sexta-feira, 24 de junho de 2011

CONTOS DO MUNIR - 68

VISITA
Parte 3
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Fred, sentiu, novamente, aquela estranha mudança em suas ondas cerebrais.
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Os olhos azuis alegres, o belo rosto emoldurado pelos cabelos dourados, a sorrir, transmitindo o contentamento em vê-lo, fez Fred lembrar-se do belo nascer do sol no Arpoador, que ele vira ao chegar.
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-“Meu filho pediu que você o desculpasse, está em casa formulando novos algoritmos para o softer.”
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Pediu um café descafeinado.
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Sentou-se junto a Fred, que estava lendo “Alice no Pais das Maravilhas” de Lewis Carroll, pseudônimo do Reverendo Charles Dogson, Matemático e Lógico, formado em Oxford. Fred percebeu no livro os fundamentos da Teoria da Relatividade, estabelecida muitos anos depois por Einstein.
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A moça retirou da prateleira o livro da gaúcha Martha Medeiros “Fora de mim” e disse a Fred que ele continuasse sua leitura.
Fred fechou o livro, pediu cappuccino. Gostou e adicionou ao ISH.
Ela perguntou se ele conhecia o Garcia & Rodrigues, Fred achou que eram pessoas: “Quem são eles?
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Sorriu, divertida, e retrucou: “Vamos até lá! Você vai conhecer!
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Foram caminhando, atravessaram a Rua Rita Ludolf, viram o Cafeína, suas mesas na rua.
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O G&R, lanchonete, padaria e restaurante classe A, fica bem em frente ao Hotel Ritz onde Fred está hospedado. Deixaram para lanchar lá, outro dia. Passaram por uma loja de roupas, a Toulon, Fred notou que os manequins eram todos negros, uma jogada de marketing em antecipação à futura ascendente clientela brasileira.
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Os jornais tinham anunciado: O Brasil tinha agora a população branca em menor porcentagem.
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Estavam em frente ao B.B Lanches.
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Na esquina oposta, do outro lado da Ataulfo de Paiva, a Pizzaria Diagonal e a Guanabara, talvez o único local em que se possa comer uma pizza às cinco horas da manhã, depois de assistir, na terça-feira de carnaval, ao último desfile das Escolas de Samba.
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Fred estava maravilhado com tantos detalhes, pensando que aquela companhia feminina era realmente a ideal, mas sequer sabia o nome da sua companheira, também não perguntaria. Alguém lhe havia dito que mulheres não gostavam de perguntas.
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A loura, como a adivinhar seu pensamento: “Meu nome é Nicole.” Ela na verdade lembrava a artista Nicole Kindman.
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Fred notou que eles já haviam passados por cinco farmácias, Nicole continuou: “Se você quiser comprar alguma coisa em qualquer farmácia, pesquise primeiro e pergunte também se não tem convênios, o preço, às vezes, cai a mais de trinta por cento”. Fred espantou-se com o sincronismo.
Nicole apontou para o outro lado da rua: “Ali está o Jobi, um bar que tem o melhor caldinho de feijão do Leblon. Não gosto de passar por ali, a calçada fica ocupada, rapazes e moças fumando e bebendo chope”.
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Pararam em frente à Kopenhagen, loja de chocolate, esquina da Rua General Artigas. Cruzaram a Avenida Ataulfo de Paiva, Nicole apoiando-se no braço de Fred, ambos sentindo a forte química de feromônios.
Na porta da Padaria Rio Lisboa, mesas dispostas na calçada estavam ocupadas por senhoras e senhores idosos, alguns em pé, outros sentados nas cadeiras da rua.
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Nicole disse que os homens eram do “Baixo Vovô”, aposentados do Posto 12 do Leblon.
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Os gêmeos sessentões univitelinos, João e José tal e qual, faziam parte desse grupo. Era impossível diferenciá-los, por isso um tinha barba e o outro não, para não haver dúvidas dos amigos ou namoradas, ou mesmo evitar que eles próprios se confundissem quando estivessem frente a frente e não se julgassem em um espelho. De vez em quando, de molecagem trocavam.
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As mulheres, a maioria, viúvas de oficiais da Marinha. Ao lado, o Talho Capixaba, um antigo açougue, que o dono resolveu inovar e deu certo. Continuou a vender carnes enquanto ia transformando sua casa em uma fina lanchonete, padaria e restaurante, também com mesas na calçada, mas com público diferenciado.
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Na parte da manhã, o povo era outro, viúvos, solteiros e casais com filhos pequenos iam tomar café ali. Eram brindados por um violão afinado, variando de músicas antigas a novíssimas.
(“Baixo Vovô” assim chamado por causa do “Baixo Bebê” um quiosque do Posto 12 cuja proprietária, Dona Marly, resolveu cercar a areia em frente, e lá colocar brinquedos de plásticos, carrinhos e outras diversões para criancinhas. A Prefeitura quis retirar, mas a grita das mamães foi grande e tiveram que ceder. Por sua vez, o nome “Baixo Bebê” se referia ao “Baixo Leblon”, onde estavam circulando Fred e Nicole).
O Dr. Mario pertence ao grupo de terceira idade, a turma do “Kodak Collor 35 mm” filme usado nas antigas máquinas fotográficas, não digitais, extinto em 2010. O Dr. tem 98 anos, vai duas vezes à Padaria, toma um cafezinho e depois segue com sua bengala para o Botequim Azeitona, bebericar sua dose de scotch.
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Nicole conhece o Dr. Mario, afastou-se um pouco de Fred e foi cumprimentá-lo.
Fred resolveu ouvir o que a turma do Baixo Vovô falava, eram comentários sobre o bumbum de Nicole, logo substituídos quando uma morena passou. Ele imaginou que essa era a diversão do grupo.
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O maitre, no salão do Talho Capixaba, convidou-os a entrar. “Obrigado Walter” disse Nicole. Ela parecia conhecer todos os garçons que vinham prestimosos atendê-los.
Ficaram ali conversando por quase duas horas. Fred ainda sofrendo os efeitos da letargia da viagem, quase nove meses, manifestava sinais de cansaço. Nicole o acompanhou até a portaria do Hotel. Fred jogou-se na cama e embarcou em um sono cataléptico. Nesse estado, recebia e transmitia mensagens em nano-ondas.
(Continua Parte 4)
Autor: Munir Alzuguir




E-Mail:alzumunir@gmail.com

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