O PINTOR DE RUA
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Enzo Laporelli pintava telas
a óleo na rua Dias Ferreira em frente ao Hortifruti do Leblon.
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Contava sempre a história
por que nascera na Paraíba.
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Dizia ele, brincando: seu
pai, italiano e feirante, apaixonado foi atrás de uma freguesa paraibana que
havia encontrado no Rio de Janeiro. Desempregada, voltara para Campina Grande,
sua terra natal.
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Enzo fez o caminho de
retorno, casou-se lá e veio para o Rio.
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Sua esposa recebera o
chamado de uma amiga para trabalhar como doméstica em uma casa de família.
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Os quadros de Enzo tinham
cores fortes, gostava de estampar palhaços, sempre com bolas vermelhas no nariz.
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Vendia o que fazia, tinha
especial talento para figuras humanas.
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Os clientes do Hortifruti paravam
para vê-lo trabalhar, sempre compravam uma ou duas pinturas. Eram de preço acessível
e bonitas para ornamentar qualquer parede.
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A vida de Enzo começou a
mudar, quando um renomado pintor, morador do Leblon, cujas obras eram vendidas
por milhares de reais, perguntou quanto custavam seus quadros. Aconselhou que
pedisse o dobro.
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O preço aumentou e a
clientela também.
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Enzo nunca foi incomodado
pelos Guardas Municipais que se limitavam a apreciar sua arte.
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O artista falava italiano,
aprendido com seu pai, acredito que também se entendia em francês, certa vez o
vi conversando com uma senhora nessa língua.
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Já havia comprado, antes
do aumento, duas telas: uma campestre e uma marinha. Encomendara também, um
palhaço, o que ele trouxe era só a cara, e parecido com o da propaganda do MAC’DONALDS.
Não gostei e pedi outro de corpo inteiro.
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Certa manhã, indo ao
mercado de frutas, não o vi mais no local de costume. Pensei que tivesse
perdido o bufão que havia encomendado.
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Os dias passaram, recebi
uma ligação no celular, era a mulher do Enzo, informava que meu pedido estava
pronto e perguntava pelo meu endereço, ela viria entregar. À tarde, ela
apareceu, gostei muito da figura, perguntei pelo Enzo se estava doente, porque
havia sumido. Disse-me que uma senhora, dona de uma galeria na Gávea, comprara
toda a coleção dele, agora não pintava mais na rua.
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Pretendia comprar outras
obras, era um presente que todos apreciavam. O preço ficara inviável.
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Duas semanas depois, uma
nova ligação. Era o Enzo se despedindo, me participando que estava viajando
para Paris. Iria trabalhar lá.Indaguei o que tinha acontecido.
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Um marchand visitara a
galeria, gostara de seu estilo e o contratara com exclusividade a um preço que
ele jamais sonhara.
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Sinto até hoje a falta
daquele pintor que alegrava a calçada em frente ao Hortifruti e me arrependo de
não ter adquirido outras telas dele.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
E-Mail:alzumunir@gmail.com
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