A MULHER SOLITÁRIA 1
(Pobre)
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Luiz estava com seu cachorro em um banco na
pracinha do final do Leblon. Manhã de sol, pouco vento, dez horas, Luiz e seu
cão Zug gozavam as delicias do vento leste que vinha do Arpoador. O Zózimo
imóvel, em pé ao lado de sua máquina de escrever portátil, contemplava as
pedras daquela ponta, onde, a quatro quilômetros, se sentava também em um banco
de madeira seu colega Millor.
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Luiz tirou a camisa, queria aproveitar o calor e os
raios solares que catalisavam e fixavam o cálcio e a vitamina D que tomara no
pequeno almoço.
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Zug, um Cavalier King Charles de pelagem branca e
castanha, já cansado de brincar, dormitava aos seus pés.
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A mulher vestia um camisolão escuro de listas
brancas horizontais, devia já estar passando dos quarenta, parecia ter saído da
cama e esquecido de tirar o pijama, havia enrolado a parte debaixo que se
soltara, e agora as calças brancas apareciam. O par de sandálias havaianas de
cores diferentes completava sua figura esdrúxula.
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Sentou-se ao lado de Luiz, morena quase
escura, rosto, porte e vestes denunciavam sua origem humilde. Passou o braço no
encosto do banco, sua mão quase tocava o ombro do dono do cachorrinho. Dava
para sentir o cheiro de alho e cebola. Perguntou se ele era bonzinho, diante da
resposta afirmativa começou a brincar com ele.
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-Eu queria tanto ter um animalzinho para me fazer
companhia, sou muito sozinha, moro no Vidigal, minha madrinha e minha tia moram
aqui no Leblon. Tenho um menino, vim trazê-lo para a escola, agora vou voltar
para casa e ficar eu e minhas panelas. – disse.
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...e continuou:
-O senhor não deve ser sozinho não. Deve ter sua
esposa. A mão dela, cada vez mais perto de Luiz. Deus me livre! Não quero tirar
o homem de ninguém. É muito feio! Não tive nem tempo de me arrumar, estava
atrasada!
Luiz teve receio de dizer que era viúvo!
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- Desculpe, estou com vontade de urinar. Não posso
fazer xixi nas calças não! Vou fazer lá na água, e depois eu volto.
Desceu pelas pedras e foi caminhando em direção ao
mar. As ondas estavam batendo, banhistas pegavam ondas em suas pranchas.
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A mulher entrou mar adentro até a cintura. Uma onda
mais forte a derrubou, não conseguindo levantar-se começou a perder o folego.
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Os surfistas perceberam e vieram em seu socorro,
levando-a para a praia.
Luiz levantou-se, voltando para casa, Zug, olhando
para trás, puxava-o para ficar.
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A dona encharcada, ao vê-los indo embora, ainda
gritou:
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- Amanhã eu volto mais bonita!
Autor:
Munir Alzuguir
E-Mail:
alzumunir@gmail.com
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