quarta-feira, 15 de julho de 2015

CONTOS DO MUNIR 008/2015



O ARMAZÉM DO CAFÉ E CACHORRINHOS
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Não só de mazelas tem o Leblon, há o outro lado nesse bairro tão nosso e único.
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O Leblon também tem alegres olhos: o feliz, belo e resplandecente.
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As atendentes do Armazém do Café: Sonia, com sua alegria aos nos dar boa-noite de carinha oval risonha de WatsApp; Ângela, feliz com a barriguinha de seu segundo filho, diz que encerra o seu ciclo de procriar. Joelma, moça suave encabulada com as brincadeiras do Mou. Silvia que aprendeu a dizer “Prego, resolveu estudar inglês.
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Clientes: Valentina, a professora, é mãe da Melanie, a jovem loura, alta, olhos azuis, linda, formada em Direito, estuda para Prático de Marinha. Tem esse Physique du Role.
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O Mou é libanês e como eu, que sou filho, tem o nariz grande, acho que o dele é um pouquinho maior, quando toma o maquiato fica a marca lá no apêndice. Não tem cão, mas a neta tem um teimoso.
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Alguns fregueses têm cachorrinhos, o meu é o Zug, um cavalier de pelagem branca e manchas castanhas vivas, a cor é chamada “blenheim”.
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O do Ferreira é um Yorkshire abusado que odeia cães de maior porte, avança desesperado. O Pitoco, cãozinho da mulher de meu filho, da mesma raça, age de igual maneira. Deve ser ciúme do dono.
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Dra. Dóriane tem um Chow-Chow, cão de meio porte, parece um leão em miniatura, tem a língua roxa, chama-se Hope.
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Xodó, o cão do Ferreira gosta dele.
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Gilberto também tem o Tico, um Bixon Frisé, nós nunca o vimos. 
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A psicóloga elegante tem um Poodle, a amiga dela tem um West Terrier. As duas são fumantes e ficam no banco fora do toldo para pitar seus cigarrinhos.
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Agora temos uma nova amiga: a Creusa, diretora de cinema, veio dos Jardins em São Paulo, também tem um cãozinho chamado Lolo que adora brincar com o Zug.
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A cirurgiã plástica Paula formou-se em Nova York, passa uma semana lá dando consultas, tem uma cadela vira-lata muito bem tratada, chamada Sofia, ela diz que é parisiense, foi adotada na Praça Paris no centro da cidade.
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A Heloisa, dona de fazenda no Paraná, tem o Sheik, um Poodle grande, também amigo do Zug, de vez em quando se estranham.
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Às vezes, a minha filha aparece lá com a Marrie, avó do Zug, ele não reconhece mais, a trata como uma fêmea. Macho Alfa que ele se acha, só porque cruzou com uma cadelinha da mesma raça dele. Verdade que precisou de um apontador para ajudá-lo.
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A Marrie é a matriarca de muitos Cavaliers que andam pelo Leblon, um dos seus filhos foi adquirido por um canil que vende as crias a mais de cinco mil reais.
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A menininha de cinco anos encantou-se com o Zug, os pais compraram um da mesma raça e cor, ela disse que o cãozinho já comeu um tênis, uma calça da mamãe e duas sandálias. Como achei o Flog gordinho, ela disse que dá muita comida pra ele. 
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Isso acontece no mundinho do Armazém da Rita Ludolf.
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Do outro lado da rua, a Flora passa em frente à Colher de Pau com seus Poodles.
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O povo do Leblon gosta de cães, no domingo algumas ONGS de animais levaram para a Praça Cazuza uns vinte vira-latas para adoção, todos de banho tomado e bem tratados, não sobrou nenhum.
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A Mara, de rosto oval, cabelos curtinhos é uma das moças do Arpoador, usa shortinho tem um Shih Tzu.
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Seu pai era oficial de Marinha, servia nos Estados Unidos, ela nasceu a bordo de um navio quando sua mãe regressava ao Brasil. Como estavam na costa americana, adquiriu dupla nacionalidade. Apenas arranha o Inglês.
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Matriculou-se no curso ali na San Martin. Nos dias de aula passa sempre em frente ao Café. Quando trabalhava no Metro do Rio era considerada a miss de lá.
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Esse é o pessoal do lado de fora.
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O público do ar condicionado é mais formal, tem a trigueira, bela e elegante, sempre de calças compridas e cabelos pretos curtos. Às vezes, se senta com um senhor que usa um táblet, outras, só toma um cafezinho e vai embora.
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No outro dia, coisa rara, apareceu de short, deu para ver; não precisa esconder as pernas.
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A moça, doutora, quase sempre de azul, tem sua mesa preferida, lembra uma artista dos filmes da Ingrid Bergman.
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A outra jovem de porte atlético, já divorciada espera o namorado que surge, sem falha, com uma rosa vermelha.
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A Lou gosta de ler o Jornal enquanto toma seu café.
Luciana mora em São Conrado e em Kuala Lumpur e, talvez por isso, fica dentro ou fora.
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Não sei se todos (as) usam cremes maravilhosos, o fato é que ninguém tem código de barras, - figura de linguagem, creio que hipérbole, clonada de colunista-, acima do lábio superior.
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Creio ser o milagre do cafezinho do Armazém
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Continua...
Uma história de amor no Leblon
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com

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