EUTANÁSIA ASSASSINATO
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Acordei no meio da noite, as janelas fechadas e a
cortina de blackout cerrada, complementavam o silêncio com a escuridão.
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Um ruído quase imperceptível vinha do banheiro da
suíte.
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Caminhei tateando até lá. Abri a porta, nada notei a princípio, acendi a
luz e a vi crua e nua na banheira, parada como se sua imobilidade lhe
conferisse invisibilidade.
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Sabia que era ela, sempre desaparecia ao perceber
meu movimento, reconhecia pelo perfume que exalava, ela deixara das outras
vezes que lá estivera. Eu detestava sentir.
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Ela, grávida, parecia sentir-se muito a vontade,
como se estivesse em sua casa e não uma invasora sem ter sido convidada.
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Meu primeiro impulso foi de matá-la na hora de forma
violenta, mas havia a chance dela se esquivar, reagir e escapar. Resistindo a
meu desejo, achei melhor despejar veneno a uma distância segura para não ser eu
próprio afetado e impossibilitar qualquer defesa.
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O tóxico agiu de forma rápida, e, embora ela tentasse
fugir, seu corpo já contaminado estremecia nos estertores da morte anunciada.
Não existindo mais chance de eu ser atacado, pensei novamente em liquidá-la de
vez.
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Uma sensação de piedade apoderou-se de mim.
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Por que não deixar que ela vivesse e usufruísse
aqueles momentos finais quando eu sabia que ela iria morrer?
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Ou seria melhor abreviar seu sofrimento já que ela,
agora de costas, debatia-se agitando braços e pernas?
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Sentei-me no vaso a meditar.
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Quando me levantei, ela estava inerte; para
conferir sua rigidez mortal cutuquei-a com o desentupidor de pia.
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No dia seguinte disse ao mordomo que havia um
cadáver na banheira e pedi que ele desse fim.
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Foi lá com uma folha de jornal e recolheu a barata
cascuda.
Autor: Munir
Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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