quarta-feira, 16 de outubro de 2013

CONTOS DO JOSÉ FRAJTAG 001/2013


O CHECK-UP
CAPÍTULO I
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       Fazia três dias que eu me sentia mal. Isso começou logo após eu completar 39 anos. Nunca tinha ido a médicos, pois minha saúde era perfeita. Atribui aos excessos cometidos durante as comemorações. Foi  excesso simplesmente de tudo: Muita comilança e bebida com os amigos e também muito sexo com minha namorada. Já havia ligado para o escritório de arquitetura onde trabalhava e avisei que iria faltar. Liguei de novo no dia seguinte, pois o mal estar havia piorado e avisei que eu iria a um médico. Não me criaram problemas.
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       Ao tomar o meu café da manhã, ainda não havia ainda escolhido o médico e vi na TV uma propaganda de check-up grátis só para moradores nascidos nos arredores da Praça Do Lido, e ao ler o meu jornal, vi a mesma notícia com mais detalhes:
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CHECK-UP GRÁTIS!
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Só para homens com idade entre 38 e 40 anos!.

Nossa empresa numa excepcional promoção, através de sorteio, selecionou os arredores da Praça Do Lido, no Rio de Janeiro e pessoas nessa faixa de idade para receberem totalmente grátis um completo check-up. Apresentem-se os interessados que tiverem exatamente as características abaixo:
Homens, brancos, cabelos negros, com idade entre 38 e 40 anos completos, que tenham nascido na região da Praça Do Lido, no Rio de Janeiro e que estejam com sintomas de dor de cabeça, enjoos, cólicas estomacais e diarreia, com ou sem vômitos. Atenção! Não vá a médico e venha fazer o exame conosco, de graça.  Serão atendidos os primeiros 50 pacientes, que telefonarem para o numero abaixo por ordem de chegada, que receberão nosso endereço. Vejam no nosso site as fronteiras exatas da região selecionada.
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          Achei muito curiosa essa especificação, mas eu por coincidência estava passando mal e me enquadrava em todos os outros quesitos precisamente. A rua onde eu havia nascido, a Duvivier, estava dentro dos limites determinados. Chequei em um site de reclamações se havia algo contra a empresa, mas nada vi contra. Telefonei imediatamente. Para minha surpresa, fui um dos primeiros a telefonar e me forneceram o endereço para eu ir fazer o exame inicial imediatamente e fazer um check-up na semana seguinte.
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          Fui direto ao local marcado e já havia uma multidão aguardando na minha frente. Mas rapidamente fui atendido. O médico fez um exame de sangue, cujo resultado saiu instantaneamente. Fui diagnosticado como tendo uma indigestão leve. Ele me deu um frasco com umas pílulas e nada mais, para tomar duas vezes ao dia junto às refeições e que retornasse em dois dias.  No dia seguinte eu já me sentia bem melhor, com os sintomas já tendo praticamente desaparecido. Voltei a trabalhar normalmente e caiu em minhas mãos resolver um difícil projeto que já tinha passado pelas mão de todos. Ninguém havia dado ainda uma solução.
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        Retornei como foi pedido e o médico me disse que meu exame mostrava alguns números fora do comum, mas que no histórico médico só pessoas com uma saúde excelente apresentavam. Disse que no check-up fariam nova avaliação. Pediram-me que colhesse em casa urina e fezes. Para isso me deram dois potinhos.
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         No dia do check-up, completamente recuperado, compareci na hora marcada e lá já estava como da primeira vez a maioria dos outros candidatos. Para meu alívio, havia de novo uma grande equipe de médicos nos aguardando e em minutos chegou a minha vez.
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         O atendente me perguntou o nome da rua em que nasci, e nome dos pais. Eu disse logo que foi na Duvivier, dei o nome de meus pais e informe que ambos já haviam falecido. Ao ouvir essa afirmação, deram-me os pêsames secamente e imediatamente fui passado logo para outra sala, onde preenchi um formulário enorme. Feito isso, fui ainda a uma terceira sala onde começou o check-up propriamente dito e que foi bem completo. Lá entreguei meus potinhos, fui pesado, medido, coletei sangue de novo, esperma, DNA com cotonetes esfregados em minha boca, amostras de cabelo e pele. Fiz exames de raios X, eco cardiograma, eletroencefalograma e até ressonância magnética de minha cabeça, além de um tratamento dentário completo.
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      Os resultados saíram de novo, apenas minutos após, até para os exames mais complexos e não dias como normalmente acontece. Fiquei perplexo! Passei para uma ultima sala onde fui entrevistado por uma linda jovem que se dizia psicóloga e que me fez uma avaliação mental.
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      Ai neste momento entrou mais um avaliador que me informou que dentre os 50 eu havia sido um dos selecionados para receber uma grande informação.
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CAPÍTULO II
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     Após a avaliação mental a psicóloga me disse que eu era um dos descendentes de uma raça de extraterrestres de Pitar, o quarto planeta da estrela Tau Ceti, que eles chamam de Brin. Esse mal estar já estava programado como um relógio e que iria ocorrer exatamente quando eu atingisse meus 39 anos. Era o grande truque que havia sido planejado para depois de tanto tempo encontrar todos os 50 Pitarianos que haviam sido gerados. Não houve sorteio algum, pois todos os Pitarianos haviam sido “plantados” no mesmo dia e todos na minha rua. Alguns provavelmente haviam morrido ou saído do país, mas havia 40 remanescentes. Havia sido feito um chamado internacional e assim outros ainda poderiam ser achados.
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      Foi ai que apaguei. Além de uma reação psicológica mais do que normal após esse choque, com certeza eu havia sido drogado. O fato é que quando acordei já haviam se passado dois dias.
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      Minha mente estava embaralhada. Reclamei e me informaram que enquanto eu dormia, puseram montes de informação no meu cérebro e fizeram alguns melhoramentos no meu corpo, que só começariam a fazer efeito aos poucos ao longo de alguns dias. Pedi para avisarem ao meu escritório, pois não queria perder o emprego.
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       Fiquei mais dois dias para observações e orientações da linda psicóloga. Eu passei a suportar as novidades chocantes e então me liberaram, com um manual de instruções escrito em uma língua desconhecida. Avisei que nada entendia, mas eles me disseram para não me preocupar, pois que em alguns dias eu iria entender tudo. Perguntei ainda antes de sair por que haviam escolhido a minha rua? Responderam que foi devido apenas a uma escolha aleatória em uma cidade como a nossa, com mulheres saudáveis e cuja segurança era zero naquela época. Isso facilitou muito a operação.
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        Foi muito estranho, pois pouco a pouco, ao longo de duas semanas aquele texto que era absolutamente ininteligível para mim, agora parecia ser escrito em minha língua natal, dando-me instruções de como deveria proceder dali em diante. O texto dizia que eu ficaria muito forte, um verdadeiro atleta, mas que nunca me passasse pela cabeça em tirar proveito disso, pois se algum médico me examinasse teria o maior choque de sua vida e ficaria desconfiado. O corpo de um Pitariano tem algumas “pequeninas” diferenças se comparado como o dos terráqueos. Temos 36 dentes, nossos corações ficam do lado direito e as pontas de meus dedos atingem meus joelhos, isso só para começar! Texto dizia que um Pitariano em média vive 170 anos, para os machos e 190 para as fêmeas e mantem a aparência jovem e a resistência física até o fim.
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        Realmente em mais alguns dias, notei que me sentia bem mais forte e mais disposto. Eu que nunca havia feito muita ginástica comecei a ficar com a musculatura bem definida, com barriga tanquinho, onde antes havia uma barriga de chope.
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       Para me testar fiz duzentas flexões com a maior facilidade quando normalmente eu fazia no máximo umas dez. Na minha sala, peguei o tampo de mármore de uma mesa com uns 100 kg e o levantei com a maior facilidade.  Ao me olhar no espelho tive uma surpresa, meus fios de cabelo branco também pouco a pouco sumiam junto com minhas ruguinhas, deixando meu rosto bem liso. Eu estava realmente mais jovem. Fiquei achando que eu tinha me tornado o Super-Homem e tentei voar, sem resultado, para minha grande decepção. Fui ver se tinha me tornado invulnerável e me cortei fazendo a barba. Visão de raios x? Nem pensar, no entanto percebi que minha inteligência havia melhorado muito. Fiz um teste de QI e deu 180!!! Eu já havia feito anteriormente e já era muito bom, em torno de 140 e agora eu superava Einstein com folga.
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        Foi aí, que magicamente aquele projeto de arquitetura bem problemático, que estava atormentando a mim e ao escritório inteiro havia semanas, surgiu do nada na minha mente e totalmente resolvido. Era uma comprovação prática de meu novo QI. Sentei-me ao computador e no CAD corrigi a planta enviando os resultados para o escritório. Meus patrões ficaram maravilhados, pois o projeto ficou genial.
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       Tive também uma estranha compulsão para ler tudo sobre Física quântica e vi que para mim agora era muito fácil. Consultei o manual e lá estava essa recomendação, mas sem explicar o motivo. Nós precisaríamos usar esses conhecimentos em algum momento, não sei ainda para quê! Encomendei vários livros sobre o assunto e quando chegaram li todos em apenas meia hora.
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       Minha vida deu uma violenta guinada e várias coisas boas me aconteceram, porém muitas passaram a me incomodar: Até ontem eu era um membro da humanidade, mas agora dia a dia passei a ver e sentir os terráqueos como inimigos. Desculpem-me, mas chego a ter nojo de vocês, mas eu sou um Pitariano, um alienígena e esse ódio foi inoculado na minha mente. O manual da organização pediu e tive de largar meu emprego, pois precisavam de muita ajuda e eles não querem que trabalhemos para vocês “os inimigos”. Meus patrões e meus colegas não entenderam, pois já haviam resolvido a me dar um bom aumento. Mesmo assim fiquei feliz, pois a presença de meus patrões e dos colegas passaram de um momento a outro a ser insuportáveis para mim.
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       Passei a trabalhar para a organização como arquiteto mesmo, orientando-os na compra de alguns edifícios de escritórios e administrando as reformas, com uma mesada tão boa quanto o salário que perdi. Rompi com minha namorada, pois passei a odiá-la e agora estou saindo com Rita, a psicóloga que é Pitariana. Descobri que ela, linda como é e aparentando ter só uns 25 anos, na realidade tem 60 aninhos!!! Isso confirma que vou viver muito também, com aparência jovem, desde que não sofra acidentes. Nosso relacionamento tem tudo para dar certo, pois mesmo que eu quisesse outra namorada não há opções. Não há outras Pitarianas solteiras e as terráqueas não me atraem mais. Não há também “Ricardões” Pitarianos. Eu soube que geralmente nós Pitarianos nos damos muito bem no decorrer de nossa longa vida.
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       O restinho de amizade que ainda tenho com vocês, afinal foram 39 anos de ótima convivência, me faz avisá-los: Cuidado gente! Suspeito que eu e meus conterrâneos devemos fazer algo muito sério contra vocês. Ainda não sei o que será, mas aguardem! Como diz o humorista terráqueo Woody Allen- “Vocês podem não saber o que vai acontecer no futuro, mas tenham sempre uma mala pronta, com muitas cuecas limpas”.
Autor: José Frajtag
E-Mail:josefrajtag@ymail.com


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