terça-feira, 26 de junho de 2012

CONTOS DO MUNIR 90

NATASHA CHEGOU   PARTE 2

Na quarta-feira, Natasha acordou muito cedo e bateu à porta do meu quarto. Pensei que fosse me chamar para subir. Estava arrumada.

-Hoje vamos passear de helicóptero. Leve um casaco, vamos almoçar a bordo e voltar ao escurecer.

Fomos até a cozinha para comer alguma coisa, ao abrir a porta da geladeira, que tem estampada em toda sua extensão um gigantesco pingüim (Nicole havia adorado, Natasha nem notou, com certeza as geladeiras na Rússia são assim) a Lu minha secretária acordou e prestimosa:
- Já vou colocar a mesa!

Natasha simpatizou com a Lu e vice-versa. É impossível alguém não gostar das duas. A Lu é muito sentimental e chorou certa vez quando chamei sua atenção.

Nosso café foi interrompido pelo interfone, era Pedro, o zelador, avisando que o carro estava nos esperando.
Natasha perguntou se eu tinha alguma escova de dente para visitas, tinha uma nova embalada, no lavabo. Ela usou.

Descemos, um Acera preto, blindado com vidros fumê estava parado na porta da garagem. Ao nos ver, o motorista, um cara de terno escuro, branco, muito branco que se tomasse sol teria que dormir pendurado em um cabide, saltou do veículo para abrir a porta traseira, sem tocá-la ela abriu, pensei que alguém estivesse já no carro, era tecnologia.

Sentamos, um painel retrátil opaco nos isolou do chofer.

Natasha me deu um longo beijo, dizendo num sussurro que à noite, eu teria uma surpresa.

O Heliporto da Lagoa estava deserto, a exceção do helicóptero Pégasus 7101 da Marinha, pousado, já pronto para decolar.

Subimos a bordo, Natasha cumprimentou os dois tripulantes, um Capitão de Corveta e um Tenente:

-dobryĭ denʹ добрый день (bom dia)

-Khoroshiĭ komandir Utro (bom dia comandante) responderam os dois voltando-se para ela.

Depois em português para mim:

-Bom dia comandante, bem-vindo a bordo.
A aeronave levantou voo, seguimos na direção de Itaguaí onde estão sendo construídas a futura Base Naval de Submarinos e as instalações do projeto do submarino nuclear brasileiro.

Natasha acompanhava ao vivo e em seu micro, na tela as imagens de satélite, do monitor do radar AN/APS-143(V), que equipa o Pégasus EC 725 e.
Comparava-as com as do vídeo produzido pela Marinha e pela construtora Odebrecht, onde o Coordenador do Programa ProSub (um almirante, eu o conheço, caminha aos domingos no Leblon,) explanava o que estava sendo feito. Natasha havia editado um novo, nele baseado. Dava ordens em russo aos pilotos para correção de rota.
- Po pravomu bortu  
Visitei alguns meses atrás o projeto e pude concluir que a mega construção do estaleiro e base estava sendo tocada em ritmo acelerado. Os informes de que a Marinha Russa cederia breve ao Brasil, à semelhança do que fez com a Índia, na base de leasing, um submarino nuclear parecia transformar-se em realidade.

Natasha estava deslumbrada com a beleza da cidade do Rio de janeiro, mostrava seu lado feminino abandonando sua postura formal e declamava sua admiração pela vista que desfrutava.
De Itaguaí, depois de observar a Nuclep, rumamos para Mocanguê sede da Esquadra Brasileira.  Natasha não demonstrou muita atenção, já era coisa conhecida. Sobrevoamos o Nae São Paulo, as fragatas, os submarinos, plataformas da Petrobras, o Arsenal da Marinha, as instalações do Corpo de Fuzileiros Navais seus Batalhões, o Centro de Armamento e a Fábrica de Torpedos. Voando sobre o mar, vimos os navios de guerra e as lanchas da Polícia Marítima que patrulhavam o litoral nas proximidades do Rio Centro onde ocorria a Rio+20.
Observamos com binóculos os deslocamentos dos Chefes de Estado, ocasião em que Natasha fez um comentário que me deixou grilado.

- Ainda bem que nem  Mr.Obama, nem o Presidente Putin vieram!
-O Rio poderia se transformar em uma nova Sarajevo.

