quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

CONTOS DO MUNIR-001/2016



JOANA
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Joana está perto dos sessenta, aparenta bem menos, cuida-se muito, não pega sol e se protege, cobrindo seu corpo branco e trabalhado na Academia como se fora muçulmana. Joana é divorciada, tem um namorado mais velho, talvez uns vinte anos. Bonita de traços finos lembra uma deusa grega, daquele tipo que a gente encontrava na face das moedas. 
Conheci Joana na Escola Superior de Guerra, ela tinha feito o curso no ano anterior e por mérito fora efetivada como titular da cátedra de Direito. Paquerada por Coronéis e Generais não misturava seu trabalho com diversão desanimando investidas.
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Algum tempo mais tarde, já não mais trabalhando, veio morar no Leblon, não escondo que tinha atração por ela. Era comum encontrá-la nas minhas caminhadas com meu cão.
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Certa vez resolvi convidá-la para almoçar.
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Ela me disse:
-Almoçar é a única coisa que faço com meu namorado.
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Retruquei com malícia:
-Então vamos fazer outra coisa.
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Ruborizada, percebeu o sentido que eu emprestara às suas palavras, mas não conseguiu articular uma resposta e gaguejando disse que às vezes ia ao cinema.
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Joana como outras moças, também tem uma tia que ela utiliza quando quer fazer algo diferente dos programas que lhe são propostos.
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O normal é que a tia seja idosa, precise de cuidados e que a chame ao telefone nas oportunidades que Joana cria. A tia pode morar longe, e Joana ter que ir ao seu encontro, ou ter ido sem avisar para sua casa e dizer que não está passando bem, e chamar a sobrinha para acompanhá-la.
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Recentemente, fui a um barzinho, à noite, no final do Leblon. Para minha surpresa Joana estava sentada com alguns amigos em uma mesa ao lado. Tinha o cabelo preso, vestida como uma mocinha de 18 anos. Shortinho preto, bem curtinho, a blusa branca bem leve, amarrada na cintura deixando ver o umbigo. .
Na verdade aparentava ser bem mais moça e flertava com um rapaz na mesa ao lado. Fiquei em dúvida se era a mesma Joana que eu conhecia, ainda mais porque ela olhava de vez em quando na minha direção e não dava mostras de me reconhecer.
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Liguei para o celular dela, ela atendeu, perguntei:
-Oi Joana, tudo bem com você, pode falar?
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Ela respondeu:
-Posso sim
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Perguntei:
- Onde você está?
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Ela:
-Estou dando uma de cuidadora de minha tia, aqui em Vargem Grande e você?
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Eu:
Pertinho de você num barzinho chamado Fantasia.
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Ela:
-Não conheço.
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Era como se estivesse realmente falando a verdade, tal a credibilidade que sua voz transmitia. Joana já devia estar com o teor alcóolico elevado, sem que fosse necessário o bafômetro para testar.
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Continuava a olhar na minha direção e não me via. Parece que teve um momento de lucidez e fez um aceno discreto.
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Eu já estava de partida e ela me mandou um beijo de despedida.
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Joana agora, dois dias depois está sentada ao meu lado no sofá aqui de casa, e apesar do ar condicionado ligado, diz que está sentindo muito calor.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com

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