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Agosto
de 1971 a Policia Civil, cerca o Colégio André
Maurois, destitui e prende a diretora Henriette Amado. Os alunos se revezam em
vigília inútil por três dias. Depois de algumas
semanas de tensão, um grupo, do qual fazia parte o filho mais velho do
Comandante Munir, consegue reabrir um diálogo com o novo diretor para
reestabelecer, pelo menos em parte, a “Liberdade com Responsabilidade” e
organiza, com apoio da direção, um campeonato de futebol entre as turmas do
colégio. Até hoje, esse grupo venera o lema da saudosa ex-diretora
Carlinhos em sua última crônica parece evocar Henriette no relacionamento
disciplinar-hierárquico existente entre tripulantes e oficiais a bordo de um
submarino. Por outro lado apesar de ser jornalista e não estrategista, já
vislumbrava o emprego do submarino em sua missão mais importante: a defesa de
nossa plataforma continental, que sabemos hoje possuir grandes reservas de
petróleo.
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O
que parecia um inferno astral para o Comandante do Bahia, após a última crônica
do Carlinhos, transformou-se em mar de Almirante. O Chefe da Esquadra, também
submarinista, orgulhoso de como foram tratados os marinheiros das profundezas,
não poupou elogios.
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Munir
Alzuguir já integrava a lista para promoção por merecimento, seus temores de
ser preterido pelo episódio se dissiparam, quando foi alçado a Capitão de Mar e
Guerra ainda no comando do Bahia.
O
“passeio de submarino” chegou à Presidência, então Governo Militar, e foi
citado como exemplo a ser seguido por autoridades castrenses para o
estreitamento das relações entre civis e militares.
Manolo
promoveu no Antonio’s um jantar com a oficialidade do Bahia (cavaquinhas
deliciosas).
Carlinhos,
pouco ligando às críticas de seus companheiros de imprensa, continuava a bebericar
seu uísque e fumar seu cigarrinho no canto da boca. Frequentou algumas vezes à
casa do agora ex-comandante do Bahia.
Em
determinada ocasião, escondeu em seu apartamento um jornalista procurado pela
Policia Civil. Nesse mesmo dia, por uma dessas ironias do destino, seu agora
conhecido oficial de Marinha, bateu à sua porta, convidando-o para o
aniversário de sua filha caçula.
Carlinhos
foi; ficou pasmo quando o comandante entregou a ele um pacote amarrado com
barbante. Era seu primeiro romance manuscrito, em Vila Velha no Espírito Santo,
aos dezesseis anos.
Nunca
soube como aquilo fora parar nas mãos de um militar. Depois, em um romance,
disse acreditar que o Serviço Secreto da Marinha, “CENIMAR” tinha empreendido
busca em sua casa. A história na verdade era bastante diferente: O irmão
suicida de um parente do comandante, muito amigo de Carlinhos, pedira que fosse
entregue ao agora jornalista de sucesso, o seu primeiro romance, fato omitido
propositadamente para evitar tristes recordações.
Dois
anos mais tarde, o Comandante Alzuguir, avaliado por uma comissão da Diretoria
do Pessoal da Marinha embarcava com a família para os Estados Unidos em missão
diplomática na Organização dos Estados Americanos.
Os
filhos do Comandante Alzuguir foram matriculados por determinação da Prefeitura
de Maryland em escolas americanas; a menina, a caçula, foi alfabetizada
novamente em inglês e mais tarde teria seu próprio cursinho.
O
menino mais novo, mas muito forte, sofreu tentativas de bullying, sua reação
foi tão violenta que botou para correr os zombeteiros e ele passou a ser
respeitado na escola.
O
do meio, que teria sido um marinheiro excepcional, passou da idade por estar na
América. A carreira na Marinha agora é um desejo do seu filho, um garotão lindo
hoje com 16 anos e que herdou do pai o dom para o desenho.
O
mais velho, estudava engenharia na Universidade de Brasília, embarcou quando o
semestre terminou e foi matriculado em uma universidade americana. Hoje,
integra o quadro técnico de engenheiros da Petrobras e lidera a concessão do
Selo de Eficiência Energética para fogões e automóveis.
Segue
a última crônica do Carlinhos. Escrita no Caderno B do Jornal do Brasil no dia
3 de julho de 1970. Uma sexta-feira.
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