quinta-feira, 16 de julho de 2015

CONTOS DO MUNIR 009/2015



VESTIDO VERMELHO CABELOS LOUROS
Uma história de amor no Leblon.
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Roberto estava no Rio de Janeiro depois de muitos anos de ausência, havia trazido da América, onde morava, seu cão Cavalier.
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Era um domingo de sol, a Avenida Delfim Moreira fechada para o trafego de veículos convidava o passeio.
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O rosto de uma senhora loura, na calçada acenando com refrigerantes nas mãos para dois rapazes que surfavam, chamou sua atenção.
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Eles correram em sua direção.
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Roberto:
- Heloisa?
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Apresentando os dois surfistas, quase da mesma idade, ela disse:
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Este é o Luiz Fernando que você viu pequenininho, e esse aqui é o Zug, você não chegou a conhecer, e olhando na coleira do Cavalier leu o nome: Zug.
Sorriu.
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Roberto D’Alzug seguia com seu Karman Ghia para São Conrado onde morava.
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O sinal fez com que ele parasse na altura do hotel.
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A loura, cabelos soltos, atravessava a rua conduzindo um carrinho de bebê cor vermelho vivo como o seu vestido, um pouco aberto em sua parte superior. Os grandes botões pretos, semelhantes aos usados em jogos de futebol de mesa, não alcançavam as casas. O vestido comprara há um ano, embora tenha quase voltado ao peso anterior à gravidez, seu busto ainda se mostrava entumecido.
Heloisa, era seu nome, estava hospedada no Sheraton, seu guri estava com um mês de nascido.
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Recém-separada mudara-se para o Leblon, aguardava no hotel a obra de seu apartamento.
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Passou muito próxima ao automóvel de Roberto. Ele não pôde deixar de notar a beleza da jovem e comentou:
-Bonito o seu carrinho.
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Ela:
-O seu também.
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Roberto interrompeu sua viagem, parou o carro no estacionamento do hotel, foi ao encontro da moça. A encontrou sentada no saguão tomando um café. Ela sorriu.
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Um sorriso convidativo, ele sentou-se.
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Ficaram conversando até perceberem que o tráfego na Niemeyer se tornava pesado e Roberto achou que era hora de voltar.
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Marcaram de se ver no mesmo local no dia seguinte.
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A centelha da paixão incendiara seus corações, a ansiedade se apossara de ambos.
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À tarde do outro dia fez Roberto voltar ao seu tempo de menininho de colo, e fartar-se nos seios de Heloisa.
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O apartamento na José Linhares ficara pronto, Heloisa se mudara.
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Roberto saía do escritório direto para lá, o colchão ainda sem o estrado da cama. Ali faziam amor, o bebê no carrinho vermelho, amamentado, dormia quietinho.
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Semanas voaram e o amor aqueceu ambos, no outono e no inverno.
Heloisa fora casada com um ator de TV cerca de três anos.
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Roberto vinha adiando, por causa desse romance, sua ida para a Universidade nos Estados Unidos onde faria seu mestrado e doutorado em Direito Internacional.
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Já era noitinha, Roberto saindo do apartamento de sua querida, sentiu que estava sendo seguido, foi abordado na altura do bar Bracarense.
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Senhor:
-Sou o marido de Heloisa, o senhor não me conhece, mas sei quem é o senhor, que é advogado, casado e tem dois filhos, sei também onde trabalha e onde mora.
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Estou tentando reconstruir minha família.
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Disse isso sem rancor, e quase de forma humilde.
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Roberto emudeceu, mais tarde ligou para Heloisa, deu a desculpa que tinha sido chamado a São Paulo e lá ficaria por duas semanas.
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No domingo seguinte embarcou para a Califórnia onde faria seu curso. Sua família viajaria mais tarde.
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Tornou-se docente da Universidade fixando residência nos Estados Unidos, raramente vinha ao Brasil e quando acontecia era São Paulo em Congressos ou proferir conferências na USP.
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E o tempo passou...
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com

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