NATASHA CHEGOU (1)
continuação do Conto 87
A PROVÁVEL ESPIÃ RUSSA
Disse que se chamava Natasha, nascera na Hungria e fora educada na antiga União Soviética. Aproximadamente menos do que cinquenta anos, morena, olhos claros, porte esbelto, 1m 65, vestindo calças Jeans, blusa e casaco branco, economista em um banco canadense.Integrava o City Tour, levava duas câmeras digitais com teleobjetivas e parecia fissurada em fotografia. Falava espanhol, inglês, mandarim, francês e, naturalmente, russo. Achei estranho que suas máquinas apontassem, além dos pontos turísticos para objetivos estratégicos, instalações militares e navios de guerra.Parece que notou que eu a observava, aproximou-se perguntando em russo qual a minha nacionalidade. Não falo russo, mas entendi o que ela disse, respondi em inglês, ser brasileiro, oficial da Marinha de Guerra.
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Como estávamos sós,(Nicole desistira de ir comigo, alegando ter um Congresso e a viagem coincidir com o Dia das Mães) passamos a conversar amenidades em inglês. Às vezes, me perguntava sobre a Marinha de Guerra Brasileira, quando ficaria pronto o submarino nuclear, se nosso porta-aviões estava operativo, comentários sobre pontos turísticos e novos questionamentos: Se o Comando Sul dos Estados-Unidos já havia estabelecido sua base militar no Brasil como fizera na região de Valparaiso, com a alegação de ser uma base para treinamento das Forças de Paz das Nações Unidas. Se eu sabia como operavam nossas centrífugas de urânio.
Passei a ser parte de suas fotos, aparentemente era eu o objeto de suas câmeras, o fundo era sempre um complexo militar, uma fragata chilena ou um submarino.
Combinamos que ela me enviaria as fotos por e-mail, as de pontos turísticos recebi, as outras não.
Natasha disse que nas próximas semanas iria à Argentina, ao Peru e Venezuela. Iria visitar sua mãe que estava em Maskvá (Moscou), regressando ao seu emprego no Canadá.
Semana passada, recebi um e-mail dizendo que talvez venha ao Brasil para o carnaval e gostaria que eu fosse seu guia turístico.
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Sua vinda foi anunciada pela
entrega em minha casa de uma caixinha de vidro com água, encimada por um buquê
de pequenas rosas vermelhas e um cartão, em um envelope lacrado, lia-se
Natasha. Um dia depois, duas ligações, uma para o fixo e outra para o celular
diziam que fosse esperá-la no Santos Dumont em um voo vindo de São Paulo.
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Era manhã de domingo, embora
inverno, dia ensolarado. A jovem que desembarcou estava diferente da que eu
havia conhecido na viagem a Santiago. Cabelos longos soltos,camiseta branca em
cima da pele permitindo antever o contorno natural de seus seios, um short
jeans, um palmo acima do joelho com rasgados assimétricos nas pernas, sapatos
bege clássico,salto alto, sola frontal de dois centímetros, praticamente iguais
ao da princesa Kate, óculos de sol Oakley e o único item remanescente do City
Tour do Chile, o casaco branco que ela trazia no braço. Nada de câmeras.
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Foi ao meu encontro.
-Bom dia, Comandante.
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Falando um português brasileiro, sotaque
carioca que me espantou:
-Antecipei a viagem, sou
palestrante da Rio+20.
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Perguntei pelas malas e para onde
iria.
- As malas, minha secretária as
levará para o Copacabana Palace, terei que passar lá primeiro, para assinar o
meu registro e pegar umas coisinhas. Depois vou para sua casa, fica mais perto.
Vou ficar no quarto junto ao terraço.Creio que não vou lhe causar problemas,
sei que sua namorada só virá em agosto para um congresso.
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Nem me preocupei em perguntar
como ela conhecia a minha casa, como tinha aprendido português e os detalhes de
meu namoro com Nicole.
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Natasha até parecia que já tinha
estado no meu apartamento, ao entrar no elevador apertou o botão do quinto
andar e fez um comentário:
-Pensei que o botão indicasse
cobertura.
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Subiu a escada em caracol com
desenvoltura, levando uma valise L.V. e abriu o blindex percorrendo o terraço.
-É bonito, mas você deveria ter
mais fruteiras, um pé de limão e um de laranja lima.
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-Diga ao J. seu jardineiro.
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-Vou descansar um pouco, foi uma
viagem cansativa.
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Desci e fui assistir televisão,
anoiteceu.
Eram quase oito horas da noite
quando ouvi o apelo.
-Comandante, suba por favor.
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A porta da suíte estava fechada, bati.
Natasha abriu a porta. Estava
vestida com uma roupa de marinheira, um saiote azul-marinho curtinho, a blusa
branca amarrada acima da cintura, à mostra o umbigo bem torneado, um gorro
branquíssimo que lhe assentava bem nos cabelos presos.
Disse:
-Comandante, tire logo esse meu
uniforme antes que me prenda por falsidade ideológica!
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Iniciei tirando o gorro.
Ela reclamou:
.
-O gorro não precisa!
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Encostou-me na parede e começou a
desabotoar minha camisa.
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Untou nossos corpos nus com óleo
de uma garrafinha, o rótulo escrito em alfabeto cirílico, vermelho vivo, cheiro
e sabor de morango.
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Em seus suspiros de êxtase, às
vezes me chamava de Olaf.
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Duas horas mais tarde saímos para
jantar, ao voltar disse-me que teria que acordar muito cedo, o motorista viria
buscá-la às seis e trinta para levá-la ao Rio Centro.
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Voltou por volta das vinte horas,
perguntando se eu não teria um queijo gruyere, brie ou grana padano e um vinho
tinto pinot noir.
.
Nessa noite não me chamou.
Continua...
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
E-Mail:alzumunir@gmail.com
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