O ARMAZÉM DO CAFÉ E CACHORRINHOS
.
Não só de
mazelas tem o Leblon, há o outro lado nesse bairro tão nosso e único.
.
O Leblon
também tem alegres olhos: o feliz, belo e resplandecente.
.
As
atendentes do Armazém do Café: Sonia, com sua alegria aos nos dar boa-noite de
carinha oval risonha de WatsApp; Ângela, feliz com a barriguinha de seu segundo
filho, diz que encerra o seu ciclo de procriar. Joelma, moça suave encabulada
com as brincadeiras do Mou. Silvia que aprendeu a dizer “Prego, resolveu
estudar inglês.
.
Clientes:
Valentina, a professora, é mãe da Melanie, a jovem loura, alta, olhos azuis,
linda, formada em Direito, estuda para Prático de Marinha. Tem esse Physique du
Role.
.
O Mou é libanês
e como eu, que sou filho, tem o nariz grande, acho que o dele é um pouquinho
maior, quando toma o maquiato fica a marca lá no apêndice. Não tem cão, mas a
neta tem um teimoso.
.
Alguns
fregueses têm cachorrinhos, o meu é o Zug, um cavalier de pelagem branca e
manchas castanhas vivas, a cor é chamada “blenheim”.
.
O do
Ferreira é um Yorkshire abusado que odeia cães de maior porte, avança
desesperado. O Pitoco, cãozinho da mulher de meu filho, da mesma raça, age de
igual maneira. Deve ser ciúme do dono.
.
Dra.
Dóriane tem um Chow-Chow, cão de meio porte, parece um leão em miniatura, tem a
língua roxa, chama-se Hope.
.
Xodó, o
cão do Ferreira gosta dele.
.
Gilberto
também tem o Tico, um Bixon Frisé, nós nunca o vimos.
.
A
psicóloga elegante tem um Poodle, a amiga dela tem um West Terrier. As duas são
fumantes e ficam no banco fora do toldo para pitar seus cigarrinhos.
.
Agora
temos uma nova amiga: a Creusa, diretora de cinema, veio dos Jardins em São
Paulo, também tem um cãozinho chamado Lolo que adora brincar com o Zug.
.
A cirurgiã
plástica Paula formou-se em Nova York, passa uma semana lá dando consultas, tem
uma cadela vira-lata muito bem tratada, chamada Sofia, ela diz que é
parisiense, foi adotada na Praça Paris no centro da cidade.
.
A Heloisa,
dona de fazenda no Paraná, tem o Sheik, um Poodle grande, também amigo do Zug,
de vez em quando se estranham.
.
Às vezes,
a minha filha aparece lá com a Marrie, avó do Zug, ele não reconhece mais, a
trata como uma fêmea. Macho Alfa que ele se acha, só porque cruzou com uma
cadelinha da mesma raça dele. Verdade que precisou de um apontador para
ajudá-lo.
.
A Marrie é
a matriarca de muitos Cavaliers que andam pelo Leblon, um dos seus filhos foi
adquirido por um canil que vende as crias a mais de cinco mil reais.
.
A
menininha de cinco anos encantou-se com o Zug, os pais compraram um da mesma
raça e cor, ela disse que o cãozinho já comeu um tênis, uma calça da mamãe e
duas sandálias. Como achei o Flog gordinho, ela disse que dá muita comida pra
ele.
.
Isso
acontece no mundinho do Armazém da Rita Ludolf.
.
Do outro
lado da rua, a Flora passa em frente à Colher de Pau com seus Poodles.
.
O povo do
Leblon gosta de cães, no domingo algumas ONGS de animais levaram para a Praça
Cazuza uns vinte vira-latas para adoção, todos de banho tomado e bem tratados,
não sobrou nenhum.
.
A Mara, de
rosto oval, cabelos curtinhos é uma das moças do Arpoador, usa shortinho tem um
Shih Tzu.
.
Seu pai
era oficial de Marinha, servia nos Estados Unidos, ela nasceu a bordo de um
navio quando sua mãe regressava ao Brasil. Como estavam na costa americana,
adquiriu dupla nacionalidade. Apenas arranha o Inglês.
.
Matriculou-se
no curso ali na San Martin. Nos dias de aula passa sempre em frente ao Café.
Quando trabalhava no Metro do Rio era considerada a miss de lá.
.
Esse é o
pessoal do lado de fora.
.
O público
do ar condicionado é mais formal, tem a trigueira, bela e elegante, sempre de
calças compridas e cabelos pretos curtos. Às vezes, se senta com um senhor que
usa um táblet, outras, só toma um cafezinho e vai embora.
.
No outro
dia, coisa rara, apareceu de short, deu para ver; não precisa esconder as
pernas.
.
A moça,
doutora, quase sempre de azul, tem sua mesa preferida, lembra uma artista dos
filmes da Ingrid Bergman.
.
A outra
jovem de porte atlético, já divorciada espera o namorado que surge, sem falha,
com uma rosa vermelha.
.
A Lou
gosta de ler o Jornal enquanto toma seu café.
Luciana
mora em São Conrado e em Kuala Lumpur e, talvez por isso, fica dentro ou fora.
.
Não sei se
todos (as) usam cremes maravilhosos, o fato é que ninguém tem código de barras,
- figura de linguagem, creio que hipérbole, clonada de colunista-, acima do
lábio superior.
.
Creio ser
o milagre do cafezinho do Armazém
.
Continua...
Uma
história de amor no Leblon
Autor: Munir
Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário