CONTOS DO MUNIR 33

VIAGEM AO ESTRANGEIRO

Era uma vez um oficial de Marinha, foi promovido ao posto de Capitão-de-Corveta. Adquiriu, então, o direito de ser chamado comandante.
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Depois de quase doze anos embarcado na Flotilha de Submarinos, foi designado para respirar um pouco do ar puro no convés de um navio da Força de Transportes, que sempre ia para o estrangeiro. Estranhou bastante a princípio, acostumado que estava com a mistura dos cheiros de óleo diesel dos motores e do hidrogênio das baterias do submarino. Cedo se habituou, e lentamente seus ternos e uniformes foram perdendo aquele odor característico dos submarinistas.
O navio-transporte viajava para a Europa; da Inglaterra, traria sobressalentes para os submarinos e fragatas; da França, peças de reposição para os caças Mirage da Força Aérea.
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Um dos portos de parada seria Toulon – antigo e ainda importante porto militar com seus estaleiros, herança do velho Arsenal de Marinha construído no século XVI.
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O comandante já estivera em Toulon anos após a guerra. As fotografias da época mostravam o cais de desembarque, um cruzador francês seminaufragado cujos canhões haviam sido serrados pela Resistência, evitando-se assim que fossem utilizados pelos alemães.
O navio-transporte do comandante navegava agora no Golfo dos Leões, quando o mar começou a crescer animado por um vento gelado de quase 35 nós, - era o Mistral que, vindo dos Alpes, percorria o vale do Ródano em direção ao Mediterrâneo, causando ondas de mais de 4 metros que se desfaziam em estrias de espumas.
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Na escala Beaufort, usada na Marinha para designar a força do vento, a classificação seria sete. Nosso comandante sentiu saudades de seu submarino que nessas ocasiões aproava ao mar revolto e mergulhava buscando a tranqüilidade na cota de 25 metros de profundidade, transformando o jogo violento em um suave balançar de rede.
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Meio mareado, o comandante começou a pensar na vida: mais jovem tivera uma paixão cinematográfica pela atriz Grace Kelly, assistira a todos os seus filmes, teve uma decepção quando ela deixou de ser estrela de cinema para virar princesa.
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Ficou triste com sua morte prematura. Resolveu que em Toulon, se houvesse oportunidade, iria ao Principado de Mônaco.
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Após o expediente de bordo, o comandante foi revisitar a antiga catedral em Marselha, a Igreja de Ste. Marie-Majeure. Acertou sua viagem a Mônaco para o final da semana. Planejava ir ao Museu Oceanográfico e ao famoso cassino de Monte Carlo.
Em Mônaco, juntou-se a um grupo que, à noite, saiu de van em um passeio turístico pela cidade velha. Estiveram nas proximidades do Palácio, viram as residências dos três filhos do Príncipe Rainier 111 e percorreram a estrada do trágico acidente que vitimara a princesa Grace.
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O comandante sentiu certa nostalgia, compensada pelo perfume e a beleza da jovem turista espanhola de Santiago de Compostela, que conhecera no grupo e com quem vinha mantendo uma agradável conversa. Seguiram para o cassino de Monte Carlo. O comandante e sua companhia não eram afeitos a jogo.
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Resolveram jantar no Café de Paris, ali na praça do cassino. Pediram:-* “soupe a l’oignon gratinée, ravióli Forest, água mineral San Pellegrino e vinho tinto De La Tour”.
Tinham aproximadamente duas horas até o reencontro com o grupo.
Como se tinham passado quarenta e cinco minutos e o jantar não aparecia, o comandante resolveu chamar o garçom e, lembrando-se de seu francês de colégio disse:- ** “Garçon, s’il vous plait, sera possible amener le dinner un peu plus vite?”.
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A resposta bem humorada do garçom foi:- *** “Mr vous n’êtes pas au McDonald’s, votre dinner est en la cuisine bien pour préparer!”.
Deu tempo para o jantar, mas não para a sobremesa.
Na madrugada de segunda-feira o comandante regressou a Toulon com um desejo imenso de ir a Santiago de Compostela.
*sopa de cebola gratinada
**Garçom, por favor, será possível trazer o jantar um pouco mais rápido.
***Senhor, o senhor não está no MacDonald’s, seu jantar está na cozinha sendo preparado.

Autor: Munir Alzuguir

E-Mail:alzumunir@gmail.com