sábado, 4 de junho de 2011

CONTOS DO MUNIR 66

VISITA (Parte1)
A nave pousou verticalmente na Praça Antero de Quental. Diferente dos Harriers, aviões ingleses da guerra das Malvinas, o fez silenciosamente. Eram duas horas da manhã de uma quinta feira de maio. A lua em quarto minguante, quase lua-nova.
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Emergiu dela o único ocupante: passageiro, piloto e navegador. Usava camisa branca desabotoada, solta, fora das calças boca de sino, da marca Lewis, mangas compridas dobradas até os bíceps. Sua estatura, um metro e setenta e cinco centímetros; peso, cerca de setenta quilos e idade aproximadamente com uns quarenta e cinco anos. Assustou-se, a se ver cercado por estranhas máquinas verdes de suportes azuis, com manivelas e pedais, não motorizadas, estáticas como esperando um comando. Leu um cartaz que dizia: Academia da Terceira Idade Inaugurada em Janeiro de 2011 por Cristiane Brasil. Não atinou com o significado.
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Estranhou o panorama: em vez do parque de diversões da Rua General Urquiza, um prédio de oito andares. As árvores de grandes copas. Procurou em uma das casas da Rua Bartolomeu Mitre em frente à praça o restaurante japonês que lhe haviam indicado, não o encontrou. Só existiam prédios de luxo.
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Meio confuso, ele pensou que talvez tivesse errado em sua navegação. Ao ver o posto de gasolina na Avenida San Martin e o prédio antigo da esquina da Ataulfo de Paiva, viu que o lugar era exatamente aquele. Sorriu um sorriso convencido, afinal tinha sido escolhido por uma das suas muitas qualidades, e uma delas era de bom navegador.
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Vasculhou os bolsos de suas calças, uma carteira com sua identidade como Fred Albuquerque, recheada de notas de cem dólares e outras que lhe pareceram ser da moeda local, um cartão de crédito e poupança, de um banco chamado BANERJ, com uma quantia de milhões.
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Resolveu tirar um cochilo em um dos bancos vazios, os outros estavam ocupados por meninos de rua e pedintes que perderam a Kombi que os levaria de volta para casa.
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Acordou com o raiar do sol, domésticas, empregados de supermercados saltavam das conduções e se dirigiam aos locais de trabalho, as Vans escolares já começavam a circular, estudantes das Escolas Públicas passavam com seus uniformes. Alguns analistas de terno, e rapazes de calças jeans, mangas da camisa dobradas até os cotovelos, tomavam o ônibus do Metro.
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Notou que as roupas que ele usava destoavam do contexto, sua camisa era apertada, o colarinho demasiadamente pontudo. Sua calça jeans tornou-se ridícula. Só seus sapatos ainda conservavam algum estilo.
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Caminhou a procura de uma loja de roupas masculinas, achou a Pullman na Ataulfo de Paiva, viu na vitrine uns manequins vestidos como os rapazes que iriam pegar o Metro.
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Experimentou duas calças e duas camisas que vestiram bem. Perguntou se aceitavam cartão de crédito, diante da resposta positiva, apresentou o cartão do BANERJ. O moço da loja olhando-o espantado, disse que aquele banco já fechara há algum tempo. Fred, sem perder a calma, falou que chegara recentemente da Noruega, onde passara os últimos dez anos. Tinha dólares. O rapaz se propôs a trocá-los em reais.
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Saiu já com a roupa nova, as mangas da camisa do jeito que vira.
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As instruções que Fred recebera para a viagem não eram explícitas. Teria que reportar como era a vida no Leblon, verificar porque o ISH (índice de satisfação humana) ali era tão elevado.
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Incluía a experiência de comunicações em super longas distâncias através da tecnologia das nano-ondas cerebrais, vulgarmente chamada de telepatia.
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Hospedou-se no Ritz no final da Ataulfo de Paiva, quase em frente à Rua Rita Ludolf, a segunda mais cobiçada, perdendo somente para a da praia, a Avenida Delfim Moreira.
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Descobriu o Hortifruti, como era vegetariano, sentiu, ao ver a diversidade e beleza das frutas tropicais, suas endorfinas ativadas e desapareceram suas preocupações. Pontuou como influência no ISH.
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A experiência das nano-ondas se iniciou. Recebeu mensagens claras que deveria ter uma companhia feminina em sua busca, mulheres eram mais críticas e perspicazes.
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Foi almoçar em um restaurante chamado Celeiro, gostou da comida, mas teve que se servir primeiro dos pratos quentes. Quando ele chegou às saladas, já estavam frios, a fila de acesso deveria ser invertida. Apesar disso, ainda marcou positivamente.
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Continuou a caminhar pelas proximidades, impressionou-se com o número de farmácias, todas sempre com alguém comprando algo e sem receita médica.
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Cerca das 18:00 horas dirigiu-se à livraria Saraiva, no outro lado da rua do hotel Ritz, nos fundos, um local agradável, o Café Barone. A garçonete lhe ofereceu um café especial chamado Pacu Bird (o pássaro Pacu come os grãos de café e depois os elimina aos pés das arvores)... Pediu um machiato. Enquanto esperava iniciou a leitura de um livro sobre educação no Brasil.
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Sentiu certo distúrbio em sua comunicação de nano-ondas. Caminhando em direção à mesa próxima à sua, uma bela jovem de longos cabelos dourados, acompanhada de um rapaz mais moço ainda. Era ela a fonte da perturbação. Tentou desviar sem sucesso, seu olhar de seus lindos olhos azuis.
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Ela optou pelo último lançamento de Martha Medeiros. Fred não acreditou quando ela se dirigiu ao rapaz pedindo-lhe carinhosamente que escolhesse algo para a mamãe. Sem querer e querendo, seus olhos sempre se encontravam a sorrir como antigos conhecidos. Acostumado a cálculos, estimou a massa corporal da jovem, 22,0. Idade, menos 10 a 12 anos da sua.
(continua...)
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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