O SETENTÃO
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Encontrei novamente o
Moacir. A última vez tinha alugado meus ouvidos e os de minha namorada para
contar a história de sua vida. Quase uma hora de lamúrias. Iniciou com o
fracasso de seu primeiro casamento, depois com o segundo,(quando passou muito
tempo ouvindo ópera), suas operações de coração, sua viuvez,o hábito de beber
vinho e de não dividi-lo com ninguém.
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Acreditava que iria
repetir a mesma história, mas não.
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Começou :
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-Estou com um problemão,
estou chamando de quarenta e quatro. Mulheres!
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Diante de meu olhar de
dúvida.
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-Vou ensinar a você, mas
primeiro fui obrigado a mudar meus hábitos.
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-À tardinha ia caminhar
sempre pela orla, andava pela ciclovia, por causa das babás que vinham em bloco
sem dar passagem. Um dia um ciclista passou, deu um tapa em minha cabeça
dizendo: “sai do caminho coroa”, de outra vez meteram o guidon da bicicleta em
meus rins. Doeu!
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A partir daí, passei a
andar por dentro, tem cada menina bonita trabalhando no comércio de Ipanema e
Leblon. É só escolher.
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Vi uma, em uma loja de
roupas femininas. Era a gerente. Entrei e falei que queria dar um presente para
uma moça linda. Pedi que me ajudasse, me mostrou um conjunto de seda,
perguntando se a jovem era morena ou clara, disse que era assim como ela,
escolheu o azul indagando o número, achei que deveria ser o mesmo que ela
usava. Pedi que embrulhasse para presente, colocasse o meu cartão junto para
que a moça soubesse quem dava e pedi o telefone, o nome da loja e a quem
deveria procurar para a troca. Paguei, dei as costas, sai sem olhar para trás.
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Ela me chamou.
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- O senhor esqueceu o
presente!
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- Não esqueci não! É seu,
a moça linda é você!
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No dia seguinte ligou para
agradecer.
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Chamei para jantar,
convite aceito e começou a metade do problemão. No outro dia veio ao meu apartamento.
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Perguntei:
- Metade?
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-É, ela tem vinte e dois
anos. Fica uma graça de shortinho.
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Continuou:
-A outra metade; a
recepcionista do restaurante. Soube que ela aniversariava. Vinte e dois. Levei
um presentinho, coisa não muito cara, uma bijuteria em uma embalagem
caprichada, o meu telefone junto. Também ligou para agradecer. Convidei para um
almoço preparado por mim. Aceitou, dizendo que gostaria de comer uma comidinha
caseira. Mais um pouco... vinte e dois
mais vinte e dois, quarenta e quatro.
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Está difícil manter o
ritmo.
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Olha, se você quer que a
menina se deslumbre leve no Fashion Mall, tem um bistrô de nome francês,
algumas mesas são privilegiadas , a moça vai ficar encantada com a vista.
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Mas como eu estava
dizendo, os remedinhos já não estão dando conta.
Consultei o médico, ele me
deu uma dica. Vou usar. É um aparelhinho, custa caro, mas ele dá a receita, só
tem nos Estados Unidos. A gente importa, cobra do Plano de Saúde que nega.Um
primo do doutor é advogado, entra com o mandado de segurança. O juiz sempre
decide pelo cliente.
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A gente aperta um
botãozinho e pronto.
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Despediu-se: Não vou
cobrar nada de você não. Vou dormir, estou exausto.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
E-Mail:alzumunir@gmail.com
Será que junto ao aparelhinho vem como brinde um desfibrilador ?
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