Furinho no Coração*
MÃE
Rio
de Janeiro
O menino era clarinho e
muito magrinho. Primeiro filho. A mãe, pouco experiente, embora tivesse lido
todos os livros sobre o assunto: “A agenda da Gravidez”, de A. Christine
Harris;
“Bebê: manual
do proprietário”, Louis Borgenicht e Joe Borgenicht e outros além
do clássico “A Vida do Bebê” de Rinaldo De Lamare.
O gurisinho era fraquinho,
chorava muito, quase sempre com febre, aos seis meses tinha o peso de neném de
três. Foi internado uma vez com pneumonia. Era tão branquinho que se viam as
veias, os cabelos de um louro brilhante, parecia o pequeno príncipe.
Certa vez o avô comentou
que o menino era muito pequeno, a mãe ficou meio zangada: o filho era dela, não
se importava se ele não crescesse, sempre iria amá-lo.
O diagnóstico era virose,
a mãe levou algum tempo até deixar a ética e consultar outro médico. Doutor era
um título mais forte que General no tempo do regime militar.
O novo pediatra, ao
auscultar o garoto, achou que seria melhor consultar um cardiologista. Ele
tinha um sopro muito forte de coração.
A Doutora Rosa Célia, já
especializada em cardiologia infantil, detectou uma anormalidade congênita.
Um exame mais detalhado
mostrou que seu coração tinha uma comunicação que não permitia o bombeamento
correto do sangue, existia um buraquinho entre as duas câmaras (átrios),
misturando o sangue venoso e o arterial.
O menino fazia parte “dos meninos
azuis”, nome como o médico Vivien Thomas ficou conhecido, americano, pioneiro
da cirurgia dessa anomalia. Não era formado em medicina, era negro e
carpinteiro e tinha o sonho de ser doutor. Foi contratado por um laboratório
como zelador. Seu chefe, um cirurgião, ao ver suas qualidades com os
instrumentos, o transformou em seu assistente, isso na época da discriminação
racial nos Estados Unidos. Muitos anos mais tarde, recebeu seu título de Doutor
e professor de Cirurgia na universidade Johns Hopkins.
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São
Paulo - Hospital
O menino de sete meses
está para ser operado, o cirurgião Miguel Barbero, um argentino especializado
em operações cardíacas infantis, prepara-se para mais uma luta na sala de
cirurgia.
A mãe leva o filho à sala
de cirurgia. Todos choram, menos ela, e pergunta:- Por que vocês estão
chorando? Ele vai ficar curado!
Sete horas de circulação
extracorpórea.
Sete horas de angústia.
Sete horas de orações.
Sete horas de esperança.
Sete horas de prantos.
Sete longas horas.
Sete horas contadas
segundo a segundo.
A mãe queria tê-lo de volta
em seus braços. Anoitecia.
A porta da sala de
cirurgia se abre, o médico aparece, traz um sorriso na face, iluminando o
ambiente.
A mãe corre ao seu
encontro, quer a confirmação de que tudo está bem, o doutor a abraça:- Só tem
uma coisinha e, antes que ela se assuste – Seu menino não tem mais sangue azul.
Palavras
da Mãe:-“Quando o Budi saiu da sala de cirurgia, olhou para mim meio grogue e
deu um sorrisinho!”
Notas
do autor:
Hoje, Budi tem 20 anos, estuda engenharia na
PUC, rapaz de estatura normal, forte, saudável, pratica esportes, bonito e
muito amável.Uma pequenina cicatriz no peito, só quem conhece esta história
consegue notar. Seu avô tem orgulho dele.
A Doutora Rosa Celia
dirige hoje um hospital dedicado à cardiologia infantil.
O Médico Miguel Barbero
continua a operar em São Paulo e no Rio de Janeiro. Da mesma forma que a Doutora
Rosa Celia, também atende crianças carentes.
Um tio já adulto, prometeu
que iria fazer primeira-comunhão e fez.
Uma das avós prometeu que
iria parar de fumar e parou.
Doutor
Vivien Thomas, médico dos “meninos azuis”, é pouco conhecido, a cirurgia em que
foi pioneiro é chamada “Blaclock Taussig” em homenagem ao cirurgião e a
pediatra participante das pesquisas. Vivien Thomas trabalhou junto com o Doutor
Blaclock por mais de trinta anos .
*Baseado
em uma história real.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
E-Mail:alzumunir@gmail.com
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