ME LEMBREI DE VOCÊ
ANGEL
ANGEL
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Angel era artista igual a Paulo Adolfo e Marcilio.
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Marcilio faz faculdade, diz que não consegue
aprender o beijo técnico, foi reprovado na matéria. Paulo Adolfo formou-se na
Escola da Vida por necessidade de sobrevivência, e já foi rival em uma novela
de um grande ator, verdade que em uma cena breve, mas bem trabalhada.
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Angel, no início, um figurante entre tantos outros.
Mais tarde, em voo solo em pequenos papeis de novela. Apareceria se destacando
em filmetes de propaganda, atuando como parceira de artistas já famosos de
televisão. No seu tempo, eram permitidos os anúncios de marcas de cigarro. Em
um, que durou mais de um mês, descia as escadas do Cristo e, após uma paradinha
em um degrau, tirava dois do maço, mostrava o logotipo e acendia o dela e o do
acompanhante em um gesto carinhoso.
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Angel, russa, loura, alta e elegante também era
modelo, desfilava em sessões privadas para a classe rica da zona sul.
Orgulhava-se de sua magreza, quando nua, deitada mostrava o íleo a sobressair
sob a pele.
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Era casada com um rico atacadista de tecidos. Um
homem alto, moreno, bonito e mulherengo, possuidor de um carro esporte, e que
não se importava de pagar multas por excesso de velocidade ou estacionamento proibido,
parava em qualquer lugar.
Normalmente as empresas para as quais anunciava,
enviavam um carro para buscá-la.
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O marido almoçava em casa, da varanda ele a via
partir. A seguir ele descia, pegava seu Mustang, buscava a namorada e rumava
para os motéis da Zona Oeste.
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Em uma sexta-feira, a filmagem da propaganda seria
na Barra, Angel só se convenceu que era o Mustang de seu marido quando o viu no
volante com sua acompanhante, a irmã de um amigo da família, entrando no motel
Dunas na Avenida das Américas.
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Alegou que estava passando mal, e realmente estava.
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Em casa, enorme frustração, e vontade de vingança.
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Na segunda, como fazia quando não estava
trabalhando foi passear em Copacabana. Os shoppings eram poucos, ela visitava
as lojas de grife e se divertia olhando o público.
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Agora, sua cabeça era outra, passou a prestar
atenção aos homens que a olhavam com admiração e a avaliá-los.
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Luiz saíra do trabalho estava de terno cinza chumbo
talhado pelo Martins, alfaiate do Clube Naval, a camisa sob medida da Casa
Alberto, a gravata de seda cor de céu em dia claro. Havia marcado dentista na
Miguel Lemos
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Resolveu tomar um café no Azulzinho.
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Seus olhos foram atraídos pelo olhar cor de violeta
da loura que estava usando uma blusa listrada tipo marinheiro com as cores da
bandeira da França, calça comprida, a boca de sino era moda, sandálias de salto
de corda.
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.Caminhavam na mesma calçada em direções opostas.
Luiz a cumprimentou, perguntando:
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-Posso falar com você?
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Ela:
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-Ali na Cirandinha.
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Luiz foi a lanchonete, esperou uns quinze minutos e
já pensando:
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-Que moça esperta, vou embora.
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Na porta encontrou-se com ela e logo uma empatia
tomou conta da conversa, ali ficaram até o por do sol.
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Luiz notou a aliança em sua mão esquerda, e ainda
assim ofereceu-se para levá-la até em casa.
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Angel agradeceu, dizendo que seu Corcel estava
estacionado ali perto.
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Despediram-se com os beijinhos tradicionais dos
cariocas.
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Uma semana depois Angel telefonava e marcaram um
encontro para um cafezinho.
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Ela pediu a Luiz que a buscasse em casa. Ele
perguntou:
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-Seu marido não vai estranhar?
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Angel:
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-Você agora é o diretor da companhia de arte para a
qual estou trabalhando.
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Seguiram para a Ilha dos Pescadores.
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Na volta, veio cantando a canção Folhetim da Gal
Costa:
-Folhetim
Se acaso me
quiseres
Sou dessas mulheres que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte, te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim
Sou dessas mulheres que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte, te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim
Compositor Chico Buarque
Na outra semana, ela disse que iria no carro do
marido.
Ela adorou o Dunas, embora o porteiro do motel
tenha reconhecido o Mustang e feito uma cara de espanto.
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O tempo passou, Angel ficou viúva, engordou e casou
com seu personal trainer.
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Luiz mais velho, sentado com amigos em um bar e, na
mesa ao lado, sua namorada conversando com um rapaz bem mais jovem.
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Luiz mais tarde perguntou quem era.
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-É um vizinho do prédio que queria discutir como
vamos votar na reunião de condomínio.
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-Me lembrei de você Angel
Autor: Munir
Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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