MALANDRAGENS
CARIOCAS Parte 2
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Cena 3 Variante
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O fusca parou rente ao meio-fio no sinal da Avenida General
San Martin. A mulher ao volante saltou e pegou a criança no banco traseiro .
Acenou para o carro que vinha logo depois pedindo que parasse. Iniciou o
diálogo:
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Moço
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-Estou vindo de Rio das Pedras e vim trazer meu filho, que
estava com febre altíssima, ao médico, saí às pressas de casa, esqueci de pegar
minha bolsa. Por sorte os documentos estavam no carro. Já estava voltando para
pegar o Rebouças , quando a gasolina acabou. O senhor não poderia emprestar dez
reais para eu ir até ao posto.
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-Obrigado, vou rezar pelo senhor e sua família.
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Creio que a moça faturou tanto, que no outro ano o carro já
era um Eco - Sport. Também havia mudado a criança.
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Cena 4
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Sandoval tinha um pedaço de terra no caminho para Campo
Grande no Rio de Janeiro. Só lhe dava trabalho, era terra nua, desocupados
entravam para fumar maconha, longe dos olhos da polícia. Já havia tentado
vender há mais de dez anos. Apareceu um programa de governo: “Plante que o João
Garante”.
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Nas proximidades, alguém plantava bananeiras, aparentemente
se davam bem na região.
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Sandoval contratou um engenheiro agrônomo que elaborou o
projeto. Aprovado, Sandoval recebeu a grana, mas teve uma idéia, pensando nos
maconheiros:-
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-Por que não aproveitar aquela mão de obra que estava à sua
disposição e pagar a eles com o que mais queriam?
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E assim, junto com as
bananeiras, começaram a crescer saudáveis pés de “erva cânabis”.
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O agora agricultor Sandoval não demorou a perceber que a
plantinha lhe garantia lucros bem melhores que as bananas. Sincronizou a colheita da fruta com o corte
da erva. As bananeiras davam cobertura à plantação. Caminhões lotados de cachos
verdes, forrados com outros verdes passavam tranquilos pelas barreiras
policiais e abasteciam o mercado atacadista da droga e das bananas. Os antigos
desocupados eram agora trabalhadores rurais de carteira assinada e,
paradoxalmente, excelentes funcionários.
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O ponto fraco no esquema foi um antigo viciado. Arrependido, convencido
pela mãe religiosa que considerava pecado o que ele seu filho fazia, resolveu
denunciar a plantação ilegal.
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Sandoval , hoje, está preso, mas comanda via celular a venda
de bananas e da erva nos antigos pontos, seu comportamento é exemplar e estará
livre o ano que vem.
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Cena 5
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O carro parado no sinal da Rua General Venâncio Flores...
(muitas ruas do Leblon têm nomes de Generais e Almirantes, os
Brigadeiros eram paulistas)
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A senhora,- para ser politicamente correto e não incorrer em
alguma lei proibitiva de discriminação- bastante fora do peso, rosto simpático,
bolsa grande de pano, pede que o motorista abra o vidro.
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Atendida, diz:
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-Vim direto de Parada de Lucas, sou passadeira e minha patroa
ontem estava sem dinheiro e me disse que eu passasse hoje, que ela pagaria a
minha diária, ainda me daria a passagem em dobro. Fui lá, o porteiro contou que
ela viajou. Não sei como voltar, tenho que pegar duas conduções, e são no
mínimo cinco reais.
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-O senhor poderia me ajudar?
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A dona atravessa a rua e vai para o ponto de ônibus.
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O dono do carro se lembra que deixou seus óculos escuros na
casa do filho. Volta lá para pegá-los e retorna pelo mesmo caminho.
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A “passadeira” o aborda novamente sem reconhecê-lo.
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O motorista fica bravo e pede seus cinco reais de volta.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com
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