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Joana está
perto dos sessenta, aparenta bem menos, cuida-se muito, não pega sol e se
protege, cobrindo seu corpo branco e trabalhado na Academia como se fora
muçulmana. Joana é divorciada, tem um namorado mais velho, talvez uns vinte
anos. Bonita de traços finos lembra uma deusa grega, daquele tipo que a gente
encontrava na face das moedas.
Conheci Joana na Escola Superior de Guerra, ela
tinha feito o curso no ano anterior e por mérito fora efetivada como titular da
cátedra de Direito. Paquerada por Coronéis e Generais não misturava seu
trabalho com diversão desanimando investidas.
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Algum
tempo mais tarde, já não mais trabalhando, veio morar no Leblon, não escondo
que tinha atração por ela. Era comum encontrá-la nas minhas caminhadas com meu
cão.
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Certa vez
resolvi convidá-la para almoçar.
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Ela me
disse:
-Almoçar é
a única coisa que faço com meu namorado.
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Retruquei
com malícia:
-Então
vamos fazer outra coisa.
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Ruborizada,
percebeu o sentido que eu emprestara às suas palavras, mas não conseguiu
articular uma resposta e gaguejando disse que às vezes ia ao cinema.
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Joana como
outras moças, também tem uma tia que ela utiliza quando quer fazer algo
diferente dos programas que lhe são propostos.
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O normal é
que a tia seja idosa, precise de cuidados e que a chame ao telefone nas
oportunidades que Joana cria. A tia pode morar longe, e Joana ter que ir ao seu
encontro, ou ter ido sem avisar para sua casa e dizer que não está passando
bem, e chamar a sobrinha para acompanhá-la.
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Recentemente,
fui a um barzinho, à noite, no final do Leblon. Para minha surpresa Joana
estava sentada com alguns amigos em uma mesa ao lado. Tinha o cabelo preso,
vestida como uma mocinha de 18 anos. Shortinho preto, bem curtinho, a blusa
branca bem leve, amarrada na cintura deixando ver o umbigo. .
Na verdade
aparentava ser bem mais moça e flertava com um rapaz na mesa ao lado. Fiquei em
dúvida se era a mesma Joana que eu conhecia, ainda mais porque ela olhava de
vez em quando na minha direção e não dava mostras de me reconhecer.
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Liguei
para o celular dela, ela atendeu, perguntei:
-Oi Joana,
tudo bem com você, pode falar?
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Ela
respondeu:
-Posso sim
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Perguntei:
- Onde
você está?
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Ela:
-Estou
dando uma de cuidadora de minha tia, aqui em Vargem Grande e você?
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Eu:
Pertinho
de você num barzinho chamado Fantasia.
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Ela:
-Não
conheço.
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Era como
se estivesse realmente falando a verdade, tal a credibilidade que sua voz
transmitia. Joana já devia estar com o teor alcóolico elevado, sem que fosse
necessário o bafômetro para testar.
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Continuava
a olhar na minha direção e não me via. Parece que teve um momento de lucidez e
fez um aceno discreto.
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Eu já
estava de partida e ela me mandou um beijo de despedida.
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Joana
agora, dois dias depois está sentada ao meu lado no sofá aqui de casa, e apesar
do ar condicionado ligado, diz que está sentindo muito calor.
Autor: Munir
Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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