sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

CONTOS DO MUNIR 55

METRÔ
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Mario, Luiz, Paulo e Marcelo, quatro coroas da turma do Arpoador, combinaram almoçar em um restaurante árabe no Saara, zona ecumênica no centro da cidade. Lá, convivem, aparentemente alheios aos conflitos étnicos, culturais e religiosos, árabes, judeus, chineses, japoneses e coreanos, não importando se do Sul ou do Norte.
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Antes, eram só árabes e judeus; os japoneses, chineses e coreanos chegaram mais tarde, não desequilibrando a convivência.
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O restaurante é antigo e foi modernizado, substituíram os ventiladores por splits; não é preciso comer rápido, não chega a esfriar o arroz de lentilha e nem o michui. Após o almoço, Mario e Luiz iriam a Central do Metrô providenciar a carteirinha de acesso livre aos trens.
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Luiz e Marcelo já esperavam, - bebendo cerveja e comendo homus, (pasta de grão de bico) - no restaurante Cedro do Líbano, por Mario e Paulo que ainda estavam na estação General Osório.
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Na viagem, Paulo que já tinha esse documento perguntou a Mario se havia trazido o atestado de residência, exigência burocrática, desrespeitando o estatuto dos idosos, talvez para limitar o uso por argentinos ou paulistas. Encontraram rapidamente a solução: Mario iria a uma filial da empresa telefônica e solicitaria uma cópia de sua conta.
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No almoço, muito pão árabe, mais homus e babaganuche (pasta de berinjela com tahine), arroz de lentilha, quibe de bandeja, kafta no espeto, tabule e michui e... muita cerveja pra tornar a festa brasileira. Não esqueceram a sobremesa: baklawa e ataif (pastel de amêndoas com mel e água de flor de laranjeira).
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Por volta de três horas da tarde, Paulo e Marcelo pegaram o trem de volta. Luiz e Mario foram a pé para a sede do Metrô.
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A agência mais próxima da companhia, onde Mario poderia extrair a segunda via, estava a dois quilômetros de distância, não teriam tempo hábil.
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Atravessaram a Praça da República, as muitas cutias andavam livres sem medo das pessoas, patos e marrecos nadavam nos pequenos lagos. O arvoredo, projeto de um paisagista francês, lembra um jardim de Burle Marx, embora centenário. Cruzaram a passagem subterrânea da Avenida Presidente Vargas.
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Acertaram com a sala de cadastramento, os grisalhos e alguns prejudicados, aproximadamente vinte pessoas, estavam sentadas em cadeiras plásticas, avançavam na fila ocupando a vaga de quem era chamado, no esquema “levanta-senta”.
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Mario estava em uma cadeira anterior a de Luiz; um cartaz logo na entrada indicava quais os documentos necessários, em letras vermelhas: Atestado de residência.
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A atendente o chamou, Mario foi mostrando: Carteira de Identidade da Marinha, Identidade Felix Pacheco, CPF, Carteira de Motorista, Cartão de Crédito, Cartão Sênior de ônibus, Cartão do Seguro do automóvel, Carteira de sócio do Clube Naval, Cartão Fidelidade da TAM, Cartão Smiles, Cartão Unimed, Cartão de assinante do Globo, IPVA e até sua antiga carteirinha de espião que lhe dava entrada grátis em cinema.
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A jovem não se comoveu: E o atestado de residência?
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Mario, na inocência dos culpados, respondeu: Não trouxe! Perguntou se ela não poderia dar um jeitinho. Não, foi a resposta, teria que seguir o regulamento.
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Mario, argumentando, disse que ele e Luiz, o companheiro que seria o próximo a ser atendido, vieram de longe. O Luiz tinha atestado.
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Ao ouvir a palavra “companheiro”, a moça, fã das novelas da Globo, olhou com cumplicidade para Mario e Luiz e disse que iria colocar ambos no mesmo endereço.
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Na saída, Luiz, entre meio sério e meio brincalhão, disse:
-"Só queria saber o que ela pensou:Quem come quem”?
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
Nota: Esta é uma história baseada em fatos reais. Alguns nomes foram trocados. O autor esclarece que o termo “companheiro” foi usado no mesmo sentido em que o nosso Presidente o emprega, quando se dirige aos seus correligionários.

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