segunda-feira, 28 de março de 2011

ARTIGO DE MARIA LUCIA V. BARBOSA

SERÁ QUE NOSSA POLÍTICA EXTERNA MUDOU?

Maria Lucia Victor Barbosa

27/03/2011
. Em 24 de março, a representação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor da proposta dos Estados Unidos e Europa que determina o envio de um relator independente, ao Irã, para investigar a situação dos direitos humanos naquele país, coisa que Ahmadinejad já avisou que não aceita. .
Surpreendida, a diplomacia iraniana sentiu-se traída e afirmou que o Brasil voltava a se comportar como “país pequeno”, “curvando-se aos Estados Unidos”. Outros países islâmicos também atacaram a posição brasileira.
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Na verdade, o Irã esperava a continuidade da politica do governo anterior que poupou o regime iraniano de censura em fóruns internacionais, além de apoiar direta ou indiretamente através de abstenções, os piores ditadores mundiais que jamais souberam o significado de direitos humanos. Foram oito anos de uma política externa vergonhosa e repugnante, na qual não faltaram erros crassos e patacoadas como no caso de Honduras cujo governo o Brasil não reconhece até hoje.
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Em 2008 começaram a se estreitar ainda mais os laços do Brasil com o Irã e o então chanceler Celso Amorim foi à Teerã acompanhado de 30 empresários. “Negócios são negócios” disse o pragmático Amorim e desrespeito total aos direitos humanos existe em toda parte, como afirmou o chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia, quando acompanhou o ex-presidente Lula à Cuba. Na ocasião, Lula comparou os dissidentes cubanos que faziam greve de fome a criminosos comuns enquanto o corpo martirizado de um deles, Orlando Zapata Tamayo, esfriava no caixão.
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Em 2009 Mahmoud Ahmadinejad foi convidado a vir ao Brasil. Não veio e houve forte oposição a sua vinda por grupos por ele discriminados como judeus, perseguidos como mulheres e homossexuais. As esquerdas não se manifestaram em que pese terem ressuscitado o ultrapassado “fora ianque” na forma de “fora Obama”, quando da recente visita do presidente norte-americano ao Brasil. Naquele mesmo ano Ahmadinejad se elegeu com fortes indícios de fraude. O ex-presidente Lula qualificou os protestos que se seguiram e o massacre feitos por Ahmadinejad aos opositores como “choro de perdedores” e “briga de vascaínos e flamenguistas”. Mais um vexame internacional.
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2010. Além da missão econômica que em abril partiu rumo ao Irã, em maio Lula seguiu para lá como o primeiro presidente a visitar aquelas terras. Ele fez mais: uniu-se à Turquia para mediar um acordo internacional para que Teerã aceitasse discutir seu programa nuclear, coisa que já tinha sido tentada em vão pelos Estados Unidos. A proposta, como era de se esperar, foi rejeitada pela ONU, o que deixou o Brasil e a Turquia falando sozinhos. No caso da iraniana Sakineh, condenada à morte por apedrejamento, primeiro Lula disse que não se intrometia nas leis de outros países. Depois mudou de ideia e resolveu colaborar com o companheiro Ahmadinejad: “se a mulher está incomodando, mande-a para cá”. Entretanto, na ONU o Brasil se recusou a apoiar a resolução que condenava o apedrejamento, alegando que se trata de “questão cultural”.
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Desse modo, é compreensível a fúria do governo iraniano diante do voto brasileiro a favor da ida do relator. Por outro lado, bastou tal voto para que grandes saudações, vivas e cumprimentos nacionais e internacionais fossem dados, euforicamente, à presidente ou presidenta, governante ou governanta, Dilma Rousseff. Está sendo dito que ela mudou o rumo da política externa brasileira, que se distanciou do seu padrinho político, que o Brasil agora tem princípios. Mas será que mudou mesmo alguma coisa ou apenas mudou a estratégia para obter o obsessivamente desejado Assento no Conselho de Segurança da ONU?
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Note-se que o Brasil, que votou a favor da fiscalização no Irã, absteve-se de votar quando a Rússia, apoiada pela China e países árabes, propôs subordinar a questão dos direitos humanos aos “valores e tradições locais”.
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Observe-se também que, no caso do Irã, o Itamaraty demonstra que continuará a apoiar seu programa nuclear que, certamente, ao culminar na bomba, tratará de exterminar pacificamente Israel em primeiro lugar. . Também Cuba poderá contar com o tradicional apoio brasileiro, enquanto dissidentes “criminosos" morrem em greve de fome em nome da liberdade.
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Nossa diplomacia convive tão bem com o terrorismo que não esboçou nenhuma reação quando cinco pessoas da família Fogel, o pai, a mãe, o bebê de três meses e mais dois meninos foram brutalmente assassinados a facadas enquanto dormiam no assentamento de Itamar, na Samaria. Talvez, isso faça parte dos “valores e tradições” do terrorismo e devem ser respeitados. . Nessa toada, se algum país resolvesse institucionalizar o canibalismo o Brasil apoiaria, pois é questão cultural.
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Vamos ver se dessa vez o Brasil conquista seu grandioso sonho: o Assento no Conselho de Segurança da ONU; mas, que falta muito para nossa politica externa mudar, isso lá falta.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga. mlucia@sercomtel.com.br http://www.maluvibar.blogspot.com/

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