terça-feira, 16 de março de 2010

CONTOS DO MUNIR - 32

TEMPOS DE TECNOLOGIA
Era uma vez:- três rapazes.

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Tinham acabado de completar dezoito anos, começavam a usufruir da maioridade: entrar no bar e pedir um chopinho, chegar depois das 23.00 horas, ir ao Maracanã com amigos, dormir fora de casa (ainda tinham que avisar), ler a playboy sem precisar esconder e praticar esportes radicais.
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Haviam terminado o segundo grau no mesmo colégio, passaram no vestibular da Pontifícia Universidade Católica no Rio de Janeiro. Como eram de classe media alta, cada um ganhou dos pais um automóvel. Estavam agora em uma escola de motoristas.
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Pedro, André e Fernando, assim se chamavam.
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Fernando tinha um extraordinário pendor musical, conhecedor de Bach e Beethoven, gostava também de música moderna, mas detestava os Beatles. Só fazia uma concessão: “Imagine” - de John Lennon. Era sua intenção cursar e se diplomar na escola de música em Baltimore nos EUA. Sua matrícula até já fora aceita. Entretanto, quando vislumbrou que iria afastar-se de seus antigos companheiros, desistiu... sendo bom em matemática resolveu ir para PUC com eles.
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Iriam todos cursar engenharia.
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Possuíam iphones, laptops e todas as modernas parafernálias eletrônicas. Eram ases em jogos virtuais. Conheciam e praticavam Twitter, Face book, Orkut, Skipe e outros meios da Rede.
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Fernando nos primeiros anos de colégio usava cabeleira, talvez para imitar antigos músicos. Apesar de usar shampoo e condicionador Maohogany seu cabelo parecia estar sempre desalinhado. Como era o único diferente, perto de se formar optou por um corte mais curto.
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André era altíssimo, aos doze anos já media um metro e setenta e cinco, aos dezesseis quase um e noventa, depois ainda cresceu mais um pouquinho. Tinha uma incrível facilidade e habilidade para mágicas com cartas e truques de ilusionismo. Tocava guitarra e lia partituras musicais.
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Pedro era o esportista da trinca, iatista, surfista, atualmente praticava o kite-surf. Quando menino tinha uma velocidade espantosa no nado livre, os professores queriam que se dedicasse ao esporte, gostava mais da vela. Seu avô tinha um barco de regata.
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Estavam curtindo o carnaval em Búzios na casa do avô de Pedro, era terça-feira e tinham ido ao centro ver o movimento e tomar uma cervejinha; já agora para eles liberada. Voltavam a pé pela rua da Praia de Geribá e bem pertinho da porta de casa, quase meia-noite, foram abordados por cinco marginais fantasiados.

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Um vampiro, aparentemente o chefe da gang, portava uma Uzzi. O que usava mascara do Bush uma pistola Glock. O Homem-Aranha arma com laser, mira vermelha luminosa percorrendo as cabeças dos três. O de menor estatura vestia roupa e cara do anão Zangado, um porrete na mão. A Madonna, dama da turma brandia um chicote.
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Sob ameaças, mandavam que jogassem dentro de uma mochila celulares, carteiras, cordões, relógios e tudo o mais que tivessem de valor. Não esquecessem os tênis; as meias não precisava, e como disse um deles deveriam estar fedidas. Iriam necessitar para andar nas pedras e não machucar os pés.
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Foi com muita pena que Fernando jogou seu relógio Bvlgari, ainda novinho, presente de seus dezoito anos, na mochila do anão que estava recolhendo seus antigos pertences..Já haviam sido treinados pelos pais a não reagirem a assaltos.
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Chegaram à casa só de bermudas, tinham levado também as camisas. .
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Fernando lembrou-se que seu i-Phone 3GS da Apple tinha GPS e rastreador. Falaram com o pai do Pedro.
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Foram os quatro com o laptop para o carro e iniciaram a busca pelo site da Apple. A tela mostrou o mapa do Brasil, depois o Rio e em seguida Búzios. Com o zoom ampliaram a imagem que revelava as ruas, onde um pip luminoso verde indicava o local onde se encontrava o celular.
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Parecia um filme de aventura e ficção cientifica. Pedro ligando para a Policia dando as informações. Fernando monitorando no computador, através do GPS as direções para o pai de Pedro. André de co-piloto complementando e dando a sugestão que a Policia não ligasse a sirene.
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Fernando pelo Bluetooth acionou a função “Ambient” do celular, a tela do laptop mostrou: “Ambient – Vídeo e Áudio – Vídeo não disponível”. O som era de motos. Fernando teclou “Infra-red”. O contorno do calor de três motos se delineou. O ruído das máquinas desapareceu e o som de um samba ao longe se fez ouvir misturado a vozes próximas.
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Vamos bebemorar diziam..Logo o laptop indicou “Vídeo –on”. O grupo estava em um bar. Sentados rodeados de cerveja, despejavam da mochila em cima da mesa o botim.
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Fernando e os outros no carro podiam ver e ouvir, pela imagem e som transmitidos pelo ipod, agora fora da mochila, como eram e o que diziam.
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Discutiam o que fazer do material “expropriado”, assim tinham definido. O líder decidiu que tudo seria vendido para comprar drogas. A aprovação foi quase unânime , só a Madonna discordou: queria algum para sua ONG..
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O pai do Pedro levou o carro até bem próximo ao bar. Já podiam ver de fato os malandros bebendo cerveja.
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Os policiais, orientados por celular foram direto a eles e sacaram suas armas quando um bandido ameaçou fugir..Dirigiram-se todos para a Delegacia..Lá foi verificado que as armas eram de plástico e que um do bando era menor de idade, o pai foi chamado e chegou baixando o pau no guri, só parou por intervenção do delegado.
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Os demais meliantes foram dormir na cadeia. As vitimas recuperaram o que lhes pertencia, porém, só voltaram para casa depois do sol nascer.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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