domingo, 29 de janeiro de 2012

CONTOS DO MUNIR 79

FETTUCCINE & A MOÇA DO GULA-GULA

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A ideia era ir ao Shopping Leblon trocar o celular por um iPhone ou um Smartphone, que faz a mesma coisa e é muito mais barato, (melhor perguntar antes a Cora Ronai). Aproveitar e comprar logo o pacote 3G. Depois ir ver Tim-Tim no cinema. Comer Sirloin ao ponto para bem passado no Outback.

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Já eram quase seis horas da tarde, a chuva começou a cair forte, planos mudados. Duas horas voaram.

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A fome bateu. A chuva amenizou por instantes. O Gula-Gula na esquina e vontade de comer um fettuccine.

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O garçom disse que não era gratinado, insistindo fui até a cozinha falar com o cozinheiro, ele disse que poderia ser. Era de nozes e gorgonzola, recomendou que não tocasse no prato. Estava queimando.

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Ela entrou, pernas longas, tipo falsa magra. Rosto de traços angulosos, que dispensava maquiagem. Cabelos claros não muito longos, algumas luzes discretas. Saia evasê na cor caqui, blusa bege com decote transpassado. Scarpin básico avelã. Tirou da bolsa Victor Hugo, um iPad, e começou a twittar.

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Sempre tive dificuldade de comer macarrão usando a colher, mas o fettuccine, delicioso, não sei porque, ficara fácil enrolar. Devia ser o ponto.

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Muito tempo para comer o gratinado, esfriando no garfo. Terminei. Pelo vidro que isola o restaurante da rua, via-se a chuva forte, iluminada pela luz dos postes.

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Muitas pessoas chegavam, Mateus, que servia à mesa, ansiava por novos clientes e novas gorjetas. A toda hora perguntava:

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-Mais alguma coisa?

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Eu não tinha pressa, estava sem guarda-chuva. Arriscar a pegar nova gripe, nem pensar.

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A moça também já tinha acabado seu jantar.

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Pedi a conta e fui esperar a chuva passar junto à porta do restaurante.

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A jovem passou por mim, perfume Chanel número 5, deu para comparar sua altura, quase a minha. Imaginei-a descalça.

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Ela também hesitou em sair, embora estivesse de sombrinha.

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Comentei:

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– Que chuva!

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Ela sorriu e abriu o guarda-chuva.

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Arrisquei, mais para não me molhar:

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-Será que você poderia me dar uma carona até o meu prédio? É a uns quinze metros deste mesmo lado.

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-Claro-disse com voz firme.

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Caminhamos juntos, a sombrinha mal dando para nos proteger.

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Chegando à portaria, perguntei:

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-Posso retribuir levando você à sua casa? O meu carro está ali.

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-Ficou tarde para ir ao cinema e cedo para ir para casa, ela disse, - agradecendo.

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Entendi que era a maneira gentil de dizer que preferia ir caminhando.

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-É muita água e você vai se molhar, mesmo com a sombrinha, falei.

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Realmente, a chuva aumentara e muito.

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-Quer esperar um pouco aqui na portaria? Tem uma TV e você pode assistir o Fantástico.

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-Tem DVD? -questionou.

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- Aqui não. Na minha casa tem um blu-ray-falei.

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-Algum filme bom?

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-Tenho quatro filmes. Você pode escolher.

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Subimos. Acendi a luz da sala. Liguei o DVD e ela escolheu “Do que as mulheres gostam” com Mel Gibson e Helen Hunt.

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Sentamos no sofá.

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Perguntei se queria tomar uma taça de vinho tinto ou um Prosecco.

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-Não, obrigada, tomei uma caipirosca de morango.

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-E um licorzinho?

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-Aceito.

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Servi o Cointreau no cálice, apoiado em um guardanapo.

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O filme começou. Pedi licença e disse que já voltaria. Ela perguntou se não queria que teclasse “pause”.

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-Não precisa.

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Já havia visto o início do filme. Na verdade, todo o filme, que é de dar sono.

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Não mais que cinco minutos, voltei. Ela estava ressonando, deitada ao longo do sofá, a TV ligada.

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Fui para o escritório, liguei o computador e fechei a porta por causa do som.

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Dez minutos, retornei à sala. Ela tinha ido embora. O filme passando. O cálice vazio. No guardanapo um número de celular e o nome Camile.

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Liguei logo e ouvi a voz feminina robotizada:

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-“Este número de telefone não existe”.

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Continua...

Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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