CARIDADE e DESMAIOS
A mensagem dizia:- Estamos no Fronteira comemorando
o aniversário da Cellya, aguardamos você.
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Tinha acabado a sessão de cinema, um filme longo,
quase três horas, o celular desligado.
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Olhei a hora do SMS, uma hora atrás. Liguei,
estavam já na sobremesa. Eu no Shopping Leblon, eram já nove horas da noite,
pensei que daria tempo, se me apressasse, de chegar e encontrar a turma toda
reunida. O Fronteira fica a poucas quadras. Caminhei rápido até lá. Queria dar
um abraço na Cellya.
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Estavam todos em uma grande mesa nos fundos do
salão. Notei a movimentação diferente, o marido de Cellya correndo para a rua,
a mãe dela, muito pálida, quase deitada em um sofá.
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Tinham já ligado para a ambulância, que não
chegava, e alguém saíra para pegar um taxi. A senhora foi carregada e levada ao
hospital.
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Cellya e o marido a acompanharam.
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Não tive oportunidade de cumprimentar a
aniversariante. Pensei em comer alguma coisa, como era tarde, não queria
jantar. O Alemão é um restaurante vizinho ao Fronteira, lá tem um Mil Folhas,
um folheado delicioso, com muito açúcar e que equivale a uma refeição.
Melhor dizer, tinha, quando cheguei havia acabado, o que mais aumentou a minha
vontade de comê-lo. Bem perto, uma confeitaria, a Pavelka, faz na hora. Pedi
que embalassem, iria comer em casa.
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Ansioso já sentindo o prazer de degustá-lo,
apressei o passo. Ao passar em frente a uma loja de roupas, um mendigo de
avançada idade, ao me ver com a embalagem, pensando que fosse uma quentinha
exclamou:
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-Senhor! Dá essa comida para mim! Estou com muita
fome!
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Segui o meu caminho dizendo:- Não é quentinha, é
doce! O pobre insistiu:- Moço me dá, estou sem comer desde ontem!
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A dúvida me assaltou, uma culpa, não sei de quê, me
fez voltar e dar para ele o mil folhas. Ele agarrou o doce com sofreguidão e
praticamente o deglutiu na mesma hora. Sua cabeça pendeu para um lado, seu
corpo desabou na cadeira, onde estava sentado, pensei que era um AVC.
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Como já tivera anteriormente uma experiência com a
doméstica da minha casa, disquei 192, o telefone da SAMU. Em menos de cinco
minutos a ambulância chegou e, ao homem de branco eu disse o que tinha
acontecido.
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Sem demora, ele aplicou uma injeção no idoso, que
quase imediatamente voltou ao normal. Ai foi a minha vez de saber o que havia
se passado. O paramédico explicou:- Ele é diabético e teve uma crise de
hipoglicemia, o que fiz foi injetar insulina, e a dosagem de açúcar se
normalizou.
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No dia seguinte, fui ao médico pedir um exame de
sangue. Prometi nunca mais dar doce ou qualquer espécie de alimento para
mendigos. Fiquei imaginando se desse um salgado para um de pressão alta
e, o cara enfartasse?
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A mãe da Cellya se recuperou e passa bem, foi só um
problema de pressão baixa.
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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