VESTIDO VERMELHO CABELOS LOUROS
Uma
história de amor no Leblon.
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Roberto
estava no Rio de Janeiro depois de muitos anos de ausência, havia trazido da
América, onde morava, seu cão Cavalier.
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Era um
domingo de sol, a Avenida Delfim Moreira fechada para o trafego de veículos
convidava o passeio.
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O rosto de
uma senhora loura, na calçada acenando com refrigerantes nas mãos para dois
rapazes que surfavam, chamou sua atenção.
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Eles
correram em sua direção.
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Roberto:
-
Heloisa?
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Apresentando
os dois surfistas, quase da mesma idade, ela disse:
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Este é o
Luiz Fernando que você viu pequenininho, e esse aqui é o Zug, você não chegou a
conhecer, e olhando na coleira do Cavalier leu o nome: Zug.
Sorriu.
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Roberto
D’Alzug seguia com seu Karman Ghia para São Conrado onde morava.
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O sinal fez
com que ele parasse na altura do hotel.
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A loura,
cabelos soltos, atravessava a rua conduzindo um carrinho de bebê cor vermelho
vivo como o seu vestido, um pouco aberto em sua parte superior. Os grandes
botões pretos, semelhantes aos usados em jogos de futebol de mesa, não
alcançavam as casas. O vestido comprara há um ano, embora tenha quase voltado
ao peso anterior à gravidez, seu busto ainda se mostrava entumecido.
Heloisa,
era seu nome, estava hospedada no Sheraton, seu guri estava com um mês de
nascido.
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Recém-separada
mudara-se para o Leblon, aguardava no hotel a obra de seu apartamento.
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Passou
muito próxima ao automóvel de Roberto. Ele não pôde deixar de notar a beleza da
jovem e comentou:
-Bonito o
seu carrinho.
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Ela:
-O seu
também.
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Roberto
interrompeu sua viagem, parou o carro no estacionamento do hotel, foi ao
encontro da moça. A encontrou sentada no saguão tomando um café. Ela sorriu.
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Um sorriso
convidativo, ele sentou-se.
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Ficaram
conversando até perceberem que o tráfego na Niemeyer se tornava pesado e
Roberto achou que era hora de voltar.
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Marcaram
de se ver no mesmo local no dia seguinte.
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A centelha
da paixão incendiara seus corações, a ansiedade se apossara de ambos.
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À tarde do
outro dia fez Roberto voltar ao seu tempo de menininho de colo, e fartar-se nos
seios de Heloisa.
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O
apartamento na José Linhares ficara pronto, Heloisa se mudara.
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Roberto
saía do escritório direto para lá, o colchão ainda sem o estrado da cama. Ali
faziam amor, o bebê no carrinho vermelho, amamentado, dormia quietinho.
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Semanas
voaram e o amor aqueceu ambos, no outono e no inverno.
Heloisa
fora casada com um ator de TV cerca de três anos.
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Roberto
vinha adiando, por causa desse romance, sua ida para a Universidade nos Estados
Unidos onde faria seu mestrado e doutorado em Direito Internacional.
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Já era
noitinha, Roberto saindo do apartamento de sua querida, sentiu que estava sendo
seguido, foi abordado na altura do bar Bracarense.
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Senhor:
-Sou o
marido de Heloisa, o senhor não me conhece, mas sei quem é o senhor, que é
advogado, casado e tem dois filhos, sei também onde trabalha e onde mora.
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Estou
tentando reconstruir minha família.
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Disse isso
sem rancor, e quase de forma humilde.
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Roberto
emudeceu, mais tarde ligou para Heloisa, deu a desculpa que tinha sido chamado
a São Paulo e lá ficaria por duas semanas.
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No domingo
seguinte embarcou para a Califórnia onde faria seu curso. Sua família viajaria
mais tarde.
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Tornou-se
docente da Universidade fixando residência nos Estados Unidos, raramente vinha
ao Brasil e quando acontecia era São Paulo em Congressos ou proferir
conferências na USP.
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E o tempo
passou...
Autor: Munir
Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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