domingo, 17 de janeiro de 2010

CONTO DO MUNIR - 26

Raimundo Nonato Junior

Raimundo Nonato era do Rio Grande do Norte. Daquele tipo exportação que o Nordeste manda para o Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Grandalhão da cidade de Caicó.

No tempo em que essa história se passa, Raimundo era cabo MR, (de marinharia) servindo a bordo do submarino Riachuelo como auxiliar de convés e ajudante do contramestre da divisão de torpedos.

Era um bom marinheiro, sempre pronto para as fainas pesadas. Extremamente disciplinado, alegre, bastante querido pelos oficiais e por seus companheiros. Foi o primeiro aluno do curso de especialização de submarinos. Havia completado o segundo grau, falava razoavelmente inglês; quando o navio não estava em viagem, freqüentava a Cultura Inglesa.


Na época da cerimônia da coroação da Rainha Elizabeth, o cruzador Barroso foi designado para representar o Brasil.

O primeiro porto de escala do Barroso foi Salvador.
Coincidiu de estar naquele cais o submarino Riachuelo

Tempo bom. Céu claro, cerca de 16:00, horário de licença, uniforme branco, oficial de serviço no convés do submarino.
Meia hora depois, oficiais, suboficiais, sargentos e marinheiros, com raras exceções, já haviam baixado terra.


Raimundo Nonato Junior apresenta-se ao oficial de serviço. De uniforme de licença, impecável, com a caderneta de anotações de carreira, saco de viagem para desembarque e maca ferrada.

O oficial de serviço era o próprio encarregado de sua divisão. Não tendo tomado conhecimento de nenhuma ordem de movimentação, pergunta surpreso ao Raimundo Nonato para onde estava indo. Muito sério o Raimundo Nonato explica:- para o Barroso a fim de visitar meus pais que são ingleses e que não vejo há muito tempo.

O tenente, percebendo que algo não estava batendo certo, pede ao marinheiro a caderneta; diz para aguardar, enquanto vai falar com o Imediato.

O Imediato, por sua experiência ou por ter vivido situação semelhante, manda chamar o Raimundo. Depois de uma longa conversa, aparentemente concordando com tudo que o marinheiro lhe conta sobre a saudade de seus pais ingleses, morando em Londres, fala para o Raimundo que o cruzador ainda iria levar muitos dias até chegar à Inglaterra. Se ele não preferiria ir de avião no dia seguinte; manda o Raimundo voltar ao alojamento, o que ele docemente aceita.
Bem cedo, na manhã seguinte, pára no cais o carro do Diretor do Hospital Naval de Salvador. O próprio Diretor e o Imediato do submarino vão buscar o Raimundo Nonato Junior.
Seguem para o aeroporto, onde o Raimundo Nonato embarca, acompanhado por um sargento enfermeiro que seguia de férias, em um avião da Força Aérea com destino ao Rio de Janeiro.
Infelizmente, ele não viajou para Londres, como era seu sonho.

Foi diretamente internado na décima primeira enfermaria do Hospital do Arsenal de Marinha curar o seu delírio.

Anos mais tarde, aquele tenente, ex-chefe de divisão do Raimundo na época do episódio de Salvador, alcançava o posto de capitão-de-corveta.Servindo fora da Força de Submarinos por algum tempo, retorna designado imediato de um novo submarino construído na Inglaterra.
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O Raimundo Nonato Junior, agora suboficial MR, é o mestre do navio, fez parte da primeira guarnição e é o primeiro a saudá-lo com o toque de apito de Imediato a bordo.

Um comentário:

  1. Ei, Munir !
    Já voltou?
    Como encontrou tudo por aqui?
    um abraço
    Paulo Adolfo

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