sexta-feira, 14 de agosto de 2009

CONTOS DO MUNIR - 4

VALEU NOSSA SENHORA

Foi no tempo da Flotilha de Submarinos, no tempo da antiga classe T, submarinos vindos da Itália, anos antes da Segunda Guerra Mundial. Eram o Tamoio, o Timbira e o Tupi. Ainda tinham canhões no convés da proa e duas metralhadoras, mais ou menos portáteis, que eram montadas na torreta.

Apesar de haver banheiro e cozinha no interior do navio, o fogão e o sanitário externos situados no convés, logo abaixo da torreta, eram mais usados por facilitar o conforto no interior do navio. Além disso, o vaso interno precisava ter manobra de válvulas e uso de bomba manual. Acrescente-se o fato de o pessoal querer ir ao banheiro, na verdade, para tomar um arzinho no convés.

Na parte externa da torreta, parte mais alta do Classe T, ficavam o Comandante, o oficial de serviço e um ou dois vigias. Logo abaixo, enquanto o rancho estava sendo preparado, ficava o cozinheiro. Era impossível não sentir sua presença pelo forte cheiro exalado pelos deliciosos bifes. Como estávamos em paz, não se mergulhava até que a comida estivesse pronta.

Para o acesso ao banheiro, era obrigatória a permissão do oficial de serviço, por medida de segurança e para seu conhecimento de que havia mais alguém no convés.

Terminado o almoço, o comandante do Timbira desce pela escotilha da torreta, dá a ordem de mergulhar, o oficial de serviço aciona o alarme de imersão, os vigias se precipitam escotilha abaixo logo seguidos pelo oficial de serviço, responsável pelo fechamento hermético da escotilha.

No compartimento de manobra e em outros compartimentos, providências eram tomadas, tais como aberturas de válvulas superiores (suspiros) para permitir a saída do ar contido nos tanques de lastro e conseqüente entrada de água para que o submarino pudesse mergulhar.

Acontece que dessa vez o Timbira não quis descer de jeito algum. Por mais que o tenente colocasse água nos tanques de compensação, a máquina a toda a força e todos os lemes para baixo, o Timbira teimava em não obedecer às ordens de seu Comandante.

O comandante resolveu parar a imersão e voltar à superfície*. O oficial de serviço é o primeiro a subir, abrir a escotilha, verificar o horizonte e dar prosseguimento às manobras.

Para sua surpresa, abraçado ao periscópio com braços e pernas, já todo encharcado, estava o taifeiro despenseiro do Chefe da Flotilha a balbuciar:


- VALHA-ME NOSSA SENHORA! VALHA-ME NOSSA SENHORA!

*A razão de o Timbira não conseguir imergir foi conseqüência da quebra de uma haste de comando de uma válvula superior (suspiro) no compartimento de torpedos a vante (talvez por ordem de alguém lá de cima), o que tornava impossível o mergulho.Voltamos para a Base. Todos muito impressionados. Mais tarde o despenseiro explicou que estava muito apertado e desceu direto.
O Comandante do submarino Timbira era o CF Max, o oficial de águas o Ten Munir embarcado no submarino Tamoio e destacado no Timbira.

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