segunda-feira, 25 de abril de 2016

CONTOS DO MUNIR 006/2016



A FILHA DO GENERAL

Selma era uma menina de treze anos. Já era moça. Seu pai, o coronel do Exército da arma de Cavalaria, Dilermando Nóbrega, tinha casado tão logo fora promovido a segundo tenente.

Nascido em Mato Grosso, era do tipo durão, mas de boa índole.
Adorava Selma, a única menina, seus dois outros filhos já eram rapazes quando ela nasceu.

Dilermando tinha quarenta e oito anos, daí a dois anos era muito provável ser promovido a general, o que realmente aconteceu, e nessa ocasião convidou seus pares para uma reunião em sua casa.
Seu maior amigo e colega desde a época do Colégio Militar era mais jovem que ele quase quatro anos. Chamava-se Eduardo, ainda solteiro e “pegador”, tipo atlético, bonitão, lembrava demais o artista Robert Redford, cabeleira loura, olhos de um azul intenso, brilhantes como duas safiras que transmitiam sedução. Coronel da Arma de Engenharia, sempre o primeiro da turma em todos os cursos, nascido em berço de ouro em Ipanema, fluente em inglês, alemão e francês. Gostava de Baudelaire, de memória notável conhecia de cor o livro Fleurs Du Mal. Era o único desacompanhado na festa.

Selma se tornara uma atraente mocinha de quinze anos, aparentava mais, longos cabelos negros, olhos castanhos, tez morena lembrava os ancestrais indígenas de seu pai.

O trecho do romance de José de Alencar era a moldura de Selma:

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema”.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso (...)”

Ao ver o ainda coronel Eduardo, apaixonou-se por ele. Percebendo que ele estava só, aproximou-se e passou boa parte da festa ao seu lado, para desgosto das outras mulheres que lá estavam.

Três anos mais tarde, o agora general Eduardo se casaria com uma antiga namorada. A família Nóbrega foi ao casamento.

O noivo em uniforme de gala, a noiva de véu e grinalda. Apesar dos seus quarenta anos, ainda esbanjava beleza. Seu vestido branco de neve ressaltava seus longos cabelos louros, não estava usando maquiagem, apenas um leve batom. As ex-namoradas de Eduardo a olhavam com inveja e admiração.

Selma, agora com dezoito anos, maior de idade, dividia com a noiva a atenção dos convidados, atraídos pela beleza daquela linda mulher. Mas os olhos azuis do General Eduardo neste dia não eram para ela.

Selma por que você está chorando?

Perguntou Dilermando.

-Estou emocionada papai.

CONTINUA...
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com

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