sábado, 3 de março de 2012

CONTOS DO MUNIR - 82

QUATRO ONCINHAS MINEIRAS APERTADAS
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Carnaval 2012 Leblon
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Segunda-feira, horário de verão 14:00, a batucada rolava frenética na Dias Ferreira, Espaço Cazuza.
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Eu voltava da praia, lembrei que a banana estava acabando e resolvi ir ao Hortifruti. Deixei as cadeiras de praia na portaria, atravessei a Ataulfo. O bloco, um desses com nome sugestivo: “Empurra que pega”, “Rola preguiçosa”,” Vem em mim que sou facinha” ou sei lá, “Mulheres de Chico” estava programado para sair às 15:00.
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Pensei que daria tempo, o Hortifruti anunciara que ficaria aberto até as 14:30.
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Ledo engano, ao entrar na Dias Ferreira, ondas de foliões já semibêbedos me envolveram, e ademais o mercado cerrou suas portas por prevenção.
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A moça alta, já não tão moça, mas ainda em sua beleza, moradora do edifício vizinho ao Hortifruti, subira em um banquinho no seu quarto, ia pegar na parte de cima do armário o chapéu que usara no carnaval passado. Perdeu o apoio e de uma queda veio ao chão. Sua perna bateu na mesinha com vidro ao lado e teve uma fratura exposta, não desmaiou, e por sorte o celular estava ao seu alcance. Não se chamava Tereza, morava só e nem tinha três cavalheiros que a acudissem.*
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Ligou para um amigo no mesmo prédio que veio logo socorrê-la fazendo um torniquete.
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A ambulância foi acionada e chegou bem rápido a Praça Cazuza. Impossibilitada de prosseguir, os paramédicos saltaram e correram para a residência, apesar de gritarem pedindo passagem, os carnavalescos achavam que estavam fantasiados e não cediam. O resgate só foi possível horas mais tarde.
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Dentro daquele mar de gente não existia corrente dominante. Todos se esbarravam, a muito custo consegui chegar ao Galeto, havia desistido da banana, perguntei ao segurança se havia lugar para um, a resposta:-
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-Tem vinte na espera.
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Creio que na verdade queriam entrar no restaurante, mais para ir ao banheiro do que comer.
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Segui pela Aristides Spinola, alguns foliões estavam por ali. Um vestido de Padre Jorjão levantava a batina e batizava uma amendoeira ali plantada.
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O cheiro insuportável em toda a rua era agravado pelos banheiros químicos.
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Entrei na Pizzaria Guanabara, não existia mesa desocupada, fui ao balcão, Val, a mais recente aquisição do restaurante, uma louraça, mais para destaque de Escola de Samba do que atendente, servia com eficiência os pedaços de pizza, nem olhava para os clientes. Perguntou:
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- O senhor já tem a ficha?
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A fila do caixa ia até a rua. Fui salvo pelo Marquinhos o garçom que nos atende aos sábados e domingos.
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Voltando para casa abri o portão da garagem.
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Escutei:
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-Moço, moço, deixa a gente chegar para fazer xixi!
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Eram quatro oncinhas. As deixei entrar e disse:
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-Tem um banheiro do porteiro aqui.
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-Ah moço não vai dar tempo não, nós quatro estamos apertadas, o banheiro também não tem papel.
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Chamei o elevador e apertei o quinto andar.
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Ih, moço, a mais aflita se contorcendo:
- Por que o senhor não mora no primeiro?
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Por intuição elas acharam logo os banheiros.
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Minha sala estava quente, liguei o ar condicionado.
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Elas voltaram aliviadas e contaram, me mostrando as carteirinhas, que eram estudantes de medicina da UFMG. A menos moça estava fazendo residência.
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Se fizessem o teste do bafômetro, com certeza não passariam.
- O senhor salvou a gente!
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Me abraçavam e me beijavam.
-Está tão fresquinho aqui, deixa a gente ficar mais um pouquinho.
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Uma delas viu o DVD do Mel Gibson.
-A gente pode ver esse filme?
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Foi quando perdi a paciência e disse que elas teriam que ir embora.
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*Terezinha de Jesus
De uma queda foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos três chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele que Tereza deu a mão
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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