quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CONTOS DO MUNIR 003/2013



O SETENTÃO
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Encontrei novamente o Moacir. A última vez tinha alugado meus ouvidos e os de minha namorada para contar a história de sua vida. Quase uma hora de lamúrias. Iniciou com o fracasso de seu primeiro casamento, depois com o segundo,(quando passou muito tempo ouvindo ópera), suas operações de coração, sua viuvez,o hábito de beber vinho e de não dividi-lo com ninguém.
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Acreditava que iria repetir a mesma história, mas não.
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Começou :
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-Estou com um problemão, estou chamando de quarenta e quatro. Mulheres!
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Diante de meu olhar de dúvida.
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-Vou ensinar a você, mas primeiro fui obrigado a mudar meus hábitos.
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-À tardinha ia caminhar sempre pela orla, andava pela ciclovia, por causa das babás que vinham em bloco sem dar passagem. Um dia um ciclista passou, deu um tapa em minha cabeça dizendo: “sai do caminho coroa”, de outra vez meteram o guidon da bicicleta em meus rins. Doeu!
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A partir daí, passei a andar por dentro, tem cada menina bonita trabalhando no comércio de Ipanema e Leblon. É só escolher.
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Vi uma, em uma loja de roupas femininas. Era a gerente. Entrei e falei que queria dar um presente para uma moça linda. Pedi que me ajudasse, me mostrou um conjunto de seda, perguntando se a jovem era morena ou clara, disse que era assim como ela, escolheu o azul indagando o número, achei que deveria ser o mesmo que ela usava. Pedi que embrulhasse para presente, colocasse o meu cartão junto para que a moça soubesse quem dava e pedi o telefone, o nome da loja e a quem deveria procurar para a troca. Paguei, dei as costas, sai sem olhar para trás.
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Ela me chamou.
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- O senhor esqueceu o presente!
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- Não esqueci não! É seu, a moça linda é você!
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No dia seguinte ligou para agradecer.
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Chamei para jantar, convite aceito e começou a metade do problemão. No outro dia veio ao meu apartamento.
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Perguntei:
- Metade?
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-É, ela tem vinte e dois anos. Fica uma graça de shortinho.
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Continuou:
-A outra metade; a recepcionista do restaurante. Soube que ela aniversariava. Vinte e dois. Levei um presentinho, coisa não muito cara, uma bijuteria em uma embalagem caprichada, o meu telefone junto. Também ligou para agradecer. Convidei para um almoço preparado por mim. Aceitou, dizendo que gostaria de comer uma comidinha caseira. Mais um pouco...  vinte e dois mais vinte e dois, quarenta e quatro.
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Está difícil manter o ritmo.
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Olha, se você quer que a menina se deslumbre leve no Fashion Mall, tem um bistrô de nome francês, algumas mesas são privilegiadas , a moça vai ficar encantada com a vista.
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Mas como eu estava dizendo, os remedinhos já não estão dando conta.
Consultei o médico, ele me deu uma dica. Vou usar. É um aparelhinho, custa caro, mas ele dá a receita, só tem nos Estados Unidos. A gente importa, cobra do Plano de Saúde que nega.Um primo do doutor é advogado, entra com o mandado de segurança. O juiz sempre decide pelo cliente.
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A gente aperta um botãozinho e pronto.
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Despediu-se: Não vou cobrar nada de você não. Vou dormir, estou exausto.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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