terça-feira, 16 de dezembro de 2014

CONTOS DO MUNIR 023/2014



DIFERENÇAS DE 
PASSAGENS *
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Seu apelido desde o tempo da Escola Naval era “Galego”, não porque fosse filho de português, e mais devido a sua compleição física e seu modo brusco de responder aos colegas. Isso não diminuía em nada a afeição que tinha com eles.
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Sua especialidade eram os helicópteros. Em um exercício de rotina com navios, a aeronave que pilotava sofreu uma pane e caiu ao mar, afundando quase que imediatamente.  Seu copiloto, embora estivessem ambos com coletes salva-vidas, desesperou-se, entrou em pânico gritando:
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-Nós vamos morrer, vamos morrer!
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Galego não hesitou. Deu-lhe um tabefe.
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-Para com isso cara! Ainda não chegou a hora da nossa passagem. O pessoal da Corveta sabe onde estamos e virá nos salvar, só que vão levar um tempo para chegar.
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Realmente, ficaram algumas poucas horas boiando até que fossem resgatados.
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Nosso herói quando tenente foi mandado servir em uma base longe do Rio. Muito simpático e envolvente namorou a moça mais bonitinha da área, era a filha do Comandante, com ela casou-se.
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Vieram morar no Leblon onde haviam comprado um apartamento, tiveram filhos, todos eles meninos.
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Era um ginasta nato, ficava horas no mar, bom em todos os esportes. Mais de uma vez o vi salvando banhistas em apuros. Odiava vestir ternos, me pediu um emprestado para trabalhar. Devolveu dois dias depois, deixara o emprego.
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Resolveu ganhar dinheiro por sua conta e risco. Vendeu o apartamento do Leblon e adquiriu uma academia de ginástica no Paraná. Visionário estava à frente do seu tempo. .
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Não teve sucesso. Se fosse três ou quatro anos mais tarde teria enriquecido.
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Voltando para o Rio arrendou uma fazenda, comprou vacas leiteiras. Um ano mais tarde desistiu.
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Retornou ao Leblon pagando aluguel.
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Zangava muito com o filho mais velho, o único que lhe dava trabalho, era um fumante viciado, embora de boa índole. Certa vez chegaram a trocar sopapos.
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O rapaz se afastou e foi morar com um amigo de seu pai do tempo da escola, o “Camundongo salta pocinha da Lapa,” que tinha sete filhos.
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Depois o moço foi para a Barra da Tijuca. A tia deu graças a Deus. Mandou limpar as paredes do quarto onde ele dormia, enegrecidas pela fumaça.
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Gostava de montar, comprou um cavalo de salto. Em uma corrida, o potro refugou e caíram, montaria e cavaleiro. Uma das patas atingiu violentamente seu estomago, como era muito forte não deu muita importância à dor. Foi parar no hospital onde foi operado em emergência.
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Nesse ínterim o sogro do Galego, já almirante, ficara viúvo e tornara a casar-se.
O Galego e a mulher eram Kardecistas.
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Continua- PRIMEIRA PASSAGEM TRAUMÁTICA
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail: alzumunir@gmail.com

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