quarta-feira, 3 de junho de 2015

CONTOS DO MUNIR 007/2015



EUTANÁSIA   ASSASSINATO
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Acordei no meio da noite, as janelas fechadas e a cortina de blackout cerrada, complementavam o silêncio com a escuridão.
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Um ruído quase imperceptível vinha do banheiro da suíte. 
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Caminhei tateando até lá. Abri a porta, nada notei a princípio, acendi a luz e a vi crua e nua na banheira, parada como se sua imobilidade lhe conferisse invisibilidade.
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Sabia que era ela, sempre desaparecia ao perceber meu movimento, reconhecia pelo perfume que exalava, ela deixara das outras vezes que lá estivera. Eu detestava sentir.
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Ela, grávida, parecia sentir-se muito a vontade, como se estivesse em sua casa e não uma invasora sem ter sido convidada.
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Meu primeiro impulso foi de matá-la na hora de forma violenta, mas havia a chance dela se esquivar, reagir e escapar. Resistindo a meu desejo, achei melhor despejar veneno a uma distância segura para não ser eu próprio afetado e impossibilitar qualquer defesa.
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O tóxico agiu de forma rápida, e, embora ela tentasse fugir, seu corpo já contaminado estremecia nos estertores da morte anunciada. Não existindo mais chance de eu ser atacado, pensei novamente em liquidá-la de vez.
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Uma sensação de piedade apoderou-se de mim.
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Por que não deixar que ela vivesse e usufruísse aqueles momentos finais quando eu sabia que ela iria morrer?
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Ou seria melhor abreviar seu sofrimento já que ela, agora de costas, debatia-se agitando braços e pernas?
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Sentei-me no vaso a meditar. 
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Quando me levantei, ela estava inerte; para conferir sua rigidez mortal cutuquei-a com o desentupidor de pia.
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No dia seguinte disse ao mordomo que havia um cadáver na banheira e pedi que ele desse fim.
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Foi lá com uma folha de jornal e recolheu a barata cascuda.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com

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