terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

CONTOS DO MUNIR - 29

A OVELHA AZUL
Era uma vez um pastor de ovelhas que tinha um rebanho todo branco e uma única ovelha azul, isso há muito tempo. O pastor a chamava Nilii. Era dócil e acostumada à presença humana. Por ser rara, era muito valiosa. Da origem de sua cor, pouco se sabia.
O pastor era muito orgulhoso de sua Nilii, tendo recusado boas ofertas para vendê-la. Muitos o invejavam. Conhecedor de seu tesouro procurava afastá-la dos machos do rebanho. Evitava assim que ela procriasse. Receava que as crias tivessem outra cor, desvalorizando-a.
Um dia, o pastor ouviu dizer que, em outro país, muito longe dali, havia um criador de ovelhas que possuía um carneiro azul. Pensou se não seria bom levar sua ovelha até lá, e dividir as crias com o proprietário do carneiro. Isso o obrigaria a atravessar um oceano e correr o perigo de ter sua carga preciosa roubada. Resolveu, então, pintar sua ovelha de branco, com o propósito de evitar a curiosidade e diminuir o risco na viagem.
Seguiu com sua ovelha. No barco tudo ia muito bem. Outros passageiros também conduziam animais. Junto com eles, o pastor e sua ovelha nem sequer eram notados.
Um dia, o tempo escureceu, nuvens pesadas cobriram o sol, uma violenta tempestade se abateu sobre a embarcação. O mar enfurecido varria o convés com enormes ondas e a todos molhava, a ovelha de branca se tornava azul pela tinta a dissolver.
Os demais embarcados ficaram muito impressionados, porque a tempestade serenou quando a ovelha ficou toda azul. O sol apareceu e sua lã, muita limpa pelo banho tomado, resplandecia.
Todos começaram a chamá-la de Nilii, que em árabe significa azul. Ela atendia, porque assim era o seu nome, o que causava ainda maior espanto.
O pastor era muito carinhoso com sua ovelha e ela correspondia, aconchegando-se a ele. Todos acharam que o pastor tinha algo de santo. Na verdade, era um homem bom, em sua aldeia, muito querido.
O barco seguiu para o porto de destino...
Era um país estranho, com muita gente, e a falar uma língua esquisita que o pastor não compreendia. Todos tinham a pele amarela, aparentavam estar sempre ocupados, apressados e preocupados. Seus olhos eram repuxados. Notaram a ovelha azul com aquele homem diferente e indicaram, para o pastor, o caminho para a casa do dono do carneiro.
Parece que criadores de ovelhas possuem uma linguagem própria, e eles logo souberam o que queriam. Depois de algum tempo, o pastor entendeu que sua ovelha e o carneiro eram chamados, por aquele povo, de filhos do “Yang-Tse-Kiang” ou rio Azul, (assim chamado por causa dos reflexos azuis em suas águas de rochedos em suas margens), que descia das montanhas chinesas e passava por aquela região.
Muito conversaram, no idioma dos pastores, e acertaram que a primeira cria seria do dono do cordeiro. De primeira, nasceu uma fêmea e em seguida um cordeirinho azul, que o pastor levou com ele de volta ao seu país e as suas terras.
Era primavera. Em um bosque, junto a um lago, desabrochavam lindas flores azuis. O pastor lembrou-se de uma passagem bíblica* onde as ovelhas eram conduzidas para se acasalar diante de varas coloridas e concebiam cordeiros malhados. Levou para lá seu carneiro azul e uma ovelha branca vigorosa.
Em breve se constituiu um rebanho de ovelhas azuis que enriqueceram o nosso pastor.
Hoje, as ovelhas azuis só são encontradas em seu habitat, as estepes do Sião.
*A passagem bíblica encontra-se em Gênese 30,30-43, quando Jacó negocia com Labão, pai de Raquel, o seu salário a receber em ovelhas manchadas.

Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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