sábado, 7 de janeiro de 2012

CONTOS DO MUNIR 77


MUDANÇAS INESPERADAS OU PARÁBOLA DOS APÓSTOLOS E UM JUDAS ISCARIOTES

.

Mário, cientista nuclear e médico cirurgião plástico, iniciava a pesquisa de falsas identidades adquiridas por criminosos. Sua missão descobrir as originais. Um laboratório piloto e uma equipe de cientistas foram colocados a sua disposição. O caráter extremamente sigiloso da operação obrigava o exílio dos envolvidos. A experiência inicial bem sucedida foi determinante para desenvolvê-la mais profundamente.

.

O complexo final foi planejado para Goiânia, local escolhido pelo triste episódio ali ocorrido com o isótopo Césio 137, do qual Mário participou ativamente como especialista em radiação e médico. Não conseguira salvar vidas. Minimizou os efeitos da contaminação e do terror tomado pelos locais com medidas preventivas e esclarecedoras.

.

A construção utilizou a experiência da pirâmide feita para armazenar o lixo atômico do acidente com o Césio 137.

.

Uma cobertura de chumbo envolvia o prédio. Eram onze pesquisadores e mais uma escultora, perita em esculpir cabeças em tamanho natural e com riqueza de detalhes, a partir de fotos.

.

O processo, tendo por base os fichários da Policia Federal e da Interpol mostrava fotos de traficantes, políticos corruptos, criminosos de guerra, serial killers, mafiosos e todos aqueles que, fugitivos da Justiça, se refugiavam, através de cirurgias plásticas em suas novas aparências.

.

Cabia à escultora a modelagem inicial das matrizes utilizadas.

.

O maior e mais perigoso traficante, entretanto vivia na sombra, pouco conhecido, sem passagem pela policia, sem fotos. Rico e poderoso subornava políticos e autoridades. Sem escrúpulos os corrompia com o propósito de destruir possíveis evidências que o ameaçassem.

.

Tomara conhecimento do laboratório, identificara seus componentes e fixou-se em eliminar aquela ameaça.

.

Seu único retrato era quando menino em Cáli.

.

A perícia da artista era tal que ela foi capaz de reconstituir em molde sua aparência atual.

.

Estela, era seu nome, fora casada, o ex-marido apesar de ser um homem bom, não foi capaz de acompanhá-la em seu crescimento intelectual. Era também formada em psicologia e filosofia e inspirava-se em Kant e em seu juízo estético para elaborar suas esculturas.

.

Após a entrevista, Mário desejou visitar seu ateliê e ver suas obras.

.

-Mário, aceita um licorzinho? As mãos de Estela, firmes no cinzel, tremiam ao segurar o cálice. Terminou por deixá-lo cair. Ambos se apressaram a recolher os cacos. Os rostos se tocaram. Impressionado por sua arte, ele a chamou para a equipe.

.

A impressora tridimensional, provida de massa plástica de composição atômica semelhante à estrutura óssea humana, reproduzia cópias dos padrões.

.

Mário utilizava o projetor holográfico e o colimador do Césio 137 para realizar ensaios sobre possíveis alterações nas feições dos procurados. Ressaltava, entretanto, os dados imutáveis por cirurgia, que levariam à identificação dos criminosos.

.

As imagens, enviadas para aeroportos, postos de fronteiras, estações ferroviárias e rodoviárias, portos de desembarque, eram retransmitidas aos agentes de segurança, através de um softer comparando em tempo real as pessoas que transitavam nas áreas vigiadas.

.

Logo, foram detidos inúmeros marginais que se julgavam imunes.

.

Uma radiação infinitesimal, no laboratório, não percebida pelos detectores, lentamente era absorvida pela equipe, atuando como uma espécie de vacina contra os seus efeitos nocivos. A exemplo dos índios, que inoculavam doses mínimas de cicuta em seus filhos desde o nascimento até torná-los imunes ao veneno.

.

O efeito do Césio foi sentido de forma inesperada quando os participantes depois de três semanas tiveram um tempo livre para percorrer o longo corredor, com aspersão, de mais de um quilômetro, para descontaminação e usufruir um pouco da noite de lua cheia.

.

Sem as luzes artificiais, os corpos dos cientistas ao reflexo do luar passaram a emitir uma brilhante luz azul. Mário sempre levava consigo um contador de radiação. A contagem se apresentava nula, não revelando perigo.

.

Estela não fora afetada, seu estúdio era separado e protegido.

.

Mário observou que ao se afastarem da luminosidade do luar o azul desaparecia, constatou também, que seu raciocínio parecia mais veloz quando a luz azul brilhava, assim, equações matemáticas de soluções de fenômenos físicos se elaboravam sem esforço aparente. Desapareciam de sua lembrança à ocultação da lua. Podia ler o pensamento de Estela, mas não dos demais cientistas afetados. Ficou aterrorizado, imaginando que os seus companheiros, igualmente lessem o pensamento da jovem escultora a ele dirigido repetindo sem cessar:- Eu te amo.

.

Tranquilizou-se ao verificar que só conseguia ler o pensamento de Estela quando ele próprio estava envolvido nele, provavelmente por uma questão de sintonia.

.

A explosão violenta da sabotagem foi ouvida, após o clarão luminoso que vindo do laboratório destruído iluminou os cientistas. Mário um pouco afastado pode ler no milésimo de segundo antes da luz o atingir, o pensamento de um deles:- Mário, agora estou rico!

Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário