segunda-feira, 28 de maio de 2012

CONTOS DO MUNIR 87


VIAGEM AOS ANDES:
A CIUMENTA, 
LOS PERROS 
E A ESPIÃ
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Já não havia muito branco, ainda assim o espetáculo era maravilhoso, nossa altitude era de aproximadamente onze mil metros, o diferencial para o solo nos aproximava bastante das montanhas detalhando suas escarpas, os diversos matizes de marrom, os lagos azul acinzentados e a pureza da pouca neve. Dava para lembrar o hino nacional chileno:
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Puro, Chile, es tu cielo azulado,
puras brisas te cruzan también,
y tu campo de flores bordado
es la copia feliz del Edén.
Majestuosa es la blanca montaña
que te dio por baluarte el Señor,
Y ese mar que tranquilo te baña
te promete futuro esplendor.
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Foi assim que me saudou o simpático motorista Felipe que me levou ao hotel.
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O primeiro contato com “los perros” se deu no aeroporto, cães extremamente adestrados, pastores e weimaraners corriam freneticamente a fuçar as malas tão logo entrassem nas esteiras. O policial, por eles responsável, pouco intervinha, tal o adestramento que tinham. Aparentemente, a droga fiscalizada deveria ser de procedência dos EUA, o vôo do Brasil não teve cães.
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A procura dos recém-chegados ao hotel, pela Internet foi imediata. Um turista brasileiro iniciou sua leitura de e-mails, sem perceber que sua mulher havia se posicionado atrás dele, iniciou sua navegação indiscreta. Foi interrogado:
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        - O que você tá vendo?
        -Nada não, mudando a página.
.Sua companheira afastou-se e ele retornou sua leitura.Dessa vez, ela veio bem em silêncio. Foi traída pelo seu perfume e a página novamente virada. A interrogação veio em forma de bronca: Eu vi você mudando, o que está escondendo?
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-E o cara, zangado: Não interessa a você!
Ela, mais brava:
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- Vou para o Shopping! Até mais.
Mais tarde encontrei os dois, já em paz.

Segundo contato com los perros:
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Nas ruas de Santiago, os cães andam soltos, abandonados por seus donos, um labrador ficou ao meu lado na calçada, um pointer se juntou a ele e parados ali ficamos. Quando o sinal abriu, atravessamos juntos. Da outra calçada um terrier cruzou a rua.
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A mim, disseram que antes os cães eram recolhidos a uma tal de Perreria. Uma ONG protetora dos Direitos dos Animais conseguiu que eles ficassem em liberdade. São mais de 200.000, só em Santiago. Só são recolhidos para vacinação quando existe um surto de raiva, o que raramente ocorre. Embora sejam grandes, são mansos, sabem evitar serem atropelados, mas ainda não usam banheiros. Como o clima é seco o efeito nas solas dos sapatos é minimizado. Eles parecem procurar um dono. Um deles me seguiu durante bastante tempo até que voltasse para o hotel. Quando sai novamente, ele ainda estava na entrada. Era um Weimaraner de olhos verdes. A baiana Silvana, do quarto 212, também tinha olhos verdes.
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A PROVÁVEL ESPIÃ RUSSA.
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Disse que se chamava Natasha, nascera na Hungria e fora educada na antiga União Soviética. Aproximadamente menos do que cinquenta anos, morena, olhos claros, porte esbelto, 1m 65, vestindo calças Jeans, blusa e casaco branco, economista em um banco canadense.Integrava o City Tour, levava duas câmeras digitais com teleobjetivas e parecia fissurada em fotografia. Falava espanhol, inglês, mandarim, francês e, naturalmente, russo. Achei estranho que suas máquinas apontassem, além dos pontos turísticos para objetivos estratégicos, instalações militares e navios de guerra.Parece que notou que eu a observava, aproximou-se perguntando em russo qual a minha nacionalidade. Não falo russo, mas entendi o que ela disse, respondi em inglês, ser brasileiro, oficial da Marinha de Guerra.
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Como estávamos sós,(Nicole desistira de ir comigo, alegando ter um Congresso e a viagem coincidir com o Dia das Mães) passamos a conversar amenidades em inglês. Às vezes, me perguntava sobre a Marinha de Guerra Brasileira, quando ficaria pronto o submarino nuclear, se nosso porta-aviões estava operativo, comentários sobre pontos turísticos e novos questionamentos: Se o Comando Sul dos Estados-Unidos já havia estabelecido sua base militar no Brasil como fizera na região de Valparaiso, com a alegação de ser uma base para treinamento das Forças de Paz das Nações Unidas. Se eu sabia como operavam nossas centrífugas de urânio.
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Passei a ser parte de suas fotos, aparentemente era eu o objeto de suas câmeras, o fundo era sempre um complexo militar, uma fragata chilena ou um submarino.
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Combinamos que ela me enviaria as fotos por e-mail, as de pontos turísticos recebi, as outras não.
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Natasha disse que nas próximas semanas iria à Argentina, ao Peru e Venezuela. Iria visitar sua mãe que estava em Maskvá (Moscou), regressando ao seu emprego no Canadá.
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Semana passada, recebi um e-mail dizendo que talvez venha ao Brasil para o carnaval e gostaria que eu fosse seu guia turístico.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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