A vizinha
da cobertura
Na
cobertura tem piscina, lá só vi o pessoal do apartamento uma vez, quando nova,
depois, só os filhos da empregada.
A vizinha,
loura, ainda mais ou menos jovem, tem um cachorro da raça Chow Chow, parece um
leão em miniatura e tem a língua azulada, dizem que era o cão favorito dos
imperadores chineses, chama-se Hope. O nome foi dado porque seu marido gostava
de cães, ela não; andavam meio brigados, e o cãozinho foi presente dela, vinha
com a esperança de paz, é manso, não incomoda ninguém.
Há muito
tempo não a vejo acompanhada, a não ser pelo cão que a segue por toda a parte.
À
tardinha, estava o nosso grupinho no Armazém do Café, e passam ela, o cão e uma
empregada que usa um uniforme azul, mais escuro ainda, tem uma cicatriz branca
atemorizante no lábio inferior, provavelmente de queimadura.
A loura ao
voltar sem a doméstica, nos diz que está com medo, Está sozinha, acredita que
aquela moça que trabalha em sua casa tenha furtado três mil reais, não tem
certeza, mas ao meio-dia quando regressou inesperadamente ao apartamento, ficou
espantada com a reação da serviçal, tremendo ao vê-la.
Pediu que
ela descesse, e a esperasse no portão do edifício. Foi olhar no quarto dela,
encontrou a porta trancada.
Perguntava
para nós se deveria mandar abrir ou não. O chaveiro cobrava duzentos reais para
isso. Nós dissemos que sim, parece que ela não aceitou. Disse que iria despedir
a empregada.
Na outra
tarde, passaram novamente por nós, a loura, a moça de azul e também o cão. Fez
um sinal discreto, como se pedisse sigilo.
Duas horas
mais tarde, volta só a escura da cicatriz branca, o rosto sério, traz o Hope.
Olho do
meu terraço, a piscina está vazia.
Desde
aquele dia, não vi mais ninguém da cobertura do lado.
Curioso,
pergunto ao porteiro. Ele me diz que a dona viajou e a empregada levou o Chow
Chow para a casa dela ????
A
atendente do Armazém, que sabe tudo da Rua Rita Ludolf, diz que o marido da
minha vizinha sumiu.
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Dois meses
se passam.
No
Origami, restaurante japonês ao lado do Café, a mesa festiva de jantar, a minha
vizinha, o marido e filhos que eu já não via há tempos, comemoram alegres. O
Hope, ao lado parece sorrir mostrando sua língua azul.
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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