura, peso,
profissão, formação educacional, quociente de inteligência, tipo de sangue
enfim uma “catilinária” de ítens que é difícil de assimilar em um só dia.
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Você não imagina como fica
difícil de escolher.Tem alguns que até dá vontade de transar com o cara. Acho
que vou por ai... Sabe? Eu sou judia. Na primeira lista que vi, apareceu
“evangélico”. Dei uma desanimada e fechei a lista.
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As duas continuaram a
trocar abobrinhas como se fossem amigas de longa data.
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Ignoraram a mim e ao Fred.
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Trocaram emails e
telefones ali na hora e prosseguiram a conversa no celular, por mensagens,
acredito de forma mais íntima, pois, deixamos de escutar. Dava para perceber,
porque riam muito.
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Foram
embora sem antes lançar um olhar de avaliação para nós.
Munir Alzuguir
alzumunir@gmail.com
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