domingo, 2 de agosto de 2009

CONTOS DO MUNIR - 2

A LUZ AZUL
A luz azul , ninguém sabe de onde veio. Tinha um brilho intenso, quase sobrenatural, parecia uma pedra preciosa. Muitos marinheiros foram apreciá-la e ficavam imaginando, com espanto, o mistério de sua criação.Não apareceu no mar nem no céu, nem por isso foi menos admirada. Na verdade surgiu dentro do contra torpedeiro, em um dia de muito sol e de mar tranqüilo, durante um exercício de adestramento. Creio que o primeiro a observá-la foi o sargento eletricista Jesus que, apesar do nome, era muito supersticioso e, na ocasião, era o supervisor dos motores elétricos na praça de máquinas, naquele tempo chamada de Bala-4. O Jesus era um bom eletricista e, no inicio, pensou tratar-se de um curto-circuito. Depois afastou essa hipótese ao perceber que todos os medidores estavam normais, nenhum fusível queimado e nem cheiro característico. A luz continuava lá no fundo, bem ao lado de um dos eixos principais.O Jesus começou a ficar preocupado, principalmente por estar sozinho e se comentar que o pessoal do Veleiro Almirante Saldanha teria tido um contato com um Disco Voador. Telefonou já meio assustado para o chefe de máquinas e depois para ooficial de serviço no passadiço que avisou ao Comandante. Foi difícil para o chefe descer na Bala-4. A essa altura a notícia se havia espalhado pelo navio e a praça de máquinas estava lotada de marinheiros querendo ver a misteriosa luz azul. Como a luz só podia ser vista por determinados ângulos, alguns marinheiros se sentiam frustrados por não enxergá-la. Os que a viam se julgavam privilegiados e, como estávamos em dezembro, alguns chegaram a associar o seu aparecimento ao sargento Jesus, que, já aflito e nervoso pediu para dar um pulinho na enfermaria. Afinal, o chefe de máquinas conseguiu chegar mais perto da luz: era um pontinho com um brilho vivo, muito semelhante ao de uma pequena água marinha. Parecia uma daquelas lâmpadas minúsculas de enfeitar árvores de Natal. Intrigado, o chefe calçou luvas grossas de borracha e com um pedaço de madeira, procurou alcançar a luz azul que desaparecia toda vez que elea tocava.A princípio foi custoso identificar e trazer para a realidade a confirmação de que a luz azul era apenas o mar penetrando, com sua claridade, por um pequenino orifício aberto por corrosão galvânica. Naquela época os oficiais usavam, para anotações, os antigos lápis Fáber; as canetas esferográficas eram raras ou não existiam. A luz azul, autêntica água-marinha, foi apagada, que pena! com um lápis que serviu de batoque para vedar a entrada do mar no porão da Bala-4.
NOTA: Eram oito contratorpedeiros todos com nomes iniciados pela letra“B” recebidos dos Estados Unidos na Segunda Guerra. A propulsão era Diesel-Elétrica tinham quatro praças de máquinas, duas para os motores diesel e duas para motores elétricos. O fato se passa em uma das praças de eletricidade, mas precisamente no sistema de refrigeração e aproximadamente cinco anos após o termino da guerra. Uma canalização de ferro galvanizado foi substituída por cobre e bem próxima ao casco do navio. A ação galvânica ocasionou a corrosão.

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