Depois, como tivesse se arrependido, acrescentou:

-Você sabia que o Vladimir Vladimirovitch Putin é um católico ortodoxo igual a seu pai? Ele é fervoroso, está ajudando a Síria contra a Irmandade Muçulmana por razões religiosas.
Regressando, pousamos no campo de atletismo da Escola Naval, um sorridente oficial de serviço nos aguardava, cumprimentou Natasha como uma antiga amiga. Estranhei, mais tarde ela me explicaria que o havia conhecido na véspera no Rio Centro e o avisara do pouso.

O Azera com o branquela na direção já nos aguardava. Juntou os pendrives das gravações de bordo aos de música no carro. Neles estava escrito “música no mar”. O Pégasus decolou de imediato, sua autonomia estava se esgotando e eles teriam que voltar a São Pedro da Aldeia.
Natasha havia se trocado no helicóptero, usava agora um terninho preto que me fez lembrar Nicole.
O automóvel seguiu direto para a Zona Sul, no trajeto disse que iria para o evento e me deixaria na esquina da minha rua, o painel retrátil ficou aberto.
À noite, passando de oito horas, ligou dizendo que passaria rapidamente pelo apartamento, que eu estivesse pronto, iríamos jantar no Copacabana Palace, pediu que eu usasse o blazer azul-marinho, comprado com ela na loja Armani.
Chegando a minha casa, pegou sua valise L.V e descemos juntos. Uma Cherokee preta nos aguardava, na direção, o comandante do helicóptero.
Natasha e eu descemos no Hotel. Despediu-se do oficial.
-Blagodarya Olafa
Já havia reservada a mesa para nós, pediu que a aguardasse, enquanto se trocaria. Vinte e cinco minutos depois,ela voltava. Estava deslumbrante em um vestido Dior, longo, azul, de seda, de um ombro só. Atrás o decote  descia à altura da cintura deixando suas costas totalmente nuas. Usava um colar fascinante de perolas negras. Parecia mais alta. A roupa colada ao corpo mostrava a ausência de lingerie.
Sentou-se à minha frente, pediu-me que escolhesse o vinho, optei por um Brunello; Disse-lhe que solicitasse o prato, Natasha dirigiu-se ao maitre, parecia que o conhecia há tempo, e decidiu-se por Canard a L’Orange.
A toalha da mesa cobria nossas pernas, Natasha descalçou um dos sapatos e seu pé roçava em minha perna por baixo da calça, em um carinho de pura sensualidade. Ficou impossível não me deixar envolver, tão forte a sensação transmitida.
Um piano se fazia ouvir, um cantor com a voz extremamente parecida com a de Nat King Cole cantava “Love is a Many Splendored Thing”.O tempo parecia parado em um agora de felicidade, dançamos de rostos colados como adolescentes do século passado.
Natasha deu um ligeiro bocejo e pensei desanimado que era sinal de despedida . Pegou minha mão.
-Vamos para o meu quarto!
Subimos, trancou a porta, dizendo que naquela noite ela seria a Comandante, enquanto me beijava, seu hálito de vinho me embriagava e ela tirava meu blazer, minha camisa até me despir por completo. Ameacei tirar seu vestido, ela não deixou e pediu para que eu o rasgasse, nunca mais o usaria. Ainda hesitante, até que ela própria passou a guiar minhas mãos e puxou com força a abertura no ombro coberto, revelando seus seios morenos, em contraste com as pérolas negras.
A garrafinha, ainda com rótulo em cirílico, agora era de um óleo verde azulado, um cheiro e sabor de hortelã adocicado, porém com os mesmos efeitos estimulantes. Perdi a noção do tempo, sei que, nessa noite, seus suspiros foram com meu nome.
Pela manhã, o Azera me levou para casa e Natasha seguiu com seu terninho de executiva para a Conferência.
Quando saí do carro, falou que logo eu teria notícias dela.
Em casa, exausto como se tivesse corrido a maratona, ainda tive forças para subir até a suíte do terraço. Nenhum vestígio da presença de Natasha, a não ser o vidrinho vazio de letras russas.
Desci; no lavabo, a escova de dente usada uma única vez, era a lembrança.
Mais tarde, copiei o que estava escrito na garrafinha.
Tradução: Afrodisíaco de ação penetrante, contém ginseng, pó de dente de tigre e de barbatana de tubarão.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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