quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CONTOS DO MUNIR 78: "O TAXISTA"

TAXISTA

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LEBLON

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- Boa noite. Meu nome é Gustavo, para onde o senhor deseja ir?

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Surpreso com a delicadeza do motorista, respondi- Marina da Glória- Cirque Du Soleil.

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-Então não preciso nem programar o GPS, sei onde é. Vou deixar ligado por causa dos pardais.

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-Que tipo de música o senhor quer ouvir?

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Sem esperar resposta, continuou:


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- Aí atrás tem uma TV digital, está ligada na Globo, está na hora da novela, se o senhor quiser mudar é só aproximar a mão perto da tela, vai aparecer o menu. Na Band, está passando o jornal. Pode também desligar. Estou ouvindo música ambiental no Bluetooth e posso aumentar o som. E o ar está bem?

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-Está bem. E desliguei a TV.

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Era sexta-feira, chovia um pouco.

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Fomos pela Delfim Moreira, Vieira Souto e na Av. Atlântica, o trânsito lento.

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O taxista comentou:

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- Creio ser melhor ir pela Nossa Senhora de Copacabana, o corredor expresso melhorou muito o tráfego lá. Temos bastante tempo, o espetáculo só começa as vinte e uma horas, mas se o senhor for pro Tapis Rouge seria melhor chegar mais cedo para tomar seu uisquizinho e comer uns salgadinhos.

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Não sei porque ele acertou que eu estivesse indo pro Tapis Rouge.

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- Então vamos.

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Realmente o trânsito fluiu bem mais rápido.

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Notei que no painel dianteiro existiam quatro fotos: dois rapazes, uma moça e um menino.

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Por curiosidade perguntei:

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-Sua família?

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O taxista respondeu: meus filhos e meu neto.

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Interroguei:- A moça não é sua esposa?

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Gustavo insistiu:- São meus três filhos, um de cada uma das ex-mulheres e o menino de cinco anos é filho desse mais velho (na foto parecia um jovem de pouco mais de vinte).

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- Agora só tenho uma namorada e não quero ter mais filhos. Não sei quantos ainda estão por aí.

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Estávamos já próximos da Marina da Glória, e o taxista entendia bem do seu ofício. Uma fila de um quilômetro de carros, incluindo táxis, se estendia para adentrar. Gustavo ignorou solenemente a fila. Paramos junto à tenda azul paramentada com o tapete vermelho.

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O motorista falou: O seu show vai terminar por volta de meia-noite, é difícil pegar um táxi a essa hora, ligue que venho buscá-lo no meu carro. A luz de cima é azul, será fácil me ver.

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Ao saltar, avistei Soninha, linda de tubinho preto, que também desembarcava de um automóvel.

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Como estava esperando Nicole que vinha de uma reunião de trabalho na cidade, cumprimentei Soninha rapidamente, bem a tempo de ver Nicole chegar.

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Passamos, eu e Nicole na tenda azul, tomamos champanhe e beliscamos uns petiscos.

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Notei que Nicole queria me dizer alguma coisa. O espetáculo começou, ela, cuidadosa nesses ambientes, sempre desliga celulares e não gosta de conversar. Eu a senti ansiosa.

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No intervalo, veio o questionamento:- Quem era aquela moça bonita que você cumprimentou?

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Respondi dizendo que era uma amiga de minha filha.

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– Creio que já a vi em algum lugar.

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-Ah, agora estou me lembrando... Ela é lá do Arpoador e só a tinha visto de shortinho.

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A chuva aumentou, o show terminou e havia chamado o taxista para nos buscar.

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Gustavo apareceu com seu táxi de luz azul.

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Só virou-se para trás, discretamente, mais para olhar Nicole, do que perguntar se era para nos deixar onde eu havia tomado o táxi.

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Nicole, que costuma dar as ordens para aonde ir ao motorista, entrou calada e calada ficou o resto do trajeto.

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À noite, dormi no sofá da sala.

Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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